Sumiu tudo??
Sumiu nao!
Sabe aquele dever de casa de artes que a gente fazia um disco, dividia em pedacos, como fatias de pizza, pintava cada canto de uma cor e rodava... para descobrir que cor era a juncao de todas as cores... pois... era branco.
Nao faz mais sentido para mim colorir caos... por mais que ache esse nome interessante e curioso para um blog... passei de ano e agora vem uma nova serie...
Os posts antigos foram quase-cuidadosamente selecionados e viraram um e-livro chamado: Ela coloriu o caos! Rs! Para quem acompanha o blog e quiser adquirir o seu exemplar (com capa e dedicatoria e tudo!) me manda um email : milanunez@hotmail.com que eu mando. O preco modico è me responder: Qual a sua cor preferida?
È isso!!
Seja bem vindo. A casa è sua, pode entrar:
acasadeemilia.blogspot.com
terça-feira, 4 de agosto de 2009
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Virar homem
O pequeno menino lobo, meu querido peter pan...
Como vai você?
Te vejo sempre quando ainda tenho sono... e você parece tão desperto... ali, na primeira fila, ali, atento.
Mas eu te vejo e demoro de te reconhecer...
Onde você foi morar? Mudança... Sei como é morar na mudança...
Cortou os cabelos, escolheu bonitos óculos, roupas que cobrem bem o corpo, escondem qualquer indicio...
Onde anda você, menino?
Onde é que você mora agora?
Ali dentro... quando eu te escuto...só quando você sai de dentro de você. Só quando você canta e mesmo assim... até sua canção mudou.
Você me diz:
Escolhi ser homem.
Mas tu é mesmo e sempre foi, querido, um homem de família...
Como vai você?
Te vejo sempre quando ainda tenho sono... e você parece tão desperto... ali, na primeira fila, ali, atento.
Mas eu te vejo e demoro de te reconhecer...
Onde você foi morar? Mudança... Sei como é morar na mudança...
Cortou os cabelos, escolheu bonitos óculos, roupas que cobrem bem o corpo, escondem qualquer indicio...
Onde anda você, menino?
Onde é que você mora agora?
Ali dentro... quando eu te escuto...só quando você sai de dentro de você. Só quando você canta e mesmo assim... até sua canção mudou.
Você me diz:
Escolhi ser homem.
Mas tu é mesmo e sempre foi, querido, um homem de família...
O interior do meu avô
- Trás um requeijão
- E uma goiabada
- Trás um bolo de rolo
- Trás uma marmelada
- Não tem essas coisas lá não...
- E tem o que?
- Só lembro mesmo da cereja e dos morangos. Mas deve ter algum doce. Eu trago o que tiver.
- Onde é mesmo que você vai? E fica onde?
- Pro interior do meu avô..
Ainda tá longe, longe...
ele me pergunta apreensivo:
- E você vai comer o que lá Milinha?
- Eu aprendi a fazer caldo galego vô.
- E tem tortilha de batatas.
- Vô, voce lembra daquela vez que me disse o quanto era mais fácil rir do que chorar?
- Lembro não, filha, lembro não. Mas lembro que voce gritava na roda gigante: Medo não existe! Medo não existe! Era tão pequeninha... com aquele cabelo de ninho de moribundo... E eu tremendo de medo segurando sua mãozinha.
- E uma goiabada
- Trás um bolo de rolo
- Trás uma marmelada
- Não tem essas coisas lá não...
- E tem o que?
- Só lembro mesmo da cereja e dos morangos. Mas deve ter algum doce. Eu trago o que tiver.
- Onde é mesmo que você vai? E fica onde?
- Pro interior do meu avô..
Ainda tá longe, longe...
ele me pergunta apreensivo:
- E você vai comer o que lá Milinha?
- Eu aprendi a fazer caldo galego vô.
- E tem tortilha de batatas.
- Vô, voce lembra daquela vez que me disse o quanto era mais fácil rir do que chorar?
