terça-feira, 4 de agosto de 2009

E cade o resto Fernanda?

Sumiu tudo??
Sumiu nao!
Sabe aquele dever de casa de artes que a gente fazia um disco, dividia em pedacos, como fatias de pizza, pintava cada canto de uma cor e rodava... para descobrir que cor era a juncao de todas as cores... pois... era branco.
Nao faz mais sentido para mim colorir caos... por mais que ache esse nome interessante e curioso para um blog... passei de ano e agora vem uma nova serie...
Os posts antigos foram quase-cuidadosamente selecionados e viraram um e-livro chamado: Ela coloriu o caos! Rs! Para quem acompanha o blog e quiser adquirir o seu exemplar (com capa e dedicatoria e tudo!) me manda um email : milanunez@hotmail.com que eu mando. O preco modico è me responder: Qual a sua cor preferida?

È isso!!

Seja bem vindo. A casa è sua, pode entrar:

acasadeemilia.blogspot.com

domingo, 2 de agosto de 2009

E enfim o branco
que é a mistura de todas as cores.



segunda-feira, 1 de junho de 2009

na porta daquela casa
de parede azul
de janelas laranjas
nasceu um pé
de amor-sincero
não se sabe quem plantou
quem regou
quem viu crescer...
mas está ali
não se pode negar
não seria capaz de escrever algo tão doce
algo tão bonito
como os seus versos tolos...
talvez só a nossa história.
se a gente escrevesse junto...
talvez ela e apenas ela...
Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.
(Alberto Caeiro)

Virar homem

O pequeno menino lobo, meu querido peter pan...
Como vai você?
Te vejo sempre quando ainda tenho sono... e você parece tão desperto... ali, na primeira fila, ali, atento.
Mas eu te vejo e demoro de te reconhecer...
Onde você foi morar? Mudança... Sei como é morar na mudança...
Cortou os cabelos, escolheu bonitos óculos, roupas que cobrem bem o corpo, escondem qualquer indicio...
Onde anda você, menino?
Onde é que você mora agora?
Ali dentro... quando eu te escuto...só quando você sai de dentro de você. Só quando você canta e mesmo assim... até sua canção mudou.
Você me diz:
Escolhi ser homem.
Mas tu é mesmo e sempre foi, querido, um homem de família...
seu rosto
o que aconteceu?
foi o tempo
envelheci
como antes, as vezes
muitos anos em um só momento.
em um só lamento
lembra?
eu me perdi uma vez
e ainda não descobri como chegar lá
seu corpo ia se amoldando
parecia até que derretia
era bom
o sol apareceu
chove só de pirraça.
sem promessas.
sem apego.
sem conversas.
sem seu beijo.
com a força do desejo.
com a falta de quem existe.
segue o dia
vence o vento.

O interior do meu avô

- Trás um requeijão
- E uma goiabada
- Trás um bolo de rolo
- Trás uma marmelada
- Não tem essas coisas lá não...
- E tem o que?
- Só lembro mesmo da cereja e dos morangos. Mas deve ter algum doce. Eu trago o que tiver.
- Onde é mesmo que você vai? E fica onde?
- Pro interior do meu avô..

Ainda tá longe, longe...
ele me pergunta apreensivo:
- E você vai comer o que lá Milinha?
- Eu aprendi a fazer caldo galego vô.
- E tem tortilha de batatas.
- Vô, voce lembra daquela vez que me disse o quanto era mais fácil rir do que chorar?
- Lembro não, filha, lembro não. Mas lembro que voce gritava na roda gigante: Medo não existe! Medo não existe! Era tão pequeninha... com aquele cabelo de ninho de moribundo... E eu tremendo de medo segurando sua mãozinha.
Almoço

(lembrar de escrever)
Não.
Esse não é meu plano.
Sem acordo por enquanto.
Até o dia que o único acordo será um acorde.

Acorde...
Divago seu nome
é estranho
não sei explicar
mas faz graça na boca
faz graça só de pensar.
Escolha

És colha

Ser Colher

Escolher

É inevitável... um ser é um não ser.

O que você faz você colhe...

Seja o que for... seja com amor.
junho

levanto mais um folhinha.

domingo, 31 de maio de 2009

Marcha soldado

Marchinha Sa(l)dade

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Um dia.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Carlos foi meu primeiro amor
Carlos morreu
Morreu velhinho
E eu o amo sem pensar nas rugas
E até achando bonito tantos anos impressos no rosto
Sem lembrar dos óculos
e os vestindo para ler seus poemas
Sem o ver grisalho
Mas o sabendo, branca neve
Carlos morreu velho,
ficou fraquinho
um franguinho miúdo
E eu o amo
com o amor que só se devota
aos poetas
Ficaria horas, dias, uma vida
Amando Carlos
Carlos foi meu primeiro amor
Se se chamasse Raimundo
Talvez não o fosse.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Barulhinho bom!
A sensação impressa no corpo...
sempre presente.
É tempo de tangerina!

De cama II

E juntos voltaremos a girar...
Meu bem,
o mundo não precisa de nós
Só do seu eixo e do seu tempo
Somos meros coadjuvantes nessa peça de rodar...

(Nós precisamos ficar sós...
Sem tempo, sem eixo, sem medos, sós
E o mundo mero coadjunte na nossa peça de amar.)

365 dias para uma volta inteira.
O tempo é relativo...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

- Mila, vou fazer um mingau para você.
- Oh vô... eu não tô me sentindo bem... vou para Busca... pedi para meu pai me pegar.

20 minutos depois.

- Come Milinha... tá bom! Olha só...não tem como fazer mal!
- Oi pai, não precisa mais vir... vou ficar em casa.

Vou ficar em casa...

Lembro

Com algum atraso
Me questiono o que descia no mar naquela noite
Aquele céu bem escuro e depois clarão
As mãos na areia
A noite bem cheia, sem lua
No inesperado
de uma voz que eu quase não conhecia
Mas que de mim sabia cada linha.

De cama

O corpo reclama
Incendeia
Dói
A boca fica vermelha, a bochecha fica vermelha,
os olhos querem fechar
Eu pulo da cama
Não gosto de remédio
Não gosto de cama
Mas o corpo manda
O corpo manda
deitar de novo
O corpo manda esperar mais um pouco
O corpo reclama
Eu me deito

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Circo

Ele atende. Sai de perto das crianças. Agora é assunto de gente grande.
Vamos lá. Do ponto de vista subjetivo não posso opinar muito. Mas posso falar sobre o operacional... a logística. Disso eu entendo.

(...)

É como em um trapézio. Você está balançando, pêndulo, de um lado para o outro. Se você vai se jogar.... Ao menos arme a rede de segurança... ou então você vai cair no chão, e, parece que machuca.

O espetáculo das trapezistas, contorcionistas, equilibristas...

palhacinhas que fazem graça do que sentem...

Cores

Brincar de misturar
E o que é que dá?
Barquinho de papel
dissolvendo no rio que transborda
1.500 pessoas estão sem teto
E o céu
Abrigo dos poetas
está caindo
gota a gota
sobre nossas cabeças
Olha o tamanho e a forma, escolhe
Apalpa e aperta
Enfia os dedos para sacar a semente
Lambuza as mãos
Lambe a colher, só para provar
Mexe mais um pouquinho
Sente os cheiros
As texturas
As cores
Acrescenta ingredientes novos e sal a gosto
Aumenta o fogo
Tem o ponto certo
Não para de mexer
Não para
Não para
se não embola

tangerina

Tangerina
é a inspiração do pacote de biscoito.
A gente leva na bolsa.
O semáfaro. O saquinho amarelo. O moço.
Seis por cinco freguesa. Dois leva. Vá com Deus.
Tangerina é cheia de gominhos,
de sorrisos,
um a um.
Tangerina boa é tangerina de sinaleira.
Aquela que a gente enfia o dedo e sente que
dá para ir um pouquinho mais fundo
Ai tira a casca,
faz até um compartimento para guardar as
sementes e não sujar o carro.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ele
Faz artigo e faz cinema
Passa a régua, passa a trena
Perfeição não é problema
Ele
Faz música e poesia
Faz das noites um bom dia
Passa a língua e solta rima

O que ele faz de mim?
Anina?
Então.
anǐma!
passarinho é maior que passarão...
Doces tardes de Alice.
Devorar o mundo com perguntas e respostas.
Chá das cinco e biscoitos.
Perguntar as respostas.
Responder com um mundo todo...
Com mil quitutes,
um grande bolo!
Mil formas de ser
Ser, apenas
Lamber os dedos
Bem mais que comer
A mesa farta...
Uma tarde doce, uma tarde com Alice.
não é poeta quem sempre diz a coisa certa

Top Top

- Tá fazendo o que Milinha?
- Tô separando umas músicas, vô!
- Ahhhhhhhhh.... Nirvana... É bom? É do curso de meditação é?

TOP TOP - Topa?!

Feu Veiga e Emília Nunez - Flauer on the rocks!

Nosso set vai ser bem diversificado, levando em conta as referências que convergiram na estrada da Flauer e as pessoais também. Indo de clássicos do Rock como Nirvana, Janis Joplin, The Cure, Smashing Pumpkins, até a música brasileira com Mutantes, Tom Zé, Caetano, Mombojó. Passando pelas bandas com meninas como Elastica, Sleater Kinney, Butchies, Breeders, L7, até os nomes mais atuais como Cibelle, Kate Nash, Paris Combo, Aurevoir Simone, Pretty Girls Make Graves, Belle et Sebastian... E muitas cositas dançantes!

FLAUER
A Flauer é uma banda de Salvador formada no final de 2003, cujas influências passam pelo rock e suas diversas vertentes e pela música brasileira sem, no entanto, obedecer a uma rigidez em qualquer desses estilos. Pronta para sacudir o esqueleto e usar toda a imaginação, a Flauer tem como proposta expressar as sensações despertadas pela vida cotidiana e os sentimentos transformando-os em música e para este propósito abusa da subjetividade das palavras e sons. Músicas em português, inglês e francês de autoria própria compõem o seu repertório atual, além de versões de músicas já consagradas, como A História de Lily Braum de Chico Buarque e Baby de Caetano Veloso. A amizade e os desejos em comum de Fernanda Veiga (vocalista) , Emília Núñez (guitarrista), Fernanda Félix (baixo), Mariana Drummond (bateria) foram os precursores do projeto inicial do que hoje é a Flauer, agora com Daniel Rebouças na guitarra e Lua Brasil no sintetizador. Pela banda passaram também Carol Petersen, Leonardo Mitchell e Marcelo Adam, todos na guitarra. "E se for dessa vez...", primeiro trabalho da banda, gravado e mixado no estúdio Casa das Máquinas por Tadeu Mascarenhas e fruto da parceria dos selos BigBross e MuvDiscos, foi lançado em 2006, contendo oito musicas próprias. E em 2007 foi gravado o primeiro clipe da banda com a música Você só mente, uma versão da letra de Noel Rosa, dirigido por Gustavo Seabra. Atualmente a banda está preparando seu novo Cd que estará disponível no segundo semestre de 2009.