- Lembro não, filha, lembro não. Mas lembro que voce gritava na roda gigante: Medo não existe! Medo não existe! Era tão pequeninha... com aquele cabelo de ninho de moribundo... E eu tremendo de medo segurando sua mãozinha.
domingo, 31 de maio de 2009
sexta-feira, 29 de maio de 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Carlos foi meu primeiro amor
Carlos morreu
Morreu velhinho
E eu o amo sem pensar nas rugas
E até achando bonito tantos anos impressos no rosto
Sem lembrar dos óculos
e os vestindo para ler seus poemas
Sem o ver grisalho
Mas o sabendo, branca neve
Carlos morreu velho,
ficou fraquinho
um franguinho miúdo
E eu o amo
com o amor que só se devota
aos poetas
Ficaria horas, dias, uma vida
Amando Carlos
Carlos foi meu primeiro amor
Se se chamasse Raimundo
Talvez não o fosse.
Carlos morreu
Morreu velhinho
E eu o amo sem pensar nas rugas
E até achando bonito tantos anos impressos no rosto
Sem lembrar dos óculos
e os vestindo para ler seus poemas
Sem o ver grisalho
Mas o sabendo, branca neve
Carlos morreu velho,
ficou fraquinho
um franguinho miúdo
E eu o amo
com o amor que só se devota
aos poetas
Ficaria horas, dias, uma vida
Amando Carlos
Carlos foi meu primeiro amor
Se se chamasse Raimundo
Talvez não o fosse.
terça-feira, 26 de maio de 2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Lembro
Com algum atraso
Me questiono o que descia no mar naquela noite
Aquele céu bem escuro e depois clarão
As mãos na areia
A noite bem cheia, sem lua
No inesperado
de uma voz que eu quase não conhecia
Mas que de mim sabia cada linha.
Me questiono o que descia no mar naquela noite
Aquele céu bem escuro e depois clarão
As mãos na areia
A noite bem cheia, sem lua
No inesperado
de uma voz que eu quase não conhecia
Mas que de mim sabia cada linha.
De cama
O corpo reclama
Incendeia
Dói
A boca fica vermelha, a bochecha fica vermelha,
os olhos querem fechar
Eu pulo da cama
Não gosto de remédio
Não gosto de cama
Mas o corpo manda
O corpo manda
deitar de novo
O corpo manda esperar mais um pouco
O corpo reclama
Eu me deito
Incendeia
Dói
A boca fica vermelha, a bochecha fica vermelha,
os olhos querem fechar
Eu pulo da cama
Não gosto de remédio
Não gosto de cama
Mas o corpo manda
O corpo manda
deitar de novo
O corpo manda esperar mais um pouco
O corpo reclama
Eu me deito
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Circo
Ele atende. Sai de perto das crianças. Agora é assunto de gente grande.
Vamos lá. Do ponto de vista subjetivo não posso opinar muito. Mas posso falar sobre o operacional... a logística. Disso eu entendo.
(...)
É como em um trapézio. Você está balançando, pêndulo, de um lado para o outro. Se você vai se jogar.... Ao menos arme a rede de segurança... ou então você vai cair no chão, e, parece que machuca.
O espetáculo das trapezistas, contorcionistas, equilibristas...
palhacinhas que fazem graça do que sentem...
Vamos lá. Do ponto de vista subjetivo não posso opinar muito. Mas posso falar sobre o operacional... a logística. Disso eu entendo.
(...)
É como em um trapézio. Você está balançando, pêndulo, de um lado para o outro. Se você vai se jogar.... Ao menos arme a rede de segurança... ou então você vai cair no chão, e, parece que machuca.
O espetáculo das trapezistas, contorcionistas, equilibristas...
palhacinhas que fazem graça do que sentem...
Olha o tamanho e a forma, escolhe
Apalpa e aperta
Enfia os dedos para sacar a semente
Lambuza as mãos
Lambe a colher, só para provar
Mexe mais um pouquinho
Sente os cheiros
As texturas
As cores
Acrescenta ingredientes novos e sal a gosto
Aumenta o fogo
Tem o ponto certo
Não para de mexer
Não para
Não para
se não embola
Apalpa e aperta
Enfia os dedos para sacar a semente
Lambuza as mãos
Lambe a colher, só para provar
Mexe mais um pouquinho
Sente os cheiros
As texturas
As cores
Acrescenta ingredientes novos e sal a gosto
Aumenta o fogo
Tem o ponto certo
Não para de mexer
Não para
Não para
se não embola
tangerina
Tangerina
é a inspiração do pacote de biscoito.
A gente leva na bolsa.
O semáfaro. O saquinho amarelo. O moço.
Seis por cinco freguesa. Dois leva. Vá com Deus.
Tangerina é cheia de gominhos,
de sorrisos,
um a um.
Tangerina boa é tangerina de sinaleira.
Aquela que a gente enfia o dedo e sente que
dá para ir um pouquinho mais fundo
Ai tira a casca,
faz até um compartimento para guardar as
sementes e não sujar o carro.
é a inspiração do pacote de biscoito.
A gente leva na bolsa.
O semáfaro. O saquinho amarelo. O moço.
Seis por cinco freguesa. Dois leva. Vá com Deus.
Tangerina é cheia de gominhos,
de sorrisos,
um a um.
Tangerina boa é tangerina de sinaleira.
Aquela que a gente enfia o dedo e sente que
dá para ir um pouquinho mais fundo
Ai tira a casca,
faz até um compartimento para guardar as
sementes e não sujar o carro.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Top Top
- Tá fazendo o que Milinha?
- Tô separando umas músicas, vô!
- Ahhhhhhhhh.... Nirvana... É bom? É do curso de meditação é?
TOP TOP - Topa?!
Feu Veiga e Emília Nunez - Flauer on the rocks!
Nosso set vai ser bem diversificado, levando em conta as referências que convergiram na estrada da Flauer e as pessoais também. Indo de clássicos do Rock como Nirvana, Janis Joplin, The Cure, Smashing Pumpkins, até a música brasileira com Mutantes, Tom Zé, Caetano, Mombojó. Passando pelas bandas com meninas como Elastica, Sleater Kinney, Butchies, Breeders, L7, até os nomes mais atuais como Cibelle, Kate Nash, Paris Combo, Aurevoir Simone, Pretty Girls Make Graves, Belle et Sebastian... E muitas cositas dançantes!
FLAUER
A Flauer é uma banda de Salvador formada no final de 2003, cujas influências passam pelo rock e suas diversas vertentes e pela música brasileira sem, no entanto, obedecer a uma rigidez em qualquer desses estilos. Pronta para sacudir o esqueleto e usar toda a imaginação, a Flauer tem como proposta expressar as sensações despertadas pela vida cotidiana e os sentimentos transformando-os em música e para este propósito abusa da subjetividade das palavras e sons. Músicas em português, inglês e francês de autoria própria compõem o seu repertório atual, além de versões de músicas já consagradas, como A História de Lily Braum de Chico Buarque e Baby de Caetano Veloso. A amizade e os desejos em comum de Fernanda Veiga (vocalista) , Emília Núñez (guitarrista), Fernanda Félix (baixo), Mariana Drummond (bateria) foram os precursores do projeto inicial do que hoje é a Flauer, agora com Daniel Rebouças na guitarra e Lua Brasil no sintetizador. Pela banda passaram também Carol Petersen, Leonardo Mitchell e Marcelo Adam, todos na guitarra. "E se for dessa vez...", primeiro trabalho da banda, gravado e mixado no estúdio Casa das Máquinas por Tadeu Mascarenhas e fruto da parceria dos selos BigBross e MuvDiscos, foi lançado em 2006, contendo oito musicas próprias. E em 2007 foi gravado o primeiro clipe da banda com a música Você só mente, uma versão da letra de Noel Rosa, dirigido por Gustavo Seabra. Atualmente a banda está preparando seu novo Cd que estará disponível no segundo semestre de 2009.
Fernanda Veiga:
A Flauer foi sua primeira banda e uma ponte para estreitar a relação com a música. Tudo começou na adolescência, com influência de Alanis Morissette e em seguida de bandas de grunge como Pearl Jam, bandas de meninas como Sleater Kinney, Helium, Le Tigre e cantoras brasileiras como Elis Regina e Marisa Monte. Daí em diante o mundo da música foi se mostrando e a cada dia lhe desenhando novos caminhos e possibilidades. Hoje prefere ritmos mais leves e muita mistura, tem carinho especial por moças no vocal, sobretudo as de personalidade. Considera a mistura de ritmos um dos melhores adventos da música contemporânea. Seu instrumento é o canto, sua voz um soprano sem tanta técnica, mas com muita vontade. Atualmente na "vitrola" tocam: Cibelle, Kate Nash, Tom Zé, Bebel Gilberto, Tryo, Yael Naim, Nouvelle Vague, Ani di Franco, Novos Baianos, Mariene de Castro e Batatinha.