Fernanda Veiga:
A Flauer foi sua primeira banda e uma ponte para estreitar a relação com a música. Tudo começou na adolescência, com influência de Alanis Morissette e em seguida de bandas de grunge como Pearl Jam, bandas de meninas como Sleater Kinney, Helium, Le Tigre e cantoras brasileiras como Elis Regina e Marisa Monte. Daí em diante o mundo da música foi se mostrando e a cada dia lhe desenhando novos caminhos e possibilidades. Hoje prefere ritmos mais leves e muita mistura, tem carinho especial por moças no vocal, sobretudo as de personalidade. Considera a mistura de ritmos um dos melhores adventos da música contemporânea. Seu instrumento é o canto, sua voz um soprano sem tanta técnica, mas com muita vontade. Atualmente na "vitrola" tocam: Cibelle, Kate Nash, Tom Zé, Bebel Gilberto, Tryo, Yael Naim, Nouvelle Vague, Ani di Franco, Novos Baianos, Mariene de Castro e Batatinha.

Emília Núñez:
Emília é guitarrista da Flauer. Tocou em outras bandas como Lucy in the Sky e Benjá. Acredita que música boa movimenta... seja o corpo, seja o sentimento, seja a imaginação e que o que vale mesmo é a sinceridade! Gosta de misturar música e poesia, música e imagens, música e chocolate... Acha que a criatividade não tem limites, que o "Faça você mesmo" é o grande mandamento das bandas alternativas e que no final se foi divertido valeu a pena! Se encanta com Chico e Andrew Bird. Dança com Strokes e Lenine. Gosta muito da tropicália e acha os Mutantes incríveis. Se emociona com Elis e Janis. Gosta da mistura. Gosta do inusitado e dos clássicos. Gosta de barulho, mas também de sutilezas. Na vitrola tem tocado: Jawbreaker, Foo Fighters, Dan Sartain,Tom e Vinicius, Pretty girls make graves, Au revoir Simone, Novos Baianos, Fiona Apple, Ra Ra Riot, Cidadão Instigado, Eddie, Rancid, Sleater Kinney e Hot Water Music.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Meditação

Gratidão.

Preciso de uma camera!

Tudo solto.

-Sara Fernandez Sotto (Sarita) - Professora - Regime de Franco - Religião - ABC, alguma coisa de geografia - Eu era bom mesmo em matemática - Era esforçado, era dedicado. Ela tinha nascido na Bahia (?!! Mundo mundo vasto mundo... se eu me chamasse Raimundo... haveria tantas coincidências???)
- 6 anos - Guerra Civil espanhola - 10 anos - 2 guerra mundial - Poucas festas nessa época. A gente sentia os reflexos da guerra. Como todo o mundo sentiu.
- 17 anos - Ferreiro - Fazia ferramentas para escavação - Na Ferrocarril.
- Não tinha rádio
- Pombo correio - Colocava a carta no pezinho do pombo, o pombo treinado!
- Jornal de Vigo
- A linha de trem foi construída na década de sessenta
- Plantavam batata, trigo - tudo que desse. dava muita coisa.
- Namoradas?! Sim... sim... tive algumas namoradas no pueblo.
- Laura ( a do meu amigo Julito!!! rs) foi minha namorada também. Mas o pessoal lá era moderno. Quando soube que eu ia para o Brasil disse que eu podia escrever uma carta, mas que não dava para ter nada sério.
- Teve uns amores. Nessa idade tem aquelas... (coloca a mão no peito). Aquela coisa que mexe mais...
- Teve uma em Campos Bezerro que mexia e que disse que queria namorar comigo. Jozefa (Lê Rozefa). Mas ela tinha namorado e o namorado mandou recado para eu não me aproximar, que ela era namorada dele. Ah... ela casou, teve filhos, netos, deve ter morrido já.
- Luiza e ___ (esqueci!) ... tiveram muitas. Tinha muitas garotas bonitas. E elas eram todas amigas.
- Mas o que eu gostava mesmo era de dançar! Eu dançava bem! Tinha o bolero, eu lembro bem, e a valsa e o passo doble e o começo do tango. Eu lembro bem! Dançava muito! Eram umas festas boas!
- E aqui no Brasil também. Era trabalho, trabalho. Mas eu cheguei com 20 anos... tinham aquelas festas, eu namorava também. Mas foi lá na Espanha que comecei a passar a linha (rs!)...
- Era bom!

O velho Benjamim é um homem bonito aos oitenta. Aos vinte... Sorri ao contar...
" Mas passa! O bom da vida é viver. Viver com alegria! Tem que ter uma ilusão... e otimismo... era muito frio no inverno e ninguém reclamava. A gente vivia aquela vida ali e era bom.
Roubou um pedaço da minha noite
Ou fui eu quem te dei o começo da minha manhã
num sorriso de quem faz sonho com o corpo?
O despertador não me faz cócegas
Me cubro, o corpo todo, para não amanhecer em baixo da coberta
A aula pode esperar, não sente sequer minha falta
Só a caderneta que lembra meu nome e marca um fê
Eu até sinto falta do professor de terno azul, cabelos cinzas...
E ele troca meu nome
Não sabe que a moça para quem ele ri na rampa, Inês
É a Emília da caderneta
Mas eu não te conto... e você não me reprova
Estamos combinados?

A lenda de Abaeté (Verão 2)

Em breve.

Para lembrar:

- Dorival tem um filho com a lagoa
- O filho cresce, cresce
- Toda vez que ele fala a terra treme
- Cresce tanto que não cabe mais na lagoa, foge
- Oxum sai para procura-lo
- O encontra chorando defronte ao mar
- Yemanjá comovida com a dor do rapaz o transforma em uma pedra
- Oxum, para não morrer de saudades do filho implora que Yemanjá ao menos o deixe cantar
- Yemanjá concede o pedido
- A pedra ronca em Itapoã

A lenda do abaeté (versão1)

"No abaeté tem uma lagoa escura."


Dorival corria nas areias alvas que faziam moldura para lagoa de Itapoã. Descia rolando nas terras brancas e caia na agua gelada, alma da chuva e dos rios , se arrepiando todo.
Olhava as lavadeiras, moças bonitas e coloridas, roupas limpas, braços fortes... se apaixonou.
Eis que um dia, correu a notícia que Maricotinha, sua pequena, tinha sido levada pela lagoa, engolida pelo redemoinho e puxada para bem fundo das águas escuras.
Desesperado Dorival correu até o terreiro e ajoelhou-se defronte Mãe Menininha implorando que lhe ajudasse a recuperar Maricotinha.
- Oxum. Peça para Oxum devolver sua amada.
No sábado, dia de Oxum, de peito liso e calça branca,capoeira, gritou alto, ressonando por toda Salvador: Erieiê ô ! Erieiê ô ! Erieiê ô !
Se jogou nas águas pretas e afundou, afundou. A Lua namorava a lagoa, deu sorte. Já no fundo, perto da areia que não se toca, nem com os pés, viu flutuando Maricotinha.
Com as flores amarelas, os espelhos e a champagne clamou para Oxum que deixasse levar de volta sua amada.
Oxum, porém, pediu algo a mais em troca.
Nove meses depois Dorival se jogou nas águas com seu primogénito no colo.
- Eis ele, Oxum. Me devolveu a amada e prometera que cuidaria do parto e o fez. É um menino bem grande e é seu.
Oxum pegou o infante no colo, sorriu e decretou.
- És homem honrado. A partir de hoje a lagoa se chama Abaeté. Toma teu filho de volta. Em troca quero que fundes uma festa, que me tragam oferendas e que leve a Bahia na voz, que será mais forte que trovão.
Dorival emocionado voltou e cumpriu todas as promessas.



*Abaeté em tupi é homem honrado.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Neutra

- Eu acho que fui neutra demais.
- Você é a medida certa...não sufoca a palavra, porém. Não sufoca o sentimento.

Respirar

Estala os dedos.


Aqui.


O agora está aqui.


Estala os dedos.


O agora está aqui, agora!


Aqui!




E sorri, rindo, de como o tempo é

Respirar

Estala os dedos.
Aqui.
O agora está aqui.
Estala os dedos.
O agora está aqui, agora!
Aqui!
O agora está sempre pronto para se vivido.

E sorri, rindo, de como o tempo é tão avesso ao que não seja agora e como, porém, brinca de picula com os estalos de dedos e palavras.
Os bebes riem 4oo vezes por dia. O que acontece na vida para aprendermos tanto, tanta coisa... e sorrirmos menos?
Eu fiquei pensando em como queria ver-la rir. Dizer que queria não era suficiente?... Havia um certo cuidado naquela interdição e eu entendia, não concordava, não gostava, mas respeitava. Não com um respeito de filha assustada... mas com um respeito de irmã que cuida. Queria tanto ver-la sorrir e brincar enquanto ela não entende... enquanto seus pés e mãos são miúdos, enquanto seu cheiro ainda é tão inocente... enquanto ela ainda se torna gente... e é agora que a gente "se" aprende, eu e ela, como sermos irmãs. Mas eu espero. Eu respeito. Eu sinto muito nos colocarem no meio disso... mas eles são os pais. E apesar de ter idade de ser mãe dela... ela tem mãe, pai, , e também tem irmãos, três irmãos... e isso ninguém pode mudar, ninguém pode adiar, ninguém pode...
Estalo os dedos. Sorriso que talvez coincida. Energia, eu acredito... O agora está sempre pronto...

domingo, 17 de maio de 2009

Seu avô tem gênio

Eu ri porque sabia que ele ia voltar... Saiu xingando alto e voltou:
-Mila, você tá ficando mal da cabeça! Filmar o que? Filmar o que? Para que filmar aquilo lá...Isso é até humilhar. Filmar a casa de pedra no chão. Para que? Para que? Você vai lá desde pequena... você já sabe toda a história. Eu nasci lá...naquela casa que caiu... você já sabe toda história. Tem coisa que eu lembro... quando eu era pequeno gostava muito dos animais... isso eu lembro... com dois anos ia no curral brincar com os cabritinhos, eu lembro que botava o dedo na boquinha deles e eles chupavam, disso eu lembro. E com cinco anos já tinha responsabilidade, não era brincar não... Era trabalhar mesmo. Eu alimentava as galinhas e recolhia os ovos. Meu pai tinha muito filho e muito bicho. Tinha que arrumar um jeito de alimentar tanta gente e a gente trabalhava, plantava muito... aquela coisa de viver junto da natureza. Mas você já sabe tudo, ora. Já sabe tudo. Porra (com muito sotaque) para que filmar? Você tá ficando maluca!Colhianos o feno, hera, chama era em galego (coloca o sotoque e estufa o peito)... e no inverno os animais comiam porque era neve por todos os lados, não tinha como sair... era muita neve. E eles quem aqueciam a casa, não tinha luz... aquecedor... nada... A primeira vez que sair de Portocamba... passei 9 dias em Lisboa... na pensao de uma velhinha...
Foi andando e falando, um sorriso leve no rosto...
- Ai vô... tem tanta coisa para a gente filmar!
- Como filmar Mila?! Como filmar?
- A história vô!
- E como voce vai arrumar os animais? E a neve? Historia é o que a gente faz aqui e agora! Aqui e agora, Mila! Você é toda diferente... toda diferente... Olha... seu avô tem gênio, seu avô tem gênio, viu?
Saiu bradando!
Se eu tivesse uma câmera no olho... meu documentário já estava pronto!
Meia hora depois ele volta, entra no meu quarto, reclama da bagunça, me chama para comer sopa...
- Você está ficando alopradinha... ri.
- Porque vô?
- Olha ai... você é toda diferente...
Lembrar de onde veio... meu avô tem gênio...

sábado, 16 de maio de 2009

sem querer

escrevi para voce.

mas juro que foi sem querer.
Até três cabe em música
Sumir por ai
Antes de sumir em mim
Sumir por ai
Antes de sumir em você.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Parece tao simples
O rosto certo, talvez
Ou o prazer de degustar as palavras
As linhas,
deixar a língua lamber cada letra antes de solta-las
Parece tão lindo
Atravessar a rua
Com o refrão nos pés
com a melodia nas mãos
com a voz dela na cabeça
É tão humano
é tão sorriso
é tão impossível, quase, de se alcançar
E ela faz ser quase nada pegar uma nota e por no lugar certo
Ela faz ser além de desejo
É num sorriso que ela canta as rosas
que ela canta o mel.
As crianças de hoje tem muita foto da infância.
É. Tem demais.
Será que a memória vai ficar diferente, Silvia?
Não sei... Eu gosto de poder esquecer algumas coisas.
Eu gosto que as fotos fazem a gente lembrar.Vamos ter um filho?
Tipo experiencia de pesquisa...sabe?
Sei. Acho que não... Só acredito na vida como acidente.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Tudo a parte

Quando Joana disse que agora queria ser só minha amiga eu estranhei. Amizade de homem e mulher é coisa tão delicada. Eu não aguentaria ver a boca de Joana falando bobagens carnudas sem me atrever a aproximar as respostas. Não necessariamente beija-la, mas quem sabe ficar bem perto, a segundos de distancia, para que ela, então, sussurrasse. Amigos.
E fomos nós, descendo as ruas, sem mãos dadas. Joana não divagava como de costume, respirava ofegante, parecia ansiosa.
Você é mesmo meu amigo?
Se você quer assim Joana, como você quiser eu sou...
Não era da minha vontade essas restrições do amor branco... mas se preferes...
Então, se posso confiar em você, não posso...
Se queres... o que quer dizer?
Você me acha bonita?
Não quis mentir. Singela. Bonita de capa de revista ela não era...
A mais bonita do mundo.
Você acha mesmo?
Não. Tinha Martinha que tinha um jeito de olhar... E tinha Luzia que parecia flutuar... e tinha... Amanda com aquela bunda e Gabriela com aquelas pernas...
Acho. A mais bonita do mundo.
Eu não acredito mais em nada... em nada.
Não entendia o que estava acontecendo ali... Olhava para o céu escuro, para os olhos turvos de Joana, olhava para o céu caindo, os olhos reflexos de Joana.
Vamos juntos, Joana, um dia passa.
Deram-se as mãos. Mas ali não era seguro.

Censura

A imaginação inventa a cena
As mãos se movimentam

Nenhum movimento
A imaginação é um mistério

A mulher não pode ser proibida
Vai onde quer, quando quer

Sem sinal aparente,
sem toques
sozinha
na sua frente.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O agora existe nos segundos
Mulher água de cachoeira
Mulher nuvem
Mulher montanha

Muro

Vigiava o muro
de Berlim
Atravessou uma flor
De uma lado
para o outro
Atrevessou um bilhete de amor
Derrubado o muro
Voltou para casa
Do outro lado da rua.

Voltaire

Posso não concordar
com uma só palavra que dizes
E defenderei, até a morte
O meu direito de contesta-las

domingo, 10 de maio de 2009

Foi só um vento . . .
Foi. Segue.
Gira-mundo!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Eu esqueço tudo III

Divido a casa com um homem de 80 anos. Na verdade ele carinhosamente me cede um lugar no seu ninho. Passarinho determinado esse. Ninho grande. Podiam aproveitar melhor. A gente fez tanta festinha aqui... tanta coisa... Mudei de quarto. Vim para o mesmo andar que ele. Milinha, você pode ir para o quarto dos armários novos. Eu gosto do quarto onde ouço o barulho dele regando as plantas. Digo que vou me mudar e continuo no quarto de duas camas. Era o quarto de quinquilharia da minha avó. Dividimos a mesa também e desde que não tenho mais ido a faculdade a noite comemos juntos e ele sempre reclama comigo, manda comer mais, comer tudo, tudo, é a maior satisfação que ele tem, me alimentar. Mas Milinha, Salmão não é bicho, é bicho morto. Ele mesmo ri dos argumentos mas respeita que eu não coma mais bichos. Mas briga e briga feio se eu não comer sopa, aimpim, inhame, fruta pão, cuzcuz... tá amarelinha. Não esquece de nada. Absolutamente de nada. Queria saber ser dona de casa para cuidar dele. Ai, meu Deus... que castigo é ficar sem Margarete. E como vai ser em Portocamba Milinha? O que você vai comer? E você sabe cozinhar? Ai meu Deus, Ai meu Deus... Estava no sofá, seis da manhã. Ele com a mão no peito, tanta dor e só saiam grunhidos. Minha Margarete, meu amor, minha mulher. Foi a cena mais comovente que já vi, talvez. Como dói ter um pedaço seu arrancado. A gente volta para casa sem um pedaço, Mila. Disse minha avó quando voltamos do enterro de meu José. As lágrimas vêm fácil quando falo dos meus avós, Lua me disse. É verdade.
Eu tenho esquecido tudo, Milinha. Ai, ficando perereca. ficando esquecido.
Pela primeira vez levei a sério. Estamos ficando íntimos de sopa...
Esquecendo o que ?
E ele me disse envergonhado, corando, sem saber para onde olhar. Disse resumido:
- De escovar os dentes.
Me fitou, desafiando... agora acredita?
- De tomar os remédios.
Convencida?
Eu lembrei das minhas amigas que esquecem de tomar a pílula toda semana. Quase perguntei qual o horário que ele esquecia dos dentes... conheço muita gente que esquece...
Mas só ouvi. Disse para ele que acreditava. Eu sei que o senhor está envelhecendo, eu pensei em dizer e não disse.
Ele me mostrou as pernas. Acho que a trombose está voltando, filha. Eu mostrei meus joelhos ralados do futebol.
E você? Vai ser advogada mesmo?
Vou não, .
E por que perde tanto tempo nisso?
E eu não sei responder... tava ganhando tempo, , talvez.
Ele ri, me mostra todos os defeitos da casa... não esquece nenhum... a infiltração, o cupim, a pintura, a agua da piscina... Essa casa até que está muito boa. Vamos ajudar a Iza colocar o telhado? Vamos . Eu dei cinquenta reais de um som que eu vendi. É, eu vou ajudar ela. Ela me disse mas não pediu nada... Mas eu não esqueci.

Da colheita

Chuva temporã
Cai fora de época
e alimenta o porvir
Chuva serodia
Se cai na hora certa
Dá fruto bom

São duas chuvas
para uma só colheita.

Lidar

Tudo que lhe der
será sincero
E saberei lhe dar
no tempo certo
Lidar com isso
eu aprendo
Como aprendo a escrever
suas palavras
e o seu tempo
na minha têmpora.

Sobre navegar

Eu te navego
Você me navega
E da viagem, fazemos porto seguro.

Ventos vem, ventos passam
Ventos vem, vem sempre,
Mas é a vela, somente a vela,
quem comanda a viagem?

Navego
sem destino
sem pressa

Um dia chega,
um dia chegamos...
Navegar não é exato...
Mas é preciso.

Inspirada em Sapo

Partiu.
E me deixou aparte.

.

Já começou com um ponto final.
Depois escreveu as palavras e apagou.
Tentou ser reticente.
Tentou achar uma vírgula.
Mas já começou como um ponto final.
Vira minha página, me vira do avesso da palavra,
faz de mim uma letra, uma sopa, um joguinho
E vai, no mesmo ponto, no mesmo barco
No mesmo encanto em que partiu.
E não deixou a minha parte...
Só o ponto de quem me parte.
Estranho
Estranho
Ficou um buraco aqui (apontava para o peito)
Estranho
Estranho
Ficou um nó aqui (apontava para a garganta)
Mas eu não vou imaginar o que você não fala.

Ao vento

Algumas coisas obrigatoriamente deveriam voltar.
Não é só palavra ao vento...
A flecha lançada....
A ofensa proferida...
Tudo que não volta...
e o que dá certeza
e o que sustenta
onde está o que quer voltar?