Emília Núñez:
Emília é guitarrista da Flauer. Tocou em outras bandas como Lucy in the Sky e Benjá. Acredita que música boa movimenta... seja o corpo, seja o sentimento, seja a imaginação e que o que vale mesmo é a sinceridade! Gosta de misturar música e poesia, música e imagens, música e chocolate... Acha que a criatividade não tem limites, que o "Faça você mesmo" é o grande mandamento das bandas alternativas e que no final se foi divertido valeu a pena! Se encanta com Chico e Andrew Bird. Dança com Strokes e Lenine. Gosta muito da tropicália e acha os Mutantes incríveis. Se emociona com Elis e Janis. Gosta da mistura. Gosta do inusitado e dos clássicos. Gosta de barulho, mas também de sutilezas. Na vitrola tem tocado: Jawbreaker, Foo Fighters, Dan Sartain,Tom e Vinicius, Pretty girls make graves, Au revoir Simone, Novos Baianos, Fiona Apple, Ra Ra Riot, Cidadão Instigado, Eddie, Rancid, Sleater Kinney e Hot Water Music.
- Tô separando umas músicas, vô!
- Ahhhhhhhhh.... Nirvana... É bom? É do curso de meditação é?
TOP TOP - Topa?!
Feu Veiga e Emília Nunez - Flauer on the rocks!
Nosso set vai ser bem diversificado, levando em conta as referências que convergiram na estrada da Flauer e as pessoais também. Indo de clássicos do Rock como Nirvana, Janis Joplin, The Cure, Smashing Pumpkins, até a música brasileira com Mutantes, Tom Zé, Caetano, Mombojó. Passando pelas bandas com meninas como Elastica, Sleater Kinney, Butchies, Breeders, L7, até os nomes mais atuais como Cibelle, Kate Nash, Paris Combo, Aurevoir Simone, Pretty Girls Make Graves, Belle et Sebastian... E muitas cositas dançantes!
FLAUER
A Flauer é uma banda de Salvador formada no final de 2003, cujas influências passam pelo rock e suas diversas vertentes e pela música brasileira sem, no entanto, obedecer a uma rigidez em qualquer desses estilos. Pronta para sacudir o esqueleto e usar toda a imaginação, a Flauer tem como proposta expressar as sensações despertadas pela vida cotidiana e os sentimentos transformando-os em música e para este propósito abusa da subjetividade das palavras e sons. Músicas em português, inglês e francês de autoria própria compõem o seu repertório atual, além de versões de músicas já consagradas, como A História de Lily Braum de Chico Buarque e Baby de Caetano Veloso. A amizade e os desejos em comum de Fernanda Veiga (vocalista) , Emília Núñez (guitarrista), Fernanda Félix (baixo), Mariana Drummond (bateria) foram os precursores do projeto inicial do que hoje é a Flauer, agora com Daniel Rebouças na guitarra e Lua Brasil no sintetizador. Pela banda passaram também Carol Petersen, Leonardo Mitchell e Marcelo Adam, todos na guitarra. "E se for dessa vez...", primeiro trabalho da banda, gravado e mixado no estúdio Casa das Máquinas por Tadeu Mascarenhas e fruto da parceria dos selos BigBross e MuvDiscos, foi lançado em 2006, contendo oito musicas próprias. E em 2007 foi gravado o primeiro clipe da banda com a música Você só mente, uma versão da letra de Noel Rosa, dirigido por Gustavo Seabra. Atualmente a banda está preparando seu novo Cd que estará disponível no segundo semestre de 2009.
Fernanda Veiga:
A Flauer foi sua primeira banda e uma ponte para estreitar a relação com a música. Tudo começou na adolescência, com influência de Alanis Morissette e em seguida de bandas de grunge como Pearl Jam, bandas de meninas como Sleater Kinney, Helium, Le Tigre e cantoras brasileiras como Elis Regina e Marisa Monte. Daí em diante o mundo da música foi se mostrando e a cada dia lhe desenhando novos caminhos e possibilidades. Hoje prefere ritmos mais leves e muita mistura, tem carinho especial por moças no vocal, sobretudo as de personalidade. Considera a mistura de ritmos um dos melhores adventos da música contemporânea. Seu instrumento é o canto, sua voz um soprano sem tanta técnica, mas com muita vontade. Atualmente na "vitrola" tocam: Cibelle, Kate Nash, Tom Zé, Bebel Gilberto, Tryo, Yael Naim, Nouvelle Vague, Ani di Franco, Novos Baianos, Mariene de Castro e Batatinha.