Maravilha

Se ele é meu pai, você é minha irmã branca, preta.
Ele me acenava, rindo aquele riso solto e me pedindo vinte conto.
Sabe como é, Maravilha, a conta de luz tá um estouro, te pago no fim do mês. É que seu pai tá viajando à séculos... Po**a, opa, desculpe, pelo amor de Deus me desculpe, mas a gente nem tem mais com quem contar... Vinte conto!
Meu filho foi baleado, irmã. Vim te contar, sei lá, deu na telha te contar. Tava vendo o baba, na praia, atiraram nele irmã. Vim te contar... meio sem chão, sabe? E você sempre fala com a gente, não tem besteira. Ora, Maravilha, vocês que sempre falam comigo, não tem besteira... Ele me acenava de longe. E seu filho? Já tá andando! Valeu por perguntar, preta! Na força!
Irmã, pele e osso. doente. doente, irmã. Eles querem me matar, irmã. Eu não sei o que fazer irmã. Ou arrumo seiscentos contos ou eu morro irmã. A Boca é quente. Meus filhos já não tão em casa. Não passa nada, não sobra ninguém. tremendo. Tem um dia que não uso, tem um dia, eu vou me internar, eu juro que vou. Arrumaram uma clínica de crente para mim. Eu vicio em Deus mas largo o crack, te prometo. Vim contar porque não sei mais a quem falar. São quase quinze anos, quase quinze anos... eu confio em vocês. Pele e osso, barriga para dentro. Abaixa essa blusa Maravilha. Acalma, rapaz. Acalma.

A vida é real. A vida as vezes é muito ruim.
Mas vai ficar bem Maravilha, vai ficar na força.
Faculdade - Assinar a lista
Provas - Nem a Deus eu tenho mais coragem de pedir...
Seja o que der para ser!

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Paz de sorriso


Pai de


Mão de carinho


Mãe de
Setetó
A regra é clara.

Ao meu companheiro de montanha russa

Se despencarem as ilusões, todas, uma a uma...
Se tudo que disseram parecer frágil, muito frágil, quase pó
Se tudo parecer ao avesso, se tudo parecer desconserto
Se for desonesto, se for mentira
Se o herói virar bandido
E a mocinha se perder...
Se tudo isso acontecer...
Se for assim como te digo...
Me dá um pouquinho do seu abrigo
Que eu faço o mesmo
E a gente segue junto
Porque você, só você
é capaz de me fazer ver
Só você sabe o que eu estou sentindo.

Mas eu te digo,
Como te diria há 22 anos,
ou como eu dizia até antes de aprender a falar...
E como eu te digo hoje e te direi sempre
A gente segue junto
E você é o elo mais forte que eu tenho
Você é o maior e mais bonito
Você e só você
sabe o que eu estou sentindo...

Mas tenha calma...
A vida é de surpresas
A vida não é linha reta
A linha não quer ser prevista
Ela se inventa
Abre os braços que a descida maior chegou...
Dá frio na barriga...
mas a gente segue junto para depois rir de tudo.

Novela

No próximo capítulo eu vou desligar a tv, eu vou ligar para você...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Sexo, subjetividade e cultura

E do que mais a vida trata?!

(de tanta, tanta, tanta coisa!)

terça-feira, 28 de abril de 2009

O gigante
O gigante




tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum
tum pá tum tum pá
Para você faria uma dedicatória como Saramago
Como essa última que li
E te diria
sem pensar
e sem me arrepender nunca e nem depois.
Em que país?
Onde eu te busco?
Ficou preso onde?
Cabia na mala, não cabia?
Excesso de passagens...
Eu vejo você falar o que está ouvindo
Isso me dá um aperto
Me faz lembrar o quanto era atenta ao que voce dizia
Mas como não fazia sentido naqueles dias...
Aquelas coisas de sofrer...
porque era tudo
simples
e simplesmente
bom
Tudo que eu sempre me convencia
que o que você me dizia era mentira
A vida era sempre e apenas ...
Mas experiencia é mesmo correr perigo.
Geraldo Azevedo na vitrola.
Acredita?
Alice me mostra tanta coisa boa!
Vai para onde você quiser... a vida já está branda nesse seu peito? A vida nunca escorre de você, menina. Fazer de mim cartas amassadas...uma lembrança angustiada, abafada... fazer de nós uma desculpa para todos seus erros... não faz da vida um passo em falso... Não serve mais...Amor de verdade teima, né? Amor de verdade não existe e só? Se você acreditasse nisso não me faria sentir que é tão bom querer, desejar e depois faltar... Você me olha e diz que só existe uma chance para o amor... Amor não é romance de prateleira...é daqueles que corre na mão de tantos mas um para e olha... vê datado, vê as linhas e sonha. A gente escolhe ou é escolhido pelo livro?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Abriu a bolsa.
As armas todas na mesa.
Só vou abrir o coração se você me pedir, olhava, amolando a faca.
Só vou....

Abriu a caixa
As cartas na mesa
Só te entrego o jogo se você me pedir, olhava, embaralhando.
Só vou...

Abriu o boca
As palavras sempre prudentes
Só te digo a verdade se você me pedir, olhava, dor de garganta
Só vou...

Abriu os olhos
Ali não tinha controle
O coração aberto, o jogo acabado e a verdade explicita

Não vou.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Baleia - Sofá
Chou chou - Almofada
Guapa - Cama
Bono - Cadeira
Vidinha - Mesa

Animal é coisa?

Moda

Moda
Eu prefiro a nudez.

Moda II

Moda.
Tem até seu charme
Quando vira arte.
Meu barquinho de isopor
Flutua na cidade encharcada
Eu pego o pano de chão
e espremo no balde
Agua, tanta agua
São Pedro fazendo faxina...
O muro cai
Meu avô diz
Que sortudo vocês são
Eu não entendo nada...
Mas tem coisa que só se entende
quando a chuva passa.

Bula de remédio

Estamos mais interessados:
na doença
nos efeitos colaterais
na cura
ou em passar o tempo?
Ora, ora
nobre poeta
te ver deitado de barriga para cima
me faz cócegas
de ver recitando na beira da escada
me faz bem.
O passado é permanente?
Como ser?
O passado é nada além do que for dito agora
O passado é apenas como você se sente.
Piscina azul, corpo imerso
Fazendo a agua tremer na boca
Poça de água
Cidade de açúcar
Tranquilize-se
O passado passa de repente.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Isso é coisa que o vento inventa!
Isso é coisa que o vento leva!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Paralelas
Me abraça
Uma mulher que seja devota
que sinta correr e amar pelos dedos
Que saiba do mundo ouvir os apelos
Que salve a todos
Mas antes a si
Uma mulher que seja devota apenas
Mulher essa que no encontro com o espelho, porém,
Apenas respeita a necessidade de dosar o sim.

domingo, 19 de abril de 2009

Tá.
Então tá, então.
Tá?
Então tá, então?
Tá...
Tá... Então tá, então...

Jawbreaker

Os sons se misturavam com a cidade

1929

Hans Specht
tinha um imenso bigode em 1929
Grande mesmo
Enorme
A pele lisa
O cabelo curto,
uma boina preta
Gravata
Terno
Olhando ao longe
Imaginava assim ainda olhar
em 2009?
Hans Specht
Hans
Specht
Foi descoberto em uma caixa
Dentro de um livro de Munch
Datado de 1983
Os anos são moinhos
E a vida se repete
1983
Uma jovem de 20 anos,
tenta reproduzir o retrato
Hoje
O retrato me olha da escrivaninha
Eu me divirto imaginando o que Erna
pensava daquele bigode...
O quarto dos fundos, da parte de cima da casa. Há tanto fechado. Cheiro de solvente. Porque ela gostava tanto de pintar ali se tinha uma varanda enorme inteira e mais outra, proa de navio para ver estrelas...
É como se sua parte sincera, aquela que misturava a tinta e fazia cores, aquela que queria simplesmente despejar, bonita ou feia, deixar fluir, parir os sentimentos todos em borrões... Aquela que não se preocupava com os sermãos, com o dizer repreensivo dos olhos... Aquela que era ela, talvez... Só existia naquele quarto pequeno, escuro, empoeirado... Assim para nossos olhos. Não para os dela. Via naquele quartinho talvez o seu porão, a sua possibilidade... talvez não conseguisse expandir demais. Talvez para transbordar tinha que se sentir contida. Tinha que se sentir ?
Porque voce não vai para a varanda? Está tossindo tanto. Esse lugar é abafado. Muda para o quarto com janelas, então.
Nunca parou de pintar. Só não era muito boa quando retocavam seus quadros ou quando tentava repetir modelos. Quando se deixava produzia arte. Para cada um de seu sangue, como se prevesse, deixou uma tela antes de fechar o quarto.

Acho a chave. Penso sinceramente em entrar e lembrar como é pintar. Mas a minha alma é de varandas...

sábado, 18 de abril de 2009

Tem gosto de abril!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

As tangerinas voltaram as sinaleiras.


Imagino ser um bom presságio.
As tangerinas voltaram as sinaleiras.
Imagino ser um bom presságio.
A sala é grande e aberta. Chão de madeira. Poderia, perfeitamente, ser um tablado para seus rodopios. Era muito pouco utilizada. Lembro de minha avó deitada no sofá amarelo próximo a janela de persianas brancas uma semana antes de morrer. Queria aprender a dançar, queria aprender a pintar, queria aprender eternamente. Fazia tanta coisa de retalho. A maior e única herança que quis de fato receber foi uma blusa toda colorida, toda de fuxico, que ela colocou um laço azul bem forte para ajustar. Cada fuxico daquele, o que guarda? O que ela pensou ao passar cada linha? As pessoas morrem e a gente inventa tanta coisa... talvez para se sentir mais vivo, não sei... talvez por amor. Deitada, não lembro onde estavam as mãos, suponho que repousando sob os fartos seios, travesseiro de neto, eu brincava, ou sobre a face evitando que a luz incomodasse seus olhos que era irremediavelmente azuis. Lembro quando ganhou um imenso bouquet de rosas e a fotografei nesse mesmo sofá. No dia achei que nenhuma foto tinha ficado boa... Hoje admiro o retrato. Ela não precisa virar um mistério para mim. Amava minha avó. Primeiro como uma criança ama uma mãe. Depois como um aprendiz ama uma professora. Você sempre escolhe o caminho mais difícil, filha. Eu ria e tentava entender. Ela era católica. Mas era mesmo muito próxima da natureza. O perdão, oferecer a outra face... aprendi com ela. A imagem que as filhas tem de minha avó parece tão frágil, tão submissa... não é a imagem que eu tenho dela. Morreu de repente. Eu admito que não achava que ela morreria tão cedo. Leucemia. Auto-imune. Talvez minhas tias e minha mãe tenham razão sobre a dor de minha . Guardar tanto... o sangue confunde. Tinha paz nesse sangue branco? Me contou uma vez que caiu no meio da rua. Eu nunca acreditava e me zangava quando ela dizia que ia morrer. O olho roxo. Aquela imagem última dela. Como soa infantil. A minha avó morreu feia, ferida. Isso me incomodou profundamente. A morte deixou de ser romântica. Deixou de ser a morte sutil, jovem, quase encorajadora.