Emília Núñez:
Emília é guitarrista da Flauer. Tocou em outras bandas como Lucy in the Sky e Benjá. Acredita que música boa movimenta... seja o corpo, seja o sentimento, seja a imaginação e que o que vale mesmo é a sinceridade! Gosta de misturar música e poesia, música e imagens, música e chocolate... Acha que a criatividade não tem limites, que o "Faça você mesmo" é o grande mandamento das bandas alternativas e que no final se foi divertido valeu a pena! Se encanta com Chico e Andrew Bird. Dança com Strokes e Lenine. Gosta muito da tropicália e acha os Mutantes incríveis. Se emociona com Elis e Janis. Gosta da mistura. Gosta do inusitado e dos clássicos. Gosta de barulho, mas também de sutilezas. Na vitrola tem tocado: Jawbreaker, Foo Fighters, Dan Sartain,Tom e Vinicius, Pretty girls make graves, Au revoir Simone, Novos Baianos, Fiona Apple, Ra Ra Riot, Cidadão Instigado, Eddie, Rancid, Sleater Kinney e Hot Water Music.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Preciso de uma camera!
Tudo solto.
-Sara Fernandez Sotto (Sarita) - Professora - Regime de Franco - Religião - ABC, alguma coisa de geografia - Eu era bom mesmo em matemática - Era esforçado, era dedicado. Ela tinha nascido na Bahia (?!! Mundo mundo vasto mundo... se eu me chamasse Raimundo... haveria tantas coincidências???)
- 6 anos - Guerra Civil espanhola - 10 anos - 2 guerra mundial - Poucas festas nessa época. A gente sentia os reflexos da guerra. Como todo o mundo sentiu.
- 17 anos - Ferreiro - Fazia ferramentas para escavação - Na Ferrocarril.
- Não tinha rádio
- Pombo correio - Colocava a carta no pezinho do pombo, o pombo treinado!
- Jornal de Vigo
- A linha de trem foi construída na década de sessenta
- Plantavam batata, trigo - tudo que desse. dava muita coisa.
- Namoradas?! Sim... sim... tive algumas namoradas no pueblo.
- Laura ( a vó do meu amigo Julito!!! rs) foi minha namorada também. Mas o pessoal lá era moderno. Quando soube que eu ia para o Brasil disse que eu podia escrever uma carta, mas que não dava para ter nada sério.
- Teve uns amores. Nessa idade tem aquelas... (coloca a mão no peito). Aquela coisa que mexe mais...
- Teve uma em Campos Bezerro que mexia e que disse que queria namorar comigo. Jozefa (Lê Rozefa). Mas ela tinha namorado e o namorado mandou recado para eu não me aproximar, que ela era namorada dele. Ah... ela casou, teve filhos, netos, deve ter morrido já.
- Luiza e ___ (esqueci!) ... tiveram muitas. Tinha muitas garotas bonitas. E elas eram todas amigas.
- Mas o que eu gostava mesmo era de dançar! Eu dançava bem! Tinha o bolero, eu lembro bem, e a valsa e o passo doble e o começo do tango. Eu lembro bem! Dançava muito! Eram umas festas boas!
- E aqui no Brasil também. Era trabalho, trabalho. Mas eu cheguei com 20 anos... tinham aquelas festas, eu namorava também. Mas foi lá na Espanha que comecei a passar a linha (rs!)...
- Era bom!
O velho Benjamim é um homem bonito aos oitenta. Aos vinte... Sorri ao contar...
" Mas passa! O bom da vida é viver. Viver com alegria! Tem que ter uma ilusão... e otimismo... era muito frio no inverno e ninguém reclamava. A gente vivia aquela vida ali e era bom.
-Sara Fernandez Sotto (Sarita) - Professora - Regime de Franco - Religião - ABC, alguma coisa de geografia - Eu era bom mesmo em matemática - Era esforçado, era dedicado. Ela tinha nascido na Bahia (?!! Mundo mundo vasto mundo... se eu me chamasse Raimundo... haveria tantas coincidências???)
- 6 anos - Guerra Civil espanhola - 10 anos - 2 guerra mundial - Poucas festas nessa época. A gente sentia os reflexos da guerra. Como todo o mundo sentiu.
- 17 anos - Ferreiro - Fazia ferramentas para escavação - Na Ferrocarril.
- Não tinha rádio
- Pombo correio - Colocava a carta no pezinho do pombo, o pombo treinado!
- Jornal de Vigo
- A linha de trem foi construída na década de sessenta
- Plantavam batata, trigo - tudo que desse. dava muita coisa.
- Namoradas?! Sim... sim... tive algumas namoradas no pueblo.
- Laura ( a vó do meu amigo Julito!!! rs) foi minha namorada também. Mas o pessoal lá era moderno. Quando soube que eu ia para o Brasil disse que eu podia escrever uma carta, mas que não dava para ter nada sério.
- Teve uns amores. Nessa idade tem aquelas... (coloca a mão no peito). Aquela coisa que mexe mais...
- Teve uma em Campos Bezerro que mexia e que disse que queria namorar comigo. Jozefa (Lê Rozefa). Mas ela tinha namorado e o namorado mandou recado para eu não me aproximar, que ela era namorada dele. Ah... ela casou, teve filhos, netos, deve ter morrido já.
- Luiza e ___ (esqueci!) ... tiveram muitas. Tinha muitas garotas bonitas. E elas eram todas amigas.
- Mas o que eu gostava mesmo era de dançar! Eu dançava bem! Tinha o bolero, eu lembro bem, e a valsa e o passo doble e o começo do tango. Eu lembro bem! Dançava muito! Eram umas festas boas!
- E aqui no Brasil também. Era trabalho, trabalho. Mas eu cheguei com 20 anos... tinham aquelas festas, eu namorava também. Mas foi lá na Espanha que comecei a passar a linha (rs!)...
- Era bom!
O velho Benjamim é um homem bonito aos oitenta. Aos vinte... Sorri ao contar...
" Mas passa! O bom da vida é viver. Viver com alegria! Tem que ter uma ilusão... e otimismo... era muito frio no inverno e ninguém reclamava. A gente vivia aquela vida ali e era bom.
Roubou um pedaço da minha noite
Ou fui eu quem te dei o começo da minha manhã
num sorriso de quem faz sonho com o corpo?
O despertador não me faz cócegas
Me cubro, o corpo todo, para não amanhecer em baixo da coberta
A aula pode esperar, não sente sequer minha falta
Só a caderneta que lembra meu nome e marca um fê
Eu até sinto falta do professor de terno azul, cabelos cinzas...
E ele troca meu nome
Não sabe que a moça para quem ele ri na rampa, Inês
É a Emília da caderneta
Mas eu não te conto... e você não me reprova
Estamos combinados?
Ou fui eu quem te dei o começo da minha manhã
num sorriso de quem faz sonho com o corpo?
O despertador não me faz cócegas
Me cubro, o corpo todo, para não amanhecer em baixo da coberta
A aula pode esperar, não sente sequer minha falta
Só a caderneta que lembra meu nome e marca um fê
Eu até sinto falta do professor de terno azul, cabelos cinzas...
E ele troca meu nome
Não sabe que a moça para quem ele ri na rampa, Inês
É a Emília da caderneta
Mas eu não te conto... e você não me reprova
Estamos combinados?
A lenda de Abaeté (Verão 2)
Em breve.
Para lembrar:
- Dorival tem um filho com a lagoa
- O filho cresce, cresce
- Toda vez que ele fala a terra treme
- Cresce tanto que não cabe mais na lagoa, foge
- Oxum sai para procura-lo
- O encontra chorando defronte ao mar
- Yemanjá comovida com a dor do rapaz o transforma em uma pedra
- Oxum, para não morrer de saudades do filho implora que Yemanjá ao menos o deixe cantar
- Yemanjá concede o pedido
- A pedra ronca em Itapoã
Para lembrar:
- Dorival tem um filho com a lagoa
- O filho cresce, cresce
- Toda vez que ele fala a terra treme
- Cresce tanto que não cabe mais na lagoa, foge
- Oxum sai para procura-lo
- O encontra chorando defronte ao mar
- Yemanjá comovida com a dor do rapaz o transforma em uma pedra
- Oxum, para não morrer de saudades do filho implora que Yemanjá ao menos o deixe cantar
- Yemanjá concede o pedido
- A pedra ronca em Itapoã
A lenda do abaeté (versão1)
"No abaeté tem uma lagoa escura."
Dorival corria nas areias alvas que faziam moldura para lagoa de Itapoã. Descia rolando nas terras brancas e caia na agua gelada, alma da chuva e dos rios , se arrepiando todo.