Mas continuou sendo parte da vida.

Queria terminar o livro e deitei no sofá amarelo. O céu está cinza, o dia abafado. Vai chover. Faltam trinta páginas. Porque o autor guardou o melhor para o final? A vida me viveu. Odeio esse discurso. As vezes o cometo. Aprendi com minha mãe. Ela aprendeu com minha avó? A vida das resignações. Dos sacrifícios. Da mansidão.

Durmo profundamente no sofá. Estou dormindo mais do que o normal. Estou triste mas não tanto quanto minha na semana anterior a sua morte. Eu não vou morrer semana que vem e não tenho medo de morrer. Nem medo de não viver. Nem de envelhecer. Tenho medo, só e temporariamente, de ficar de cabeça para baixo. Minha mãe levanta a pele do rosto. Deve ter uns 35 anos. Se olha frente ao espelho e anseia pela juventude. Tem tanta juventude. Quase não tem rugas aos 46. Não é mais como aquela armação de óculos, como aquele vestido preto das velhas de Portocamba ... mas ficou míope.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Boa viagem

Você não teve medo de se afogar? Pular sozinho naquela piscina... tão escuro. Lanterna debaixo da agua. Tá... eu finjo que acredito. Os pulmões nascem colados e a gente chora quando descola. Quanto tempo você consegue ficar debaixo da agua? Sempre fiquei mais tempo que voce, eu acho... Brincar na piscina imensa de ir e voltar sem respirar... até que iamos longe. Respira fundo, vai... eu sei que não é fácil entender... mas a gente não é parte nessa travessia... Nos encontramos em qualquer lavoura espanhola, quem sabe? A vontade de devolver tudo isso... e dizer que o que vale, o que vale mesmo... talvez não tenham sido eles os únicos professores... Acredite em mim... são só pessoas... mas é difícil mesmo deixar cair.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Lou Salomé foi amor de quem
Saudade é nome de cidade...
Melancolia é uma de suas esquina
mais movimentadas
e desejo um beco escuro
que se bem habitado é beco de festa
No país dos sem pátria
perdeu o uniforme...
Para onde ir, casa sozinha:
Perdeu a possibilidade de tocar as fotos
Perdeu a intimidade de não ser encontrado
Prevê uma chuva
Dorme em paz,
em sonhos silenciosos
Aliviado com a possibilidade de ficar sozinho
Sente o corpo inundando para fora.

Me permita falar de mim

Corpo
Estica, estica, estica,
contrai, relaxa.
Dói onde?
Dói onde você mais precisa...
Dói o joelho, doí a parte de trás da perna,
dói o peito.
Você abre bem o peito...
Tem dificuldade de colocar o rabinho entre as pernas
E de ficar de cabeça para baixo...
De cabeça para baixo...

É como uma catapora
Aquele remédio roxo
Eu gostava da bacia com aquele cheiro étereo
A pressão ocilava mas eu sempre acordada....
Bater o cotovelo na porta
Eu corria até a cama
Pálida, colocava a cabeça entre as pernas, para baixo.
Nunca consegui dar estrelinha
Não tenho muita consciencia corporal
E inconsciencia corporal?
Maior talvez...
Derrubo tudo.
Volta ao mundo
Medo de ficar de cabeça para baixo?
Medo não existe.
Imagino como será parir,
acho que deve ser a sensação de fazer a maior Ioga da vida
Um, dois
Mocotó largo

Eu forço o pescoço
a tireóide sente?
A tireóide explode?
Borboleta no meio da garganta
é uma gravata ou é um indicio de nó, ou de desejo?
A borboleta e o japones
Eu nunca mais fiz os exames
Eles estavam se acustumando mais um com o outro
Auto-imune
Nao cheguei a ter medo de morrer
Mas de perder o controle
Tem um pincel de colorir mundo?
Passa no meu nariz.
Melancolia é o nome da boca do meu violão

A estilista tem o nome da minha irmã
Eu abro o sorriso inteiro
Ela é minha também
O tanto quanto eu sou dela
E isso me deixa feliz
O corpo
O corpo
O corpo
O corpo
O corpo
O corpo lhe dá uma leve impressão?
Impressão do que?
Impressão de continuidade.
O corpo acaba?
Quem nos liga ao mundo?
Ora, ora...
O mundo respira o mesmo ar que eu!
O mundo bebe a mesma água que eu!
O mundo come, come, come, come
banquete.
O corpo cresce.
Que pedaço do mundo é só seu?
O que você habita é também o que você divide.
Você cresce, pequeno zigoto.
Você cresce, cresce, cresce,
árvore de mil galhos, de dois braços
O outro entra no seu corpo.
E você deixa
E você deita
E você goza
E você levanta e você olha
Outro corpo, nu na cama
O espaço do prazer é do mundo
Somos todos juntos
Gozemos nossa estranha condição de sermos interligados
Você conhece o mundo inteiro...
Salve, salve a hora de ser

Carta II

Querida,





É preciso muita paz para escrever essas linhas e isso só possivel depois do distanciamento quase involuntario que nos propusemos. Ouvi rumores que você vem no verão e permita decepciona-la mas fiquei deveras preocupado com essa possibilidade.

As cerejas continuam doces. Mas, talvez, não tenha mais espaço na casa.

Deve se perguntar se estou falando sério ou se a senilidade passou dos meus cabelos brancos... Admito que minhas articulações também doem e as ladeiras não são mais fáceis para mim. Subir ao cruzeiro é quase um suplicio... sorte de Cristo que morreu jovem...

Mas como não ter mais espaço... voce pergunta... e a promessa de vir quando quisesse? E são anos que não respira ar puro e

terça-feira, 14 de abril de 2009

Contexto

Os olhos dela se acenderam. Desviaram, mas eram clarão. Os olhos dela abriam um caminho imenso e o destino era um abismo no qual teria coragem te bater asas. É que quando abro a boca são milhares de borboletas. Mas quando sinto as pernas elas estão quase soterrando em L'Aquila, abreviando o chão de tremores, vendo em cima um universo de terra. Ela achou que não iria. E agora o que fazer com as mãos? E fora do contexto, o que fazer com a realidade que não se encontra?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Carlos, meu bem.

Preciso de poesia
Umidecer lenços com versos
E aplica-los sob a testa
Preciso de grandes doses
Doses imensas de sonho
Auto medicar-me com palavras

Forte febre

Preciso de poesia
Umidecer lenços com versos
E aplica-los sob a testa
Preciso de grandes doses
Doses imensas de sonho
Auto medicar-me com imagens
Palvras-doutoras, me digam
Como acabar com esse frio na barriga
Com esse suar das mãos
Com esse não reconhecer-se repentino
Com esse estado quase frívolo
Com esse incendiar do coração.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Faça bons sonhos

Em francês eles sabem que a fábrica de sonhos é nossa.
E quando eu sonho - desejos - saltam em filme
Se escondem, se mostram, fantasiam.
Quando os olhos fecham
O mundo é mais fluído, denso-leve
É agua ... que é símbolo do inconsciente
Que completa frase
Que permite
Que sente
Encendiou os lábios
Fogo
Cruz credo
É mesmo pecado ter uma boca assim
Valha-me nossa senhora
De onde veio essa menina?
De onde tirou coragem
para tanto vermelho?


Da transexualidade e do erro essencial sobre a pessoa

Só se engana quem quer.

Da transexualidade e do nome

Maria era João.
Maria deve ser chamada para sempre de João?
Mas agora Maria é Maria!
Dos pés a cabeça mulher.
E João?
Quem era João não sofre mais!
Deve ser feito um atestado de óbito de João?
Ora, meu bom Juiz...
João foi só engano!
Maria foi sempre Maria.
Só o nome que colocaram errado...
Só o sexo que veio trocado...
É que quando a gente nasce a gente ainda não sabe como é...
E se aos dezoito eu posso mudar de nome
eu, você e quem quiser...
Ora... se João quisesse ser José ele podia...
Então por que não ser de uma vez por todas...
toda e somente Maria?
E se meus argumentos não lhe convencem...
Sei que em situação vexatória todos podem trocar de nome
sem limite de tempo e espaço...
sempre e em qualquer ocasião...
Agora... me diga maior vexame
do que uma mulher tão bonita...
ter o nome de João?!

domingo, 5 de abril de 2009

Cena.
Pega a bolsa
amarra a sandália
segura a chave
Nunca iria embora
Queria um abraço
mas não sabe bem pedir essas coisas.
Desamarra a sandália.
Devolve a bolsa.
Senta ao lado.
Fala bobagens.
Fala bobagens.
Muitas bobagens.
Ouve a razão.
Sabe seus deslizes.
Chega mais perto.
Não mais duvida de si.
Abraça, abraça, abraça
Coisas que não precisa saber pedir...
Descança a cabeça no ombro
Ombro amigo
Peito vasto
Escuta o coração
Bumbo forte
Respiração lenta
Os olhos fecham
As mãos param
O bumbo acalma
A cabeça pesa
Os corpos unem
Esquentam
Encaixam
O sono invade
O sonho é bom
O sol nasce onde levanta
e se põe onde dorme
O sol é uma criança
dorme doze horas por dia
Na noite a mãe, lua de fases
é prateada e não ofusca
as estrelas
As mães sabem dividir
o brilho.
Conheço olhos de cachorros
De gatos
Mas nunca me detive assim por tanto tempo
nos olhos de outro animal
que não fosse homem
Li um livro em que o cachorro
tinha um olhar quase superior
Era um livro desses de fantasia
O cachorro guardava um homem dentro de si
Hoje vi os olhos de um cavalo
Como são expressivos
quase melancólicos
enormes, cílios enormes
Que mistérios guarda um cavalo
Para ter tamanhos olhos?
A mulher que a gente ama
Sempre que já não nos ama
Ganha o nome de puta.
Se a colocarmos no lugar de santa
É que amor há muito tempo já não existe.
Pensamos que não
Que é uma ofensa
Quase repudio.
Mas respeitamos as putas, é verdade
É uma reverência quase infantil.
Aquelas que são donas da lasciva
Aquelas que nunca serão nossas
Quem pensa que não, não sabe do que estou falando.
As putas sabem dar-se sem tanto apego
As putas nos amam mais que as santas
porque nos amam com desejo.
É o amor de uma puta que o homem
abandonada procura.
E isso diz a sua amada...
Como um homem abandonado sofre...
As putas até nos dão medo.
Mas se a mulher que não te ama
Seja santa ou puta quer ir embora
Deixa, meu amigo...
Mulher não fica bem triste.
Seja puta ou seja santa
Só é sua quando quer.

Personagens

Quando uma atriz morre...
Morrem quantas almas?
Essa coisa de emprestar o corpo
é tão curiosa
O corte de cabelo é dela
Da outra
O jeito de mexer no cabelo é dela
Da outra
Mas a boca, o nariz, os olhos
São todos seus
Dando espaço para que nasça a outra
Sendo artista o homem é
capaz de dar a luz
Nós mulheres,
nós somos todas artistas.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Chorava baixo.
Angústia tremula.
Palavras frias.

Vai mais rápido, vai!
Chega logo.

Olhava longe.
Se questionava.
Abria a porta?
Ou se jogava?

Vai mais rápido, vai!
Vrum, vrummmm!!!

Chegaram.
Ela e ele.
Ele e o sorriso ansiolitico.
Ela e a calma mentida.
Ela e a calma desmedida
que em breve
muito breve
transbordaria.
A soada no piso de madeira não disfarçava. Ela acabara de chegar em casa. Depois de buzinar, entrou sem dar bom dia. O salto batendo na madeira não evitava ser incoveniente. Não se arrependia de acordar aqueles que ainda dormiam.
Páginas em branco.
Branco em páginas.
As palavras as vezes se lançam...
as vezes simplesmente se apagam.

O Mundo

Fugir para o mundo. O mundo é tão grande. Mas nunca se livraria da sua "carapuça".
Onde estavam os dias?
Eram só horas lentas que
nem ficavam, nem passavam
por pouco sequer existiam

quarta-feira, 1 de abril de 2009

foto

agora a gente finge que não foi bom
a gente inventa uma desculpa
a gente cresce e se movimenta
a gente deixa de ser aquela imagem estática
do que podia ter sido perfeito
a gente deixa de ser perfeito
a gente deixa de se coisificar
eu e voce numa foto
a foto no porta-retrato
um eterno que descança
em alguma gaveta.
em algum lugar inventado.
em algum lugar onde dorme um sono pesado.
sem sonhos...
Minhas pupilas mentem
eu sempre amei de verdade
Mas tenho dificuldade de deixa-las abertas,
assim,
na luz do dia.
ou na luz dos teus olhos.
é fato
vem escrito no jornal
é dia da mentira
é dia da mentira
é dia da mentira
o jornal as vezes mente.
Um riso colorido
para que duvidar
da felicidade?

terça-feira, 31 de março de 2009

Moleton

Tem braços.
Tem abraços.
Tem quentinho.
Tem cinema.
Tem cores.
Dança comigo?
Puxo pela manga,
rodopio.
Ouvimos músicas no carro.
Choramos nostalgicos pela cidade.
Doce companheiro que me acompanha no banco ao lado...

Oitavo andar

Salvador está quente. Novidade. Salvador é quente. Mas eu vi no jornal, a moça bonita do tempo dizendo que esse mês só choveu dezesete por cento do previsto.
Dezesete por cento do previsto.
Chamo o elevador. Demora.
Divago. O elevador é um cubículo sustentado por cabos e que sobe alto, alto, bem alto. Tem limite de peso e tem que fazer revisão. As vezes sonho com o elevador da Disney e acordo dando risada. Félix brincava comigo porque eu sempre saia rindo nas fotos de montanha russa. Nunca mais andei de montanha russa. Fui na Rússia e lá não vi nenhuma montanha russa. Muitas russas com curvas. Que nem o Rio de Janeiro, as montanhas e as mulatas? Nem tanto. Curvas frias. Deslizar como um bronzeador, deslizar como verglas... Agora tive a brilhante idéia de adicionar minhas fotos sorridentes ao currículo de guia da Disney. Coloquei meu currículo para ser guia na Disney. Mas acho que a crise vai abalar o mercado de pacotes de turismo e a possibilidade de me chamarem é pequena. Desde que comecei no trabalho novo não fui nas reuniões. Talvez um grande sorriso em uma montanha russa fosse um forte argumento de convencimento. Talvez não. Quando eu tinha quatorze anos...
O elevador enfim chega e o dia começa a brincar de "surrealidade". Adoro quando isso acontece.
Pois bem... o elevador é um cubículo com limite de peso. Afastado oito andares do chão e seguro por cabos. Quantas de mim são necessárias se subirmos uma no ombro da outra para alcançar o oitavo andar? Muitas suponho. A torre eiffel é equivalente a 190 e meia "Emílias". Uau. No Brasil é crime clonar. Minha professora acha um absurdo. Crime impossível, ela diz. Para que prever??! Ela não acredita em ficção, suponho. Meu outro professor quer um celular com modulador de hábitos para que não toque no meio da aula. Conheço quem pode fazer isso. O professor diz que vai patentear a idéia e antes que o faça eu sugiro que coloque no silencioso.
O elevador chega e abro a porta em um susto. Está quase todo tomado por um homem imenso, gordo, de bermudas e blusa, de tenis e cheio de livros na mão.
Eu entro, tentando desviar da sua barriga, que, sem exagero, alcançava a porta. Aperto o "G"'.
O elevador dá aquele tranquinho e eu penso : Merda... E se ficar preso? Como eu vou respirar? Imagino que o homem imenso, que agora descubro que é professor de inglês, que morava em Nova Iorque mas que ama Salvador e que não é obeso mórbido... só inacreditavelmente gordo... imagino se ele tem medo de elevador. Toco uma música de elevador na cabeça e puxo qualquer assunto. O elevador não para. Ufa. Ele pergunta onde eu aprendi inglês. Eu digo, Nossa... voce sabia que só choveu dezesete por cento do previsto esse mês? Conversa de elevador. Ele me deseja boa sorte com a Disney e o elevador nunca passa do chão.

É que eu esqueço tudo II

Faz mais de um ano que estive no Barbalho e conheci João. Deve ter crescido. Deve estar alguns centímetros mais alto e já deve estar lendo sem soletrar.
Iza me entrega a lista do supermercado para eu corrigir.
Leio e decifro. Batata está certinho. Tem palavras que fazem mais sentido. Para ela ainda é difícil entender o "agá", o "rê" no meio das letras, o "chhhh do ch" e tantos outros que não pareçam com batata, casa, gato, panela. Sílabas assim fazem sentido para ela. Eu corrijo as palavras sem perguntar o que significam porque sei mais ou menos o que está faltando na dispensa. Não, Mila... era cenoura e não cebola. Ela senta do meu lado e reescrevemos a lista.
Mila, sabe o que é?
O que Iza?
Eu com um problema sério de "falta de esquecimento". Eu esqueço tudo. É falta de vitamina, é? Deve ser. Eu vou marcar um médico.
Mas esquece tudo o que Izinha?
Tudo ... não sei mais escrever nada...
Iza estava na quarta série quando fui morar com meus avós. Mal sabia escrever o nome e tinha aulas de inglês. Eu e minha decidimos que ensinaríamos o mistério das palavras para Iza. Minha morreu e Iza sente falta da companhia diária dela. Meu avô também. Meu avô faz o mercado com a lista de Iza, que eu corrijo. Antes era com a lista de minha avó. Já tentei convence-lo que deixasse eu fazer o mercado... mas ele não abre mão. As vezes o faço companhia mas normalmente quando isso acontece o prejuízo é grande. Nós dois ficamos tentando adivinhar o que Dudu gosta... e o carrinho sai duas vezes mais cheio de coisas que nem ele nem eu podemos comer.
Iza fica parada na cabeceira da mesa. Sei que está sofrendo. Voltou para alfabetização. Eu quero ser professora do colégio que ela estuda. E quero ser professora no Barbalho também. Assim que me formar eu vou ser professora, também.
Iza come bem. Não é falta de vitamina. Tem anemia falciforme, mas toma todos os remédios e os médicos dizem que está bem. Só precisa emagrecer.
Pergunto se ela tem feito os deveres de casa. Ela começa outro assunto. Pergunto se ela tem feito os deveres de casa... Ela me olha um pouco envergonhada. Iza não é preguiçosa. Ela mantém em ordem uma casa enorme. Ela faz sopa, ela conversa, ela ouve rádio, ela é animada. Ela enche um pouco aquela casa enorme que sente falta de sua dona. Ela preenche um pouco o coração de meu avô que sente falta de uma companhia. Minha avó dizia que Iza era uma benção. Minha avó as vezes dizia que ia morrer e eu não acreditava. Eu acredito que Iza é uma benção. Mesmo quando ela faz algumas trapalhadas.
Penso no que poderia dizer para Iza...
Iza... tem livros de receita aqui em casa?
Ela balança a cabeça afirmativamente.
Olha só... eu vou comprar gingobiloba. Lembra que minha tomava gingobiloba para esses problemas de memória?
Pois bem... eu compro a gingobiloba e em troca você faz umas receitas novas para mim. Sem carne. Muita batata, cenoura, chuchu, verduras, alface. Mas além disso... quero que você copie as melhores receitas para mim, certo? Vou comprar um caderninho e você olha no livro, copia e a gente vai tirando suas dúvidas. Topa?
Ela me olha desconfiada.
Oh Mila... você não gosta da minha comida não é?
Oxe Iza! Gosto sim! Gosto tanto que quero que você escreva as receitas para mim!
Ela ri, acho que entende e complementa:
Mas e a "falta de esquecimento.... será que essa gingobiloba cura mesmo?

sábado, 28 de março de 2009

é muito fácil de entender
é só não esconder o que se sente
e reciprocidade não é para qualquer um...
eu ainda prefiro não aprender a mentir.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Cedo. Não tão cedo. Já é claro. Vinte minutos de latim. Os cachorros passeiam pela faculdade de São Lázaro e participam da aula. No alto da colina, no prédio azul, eu coloco o rabo entre as pernas e ouço a conjugação da língua morta. De repente me parece interessante. Penso na língua de quem aprende latim... como faz cócegas essas terminações quase nunca óbvias.
o mundo que ela inventava enfim começou a existir além das janelas e das cortinas

terça-feira, 24 de março de 2009

Faça uma música

Já não sabe, é bem verdade, o que exatamente quis dizer naquela tarde. Mas o que importa? Palavra gosta mesmo é de encontrar o vento. Não gosta muito de saliva. E se ela proibiu o voo... que conviva agora com essas infelizes que só queriam mesmo era ganhar o mundo. Mas palavra contrariada é quase um monstro que se multiplica por segundo. Vira pensamento, vira contração, vira contra senso. Eu sinto a palavra descendo na veia, saindo pelos olhos, transpirando na pele. A palavra é engraçada quando se escreve... mas já não é bem palavra... só se dita em voz alta... caso o contrário ainda se sente presa.
Quando minha

segunda-feira, 23 de março de 2009

Conexão

tinha alguma coisa aqui
que eu não me lembro mais
...

mas é de sentir e eu só sinto.
Pressinto.
tum
tum
tum
tum
tum tum tum tum tum tum tum tum
que o coração pode, também, bater.
infartar.
acelerar.
inchar.
desandar.
parar. parar. parar.
sangrar.
e até, quem sabe...

O não dito

Eu não entendia o que a música queria dizer:
"O amor manchou. Desandou a maioneses."
Até que entendi e dei adeus a ingenuidade.
de olhos fechados a música envolve cada movimento.
de olhos fechados a música envolve cada movimento.

sábado, 21 de março de 2009

Semana passada ela esteve aqui. Estava quase igual. Trazia nas mãos uma velha carta que falava de um forasteiro, cerejas e coisas sem fim. Ela estava quase igual, exceto pelo fato que parecia pela primeira vez sentir medo. Me olhou com olhos fundos. Olhos de quem quer algum tipo de consolo mas que sabe que não pode ser assim tão a mostra. Ela então inventa um assunto e me pede uma xícara de chá. Eu digo, vamos, sente. Ela passa as mãos nos joelhos e finalmente as pousa na mesa. Um colher de açúcar. Desde quando bebe café? Da última vez ainda era muito nova para o café. Eu então bebo o seu chá. Desde quando tinha esse sorriso vazio no rosto? Ela então desata a falar qualquer bobagem e eu me distraio ouvindo a música de fundo que já quase não existe nela. É só um sopro, me parece. Talvez invente um ritmo, quem sabe, para ela dançar no muro...

Para acender a luz

Eletricidade
Idéia
Orgasmo

Três palavras feitas para acender a luz.
Me deixa passar a mão nos seus extremos
nas pontas do seu cabelo
nos dedos dos seus pés
Me deixe correr a mão no seu maior segredo
com as pontas dos meus dedos
vasculhar a contra-mão das suas maneiras
Me deite contra o chão
vestigem de grama molhada
vestigem de final de março
Lentamente me deixe
Finalmente me invente
e estejamos, os dois,
enfim rentes.

segunda-feira, 16 de março de 2009

aqueles olhos de avenida
quando engarrafados
eram sinal verde sem destino
mas tarde da noite
ficavam fundos, negros e vazios...
grande perigo de acidente

sexta-feira, 13 de março de 2009

Modernidade

Felicidade tarja preta

passo.

não tomo remédio nem para dor de cabeça

quanto mais para tristeza...
E intimamente eu pensava:

Só falta ela mandar ele tomar no círculo hermeneutico...

1x1
Latim
nos lábios dele até língua morta quer aparecer
- Tá bom, Emília, eu sou Peixinho!
- Prazer e Glub, glub!


As vezes eu acho que sou surda no telefone.

quinta-feira, 12 de março de 2009

de um diálogo que jamais acontecerá

Olá. Vim buscar suas ilusões.
Seja bem-vindo. Estão todas ali naquele saco.

Muito obrigado.
Disponha.

Mas bem... sobrou uma... posso ficar?
Fique a vontade.

Afogando cartas de madrugada.

de um diálogo que jamais acontecerá

Olá. Vim buscar suas ilusões.


Seja bem-vindo. Estão todas ali naquele saco.





Muito obrigado.


Disponha.





Mas bem... sobrou uma... posso ficar?


Fique a vontade.





Afogando cartas de madrugada.


s


ó
brincava de subir em árvore
de correr na grama
de deitar no galho
e almoçar o mundo
Brincava de esconder
de brigar para não prender
e de fugir batendo na mão
(liberdade era tão fácil!)
enterrar passarinho caído do ninho
e para não morrer de desgosto
chorar a morte alheia
escrevendo piruetas no céu
de acender estrela
brincava de fantasma
de sereia
de jardim
brincava de boneca
de invadir
brincava, as vezes
até de sumir
mas brincava, principalmente
de não ter fim

piscadela

as vezes gosta de ter certeza absoluta de que talvez fosse para ela.
Solta o fôlego.
Saiu do fundo da onda
ainda tonta
A agua pelo nariz, já sem ar no pulmão
a areia em todo corpo
o sal impregnado nos cabelos
os olhos vermelhos
brincadeira de perigo
criança gosta do inverso
é que na crista da onda não tem
tanta imaginação...

quarta-feira, 11 de março de 2009

tenho rugas de sorriso
os sorrisos não ficam pregados na carra
mas as rugas lembram da risada
mesmo quando a cara fica triste
No meio do açucareiro vivia a formiga, escondida. Nada semi acordada no meu suco gástrico. Eu que não como animais... quase sinto um arrependimento de gostar tanto de doces... mas juro que não gosto de formigas.


Lá no fundo até invento: elas quem sabe se divertem...
No meio do açucareiro vivia a formiga, escondida. Nada semi acordada no meu suco gástrico. Eu que não como animais... quase sinto um arrependimento de gostar tanto de doces... mas juro que não gosto de formigas.
Lá no fundo até invento: elas quem sabe se divertem...
Percebe que está ficando velha quando começa a inventar histórias sobre o passado porque na verdade simplesmente já não lembra mais se estava mesmo lá...
as vezes até duvidamos que vivemos mesmo a vida toda!
É que é muita vida que acontece em cada minuto.
E muita vida que se distancia no ultimo suspiro...
Menina da saia branca
Roda o mundo enquanto dança
Envolve a cidade na ciranda
Leva o dia, se balança
Cai a noite, devaneio
Vejo o bico do seu seio
Cheira o cheiro do anseio
Cai de novo no seu samba
Fazer paixão do que meu Deus?
Isso é coisa que o vento inventa!

quarta-feira, 4 de março de 2009

é um nome.
meu mesmo nome no final.
é um amor maior que eu.
é tão pequenininha.
é quem ainda vai ser...
mas já começou!
girou o mundo.
seja bem vinda.
minha querida.
os braços meus
o coração
e tudo mais...
um terço é seu!
As vezes se deparava com aquele espelho.
As vezes se deparava com aquele azul.
E acabava o sossego e o aconchego das palavras que rimam.
E corria, rosto molhado...
até que tinha certeza, novamente,
que amar, as vezes, é deixar ter fim.

terça-feira, 3 de março de 2009

Cecília

Eu ando tocando o improvável com as pontas dos dedos.
Sei que as vezes a vida é castelo de areia.
E ninguém pode com a força do mar...
Mas ele vem e devolve mais areia para a gente brincar...
Brigaram no recreio.
Murilo tocava a ponta da orelha de Lucas com um lápis. Lucas batia no lápis como se fosse um abelha e olhava para trás como se o amigo fosse invisível.
O amigo-abelha repetia todo o movimento.
A professora não entendia o desconforto de Lucas e voltava a olhar para frente.
Lucas enfim pegou o lápis e quebrou em dois. Fez um pouco de soada.
Segurou as partes bem forte nas mão pequeninas, tirou o apontador do estojo e fez a ponta. Dois lápis prontos devolveu para o amigo que aos poucos ganhava forma... como se desenhasse os contornos dele com aquele lápis. A raiva passou e o sino soou. Voltaram para casa.
Uma ou duas canções preferidas guardadas na manga para impressionar. O nome de um artista desses que ninguém conhece para fingir que sabia alguma coisa incrível. Mas era tão sem importancia aquilo tudo de impressionar quando uniam as bocas. E ela mal sabia beijar.
No que você está pensando?
Ela saia correndo com os olhos, desviava e mudava de assunto.
Ele não sabia se era mistério ou se ela era mesmo estranha.
Era só uma música que não sai da cabeça.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O rio corre
Chega no mar
Peixe de água salgada
não entra
Peixe de água doce não sai
O rio e o mar se misturam
E quem vive no meio?
Quem vai cantar agora?
Quem vai ninar nenem?
Quem vai ser muito grande
para ver sempre além?
Quem vai virar coberta
Proteger do monstro mal?
Quem deixar a fresta
da porta entreaberta...
Quem vai empacotar
o sonho bom?
Quem vai ser o herói?
Quem vai soprar a dor?
Quem vai ser o abraço
E a palavra que faltou?
Quem? Quem vai?
Bi bi biri bi bi
Fom fom forom fom fom
E lá vai na rua
E lá vai a sua
Ela vai toda nua
E lá vai o bloco
E já perde o foco
E só fica o vão
Desse passo grande
Dessa vida curta
Dessa história louca
Do samba canção
E lá vai o dom
Vai na esquina escura
Entregar as pernas
Para a carne dura
Ai, ai, aiiii
Ahhh... Lá vem a chuva
Gota molhada
No fim da tarde
O pote de ouro
E lá vaiiii
E morreu o touro
Lá vai o mouro
Ladrão de ruiva
Lá vem a loira
Caçando em vão
O seu violeiro
E o cancioneiro
No fim do mundo
Perde a canção
Ah lá vai
Bi bi biri bi bi
Bom bom borom bom bom
Fi firi fifi
From from frommmmmmmm
Where are you from?
depois de quase oitenta anos de sabedoria, se perde o conselho. Ele encara a cara parecida e pede arreigo. O outro molha de lágrimas o travesseiro. Pula da janela. Que dá no chão bem próximo. Não quebra a perna. Duro é não ter mais coração. E quanto vale? O dinheiro não tem preço... mas nele tudo cabe? E sua imensa cabeleira? Sadia é um nó.
De carne e osso. Vieram formigas buscar o doce. Pupilas inteiras, quase engraçadas. E veio o vento buscar a fada. De cor de cera, de lápis duro. Rolando imenso no papel branco. Doce, doce, doce. Chega enjoa. Come, come, come. Sua carne dura dilacera com os dentes. Moles. Caem todos no chão. Vem a fada do porão. Vem o barco do mar. Para que pensar?
Fez de conta.
E no fim?
Tudo feliz!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Pois é.
Hoje talvez eu chore.
Sossegue menina. Nem mais um piu.
Pois é.
Hoje talvez desague, quem sabe limpa.
Sossegue menina que isso passa.
Pois é.
Hoje talvez eu diga
o que fere essa garganta mal-dita
Sossegue menina
a vida é de surpresa
Pois é.
Hoje talvez...
Talvez amanhã
Um dia quem sabe
Eu perco o controle.
Pois é.


Hoje talvez eu chore.


Sossegue menina. Nem mais um piu.


Pois é.


Hoje talvez desague, quem sabe limpa.


Sossegue menina que isso passa.


Pois é.


Hoje talvez eu diga


o que fere essa garganta mal-dita


Sossegue menina


a vida é de surpresa


Pois é.


Hoje talvez...


Talvez amanhã


Um dia quem sabe


Eu perco o controle.
Pequenas jabuticabas saltando do contorno para olhos da máscara. Era uma criança. Havia de ser. Não sei como era. Mas nunca vi olhinhos tão vivos. Brilhavam.

- Mãe, isso é que é carnaval!
Seu nome derrete na boca e vira sorriso
é sem nome o que eu sinto

Recife - Três meninas

Três meninas em cima.
Três meninas em baixo.
Ao todo são seis.
Quase da mesma idade.
Quase parecidas.
Uma, em cima ,na calçada, dança.
Uma, em baixo,no asfalto, dança.
Para cada criança de cima
um adulto segurando o braço
Para cada criança de baixo
a responsabilidade de cuidar do isopor.
Mas são seis meninas tão lindas...
Duas com sono em cima
Duas bem sérias em baixo
Mas as outras duas dançam...
Dançam o frevo, inventam o passo
Sorri desengonçada a de cima,
enquanto a de baixo desmancha o asfalto...
e quando me vêem olhando ficam tímidas
depois exibidas
Ai, essas crianças...
quase parecidas
será que um dia se encontram?
Um dia se cruzam?
Um dia quem sabe...
mas de igual para igual
não só vendendo lata e dançando frevo
no Carnaval...
Espere.
1,2,3,4,5
Espere.
1,2,3,4,5
Espere.
1,2,3,4,5

Foi um furacão, foi?
Ficou tudo no chão, foi?
Ah... levanta daí, vai
Ah... para de fingir tanta calma
Deixa cair
deixa levar...
deixa ser o que o tempo não espera.
Tocar o improvável com a ponta dos dedos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

sibilado

valCarinho debaixo do queixo o faz miar
Miando, ele diz a dona que quer amor
Amando, ela responde que vai passar
Ronronando ele avisa que vai viver!
Erupção de silêncios.
O corpo absurdo, responde.
Tem um reloginho ai dentro, é isso?

E quando acelera lá fora?

As horas passam lentas mas parece que é em bloco.

De repente anoitece e amanha ainda é longe.

Minha coluna vira corda jogada de navio.

Mas em algum lugar minha mente repousa.

Habbeas corpus

Daqui para ali
de ali para acolá
pelo papel imenso
corre a caneta rápida e
em cada linha livre que escrevo
peticiono o seu direito de poder até andar...
daqui para acolá são longas linhas.

Mutação constitucional

. O Direito, ninguém se iluda, vive no tempo, de mãos dadas com o tempo. Dança e rodopia com o tempo. Talvez seja até um romance...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A condição de mulher não se entrega.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A cidade é grande e o coraçao é pequeno.
Um mundo no meio.
Tece a teia da aranha, menina.
Tece a teia da aranha, menina.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Descansam entre duas páginas em francês
Quando um dia eu souber todas essas palavras...
Em cima, fazendo peso para que elas sequem
um livro de direito penal bem gordo
E ainda mais em cima,
para que elas não queiram fugir (duvido que queiram entre tantas palavras bonitas)
um livro sobre os Beatles, maior do mundo, para não faltar assunto
Era uma vez, outro dia,
uma rosa que morou nesse mesmo lugar.
Para onde ela olha com olhos tão tristes?
O macarrão ficou fora do ponto?
Mas todo mundo está com a barriga tão cheia
e aquela cara de sono depois da janta...
Ela quase não tocou na comida
Não gosto muito de comer quando cozinho...
Será que é para não saber o quanto é boa
Não está salgada a comida
Será que quis chorar mas teve medo de estragar o tempero
Para onde olha tão triste e de barriga vazia
Porque tira os pratos com um movimento tão distante
E porque afasta o bolo assim tão de repente
Porque não quebra os copos e vira a mesa?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Só sobre alegria

Eram miudinhas aquelas flores vermelhas
Mas faziam um bouquet enorme
(em mimiatura).
E se as olhasse bem de perto
descobria que cada florzinha tinha história:
Da formiga fugitiva pelas pétalas
Até da gota de água hesitante fazendo-lhe cócegas.
Verde, vermelho, cada haste subia tranquila
Pareciam um catavento!
A namorada, ainda boba e de pijama
ao pensar em brincar com seu bonito presente
Sorriu pensativa...
Bem me quer, bem me quer
E que as flores durmam inteiras!
Se as palavras tivessem gosto gritaria: NUVEM! Até que o gosto de algodão doce dissolvesse no céu da boca e molhasse a minha lingua... ai eu diria seu nome.
é engraçado poder falar de tudo no meio do dia.
mas não riu. só coca-cola faz cosquinhas no céu da boca.

Maus poemas

Os poemas sairam de casa com o endereço errado
Bateram na porta da realeza
que rasgou cada verso, papel de seda
E copiou o desenho do sorriso que remetia
Ateando fogo a qualquer resposta
Os versos eram para outro
Eram para os que passavam discretos as três da tarde
Mas mudaram o rumo e foram dormir as seis
Assim que decidiram ter cinco filhos
um deles chines.
Os outros que fossem do destino.
A) prenda-me

Mais um espanto que vem de sangue, vermelho e branco, que rosa hostil.
E vai levando a encomenda, vi (ver) morrendo não é escolha.
De um em um passaram-se anos, de mão em mão, aceno, adeus.
26 jardins, todos plantados de súbito, mas daqueles que vieram só um não tinha nome.
Que olhos eram aqueles do desconhecido? Não me parecia engano, era uma dor de conhecer.
A) prenda-me





Mais um espanto que vem de sangue, vermelho e branco, que rosa hostil.


E vai levando a encomenda, (vi) (ver) morrendo não é escolha.


De um em um passaram-se anos, de mão em mão, aceno, adeus.


26 jardins, todos plantados de súbito e daqueles que vieram só um não tinha nome.


Mas que olhos eram aqueles? Não me parecia engano, era uma dor de conhecer.
O meu nome sou eu. E é asssim que me apresento.Ontem de manhãzinha quando acordei achei que não existia e flutuei. Sensação doce, mas sempre algum intruso vem e lembra : Olha, você existe. Acordo sem jeito, saindo de sonho, caindo no dia. Olho por olho amanheco, bocejo o recuperar do cançaso, mais um último esticar de descanço. Acordar... Dormir é mais quieto.
Múltiplos

O meu nome sou eu?

Quando acordei não vi passar o furacão, só a tv ligada em uma notícia antiga.
Foi um passarinho que me trouxe no bico um ovo de avestruz e me contou, assim em um pio, que o o dia seria longo, talvez o maior dia que já amanheceu no calendário de dias.
Como o tempo é um limite, peguei uma tesoura e cortei a fita promiscua que separava a minha necessidade de correr da minha obrigação de ficar. E o movimento se multiplicou em dois e em um ir-voltar corri horas duplas, que também freei.

Carta

Querida,

As cerejas aqui estão doces. Estou saindo muito para passear. A vida na vila continua como você a conheceu, aquela calmaria... de manhã cedo é ainda escuro, depois vem aquela névoa que embranquece todo o horizonte e esconde o topo da montanha, bem na frente da janela da sala de jantar. Aquela onde eu escondia os chocolates e jogávamos brisca a noite.
E a noite só vem bem tarde, continua, quase quando já temos sono, bem na hora de tomar uma sopa, jogar baralho e deitar para dormir. Nos domingos tem a missa, o padre ainda coloca todas as crianças no altar para distrai-las, a missa continua breve, a igreja de pedra fria. No final levo umas flores para sua . Sinto saudades da rede na varanda, do calor e das conversas, do mais aqui me basta. Devo admitir que preparar-me para uma vida assim não estava nos meus planos, mas como você bem sabe sou homem de coragem e tudo que quero é organizar as coisas muito bem antes de ir e aqui me parece um bom lugar para amenizar despedidas.
Semana passada, porém, aconteceu algo que me deixou meio perplexo. E te conto por que sei que você é a única que entenderia. Chegou um forasteiro, seguindo o caminho de Santiago de Compostela . Eu estava no cruzeiro, era de tardezinha e eu tinha ido de bicicleta, tentando passar o tempo. Até ri lembrando que quando vínhamos passear, quando você era bem pequena, ficava imaginando encontrar um urso filhotinho para levar para casa... e eu sempre te pegava no colo, te punha de cabeça para baixo e falava que era mais fácil achar um javali! Você saia correndo, rindo... mas ficava sempre perto dos nossos olhos com medo do javali aparecer! Funcionou por algum tempo, lembra?! Até você decidir que medo não existia. Já tem tantos anos isso! Uns 15? 16? Mas voltando ao assunto, para não me alongar muito nessa carta. Apareceu um forasteiro na vila e o encontrei lá no cruzeiro. Ele tinha uma aparência suja, embora de olhar muito carinhoso. Já estava perto de anoitecer e me perguntou se havia algum lugar onde podia se hospedar antes da noite cair. Eu não ri, porque não riu para estranhos, mas disse que podia dormir no palheiro, que era o lugar mais confortável que encontraria naquelas redondezas. Ele não entendeu que estava brincando e aceitou minha sugestão. Descemos juntos a rua de pedra, ele voltando o caminho que tinha avançado e eu empurrando a bicicleta. Não trocamos uma só palavra, mas ele ganhou minha simpatia. Já não sabia mais para onde leva-lo, já não existem palheiros aqui como antigamente. Então o trouxe para casa. E é isso, querida, que preciso contar-te, o forasteiro ficou. Já tem dois dias que vem dormir. Passa a tarde inteira no rio gelado e volta quando escurece trazendo as garrafas cheias de agua da fonte, cerejas, que como disse, estão muito doces e sempre uma nova história. Me perguntou se podia ficar uns dias, que estava cansado, que me pagava bem... e eu não pude negar... aceitei.... não sei, mas acho que por detrás daquela barba suja... é seu tio.
Não conte para os outros... as vezes o coração quer acreditar. Sei que não passo perigo, então fique tranquila e mande beijos para os seus e para os meus também.