Olhava as lavadeiras, moças bonitas e coloridas, roupas limpas, braços fortes... se apaixonou.
Eis que um dia, correu a notícia que Maricotinha, sua pequena, tinha sido levada pela lagoa, engolida pelo redemoinho e puxada para bem fundo das águas escuras.
Desesperado Dorival correu até o terreiro e ajoelhou-se defronte Mãe Menininha implorando que lhe ajudasse a recuperar Maricotinha.
- Oxum. Peça para Oxum devolver sua amada.
No sábado, dia de Oxum, de peito liso e calça branca,capoeira, gritou alto, ressonando por toda Salvador: Erieiê ô ! Erieiê ô ! Erieiê ô !
Se jogou nas águas pretas e afundou, afundou. A Lua namorava a lagoa, deu sorte. Já no fundo, perto da areia que não se toca, nem com os pés, viu flutuando Maricotinha.
Com as flores amarelas, os espelhos e a champagne clamou para Oxum que deixasse levar de volta sua amada.
Oxum, porém, pediu algo a mais em troca.
Nove meses depois Dorival se jogou nas águas com seu primogénito no colo.
- Eis ele, Oxum. Me devolveu a amada e prometera que cuidaria do parto e o fez. É um menino bem grande e é seu.
Oxum pegou o infante no colo, sorriu e decretou.
- És homem honrado. A partir de hoje a lagoa se chama Abaeté. Toma teu filho de volta. Em troca quero que fundes uma festa, que me tragam oferendas e que leve a Bahia na voz, que será mais forte que trovão.
Dorival emocionado voltou e cumpriu todas as promessas.
*Abaeté em tupi é homem honrado.
Dorival corria nas areias alvas que faziam moldura para lagoa de Itapoã. Descia rolando nas terras brancas e caia na agua gelada, alma da chuva e dos rios , se arrepiando todo.
Olhava as lavadeiras, moças bonitas e coloridas, roupas limpas, braços fortes... se apaixonou.
Eis que um dia, correu a notícia que Maricotinha, sua pequena, tinha sido levada pela lagoa, engolida pelo redemoinho e puxada para bem fundo das águas escuras.
Desesperado Dorival correu até o terreiro e ajoelhou-se defronte Mãe Menininha implorando que lhe ajudasse a recuperar Maricotinha.
- Oxum. Peça para Oxum devolver sua amada.
No sábado, dia de Oxum, de peito liso e calça branca,capoeira, gritou alto, ressonando por toda Salvador: Erieiê ô ! Erieiê ô ! Erieiê ô !
Se jogou nas águas pretas e afundou, afundou. A Lua namorava a lagoa, deu sorte. Já no fundo, perto da areia que não se toca, nem com os pés, viu flutuando Maricotinha.
Com as flores amarelas, os espelhos e a champagne clamou para Oxum que deixasse levar de volta sua amada.
Oxum, porém, pediu algo a mais em troca.
Nove meses depois Dorival se jogou nas águas com seu primogénito no colo.
- Eis ele, Oxum. Me devolveu a amada e prometera que cuidaria do parto e o fez. É um menino bem grande e é seu.
Oxum pegou o infante no colo, sorriu e decretou.
- És homem honrado. A partir de hoje a lagoa se chama Abaeté. Toma teu filho de volta. Em troca quero que fundes uma festa, que me tragam oferendas e que leve a Bahia na voz, que será mais forte que trovão.
Dorival emocionado voltou e cumpriu todas as promessas.
*Abaeté em tupi é homem honrado.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Neutra
- Eu acho que fui neutra demais.
- Você é a medida certa...não sufoca a palavra, porém. Não sufoca o sentimento.
- Você é a medida certa...não sufoca a palavra, porém. Não sufoca o sentimento.
Respirar
Estala os dedos.
Aqui.
O agora está aqui.
Estala os dedos.
O agora está aqui, agora!
Aqui!
E sorri, rindo, de como o tempo é
Respirar
Estala os dedos.
Aqui.
O agora está aqui.
Estala os dedos.
O agora está aqui, agora!
Aqui!
O agora está sempre pronto para se vivido.
E sorri, rindo, de como o tempo é tão avesso ao que não seja agora e como, porém, brinca de picula com os estalos de dedos e palavras.
Os bebes riem 4oo vezes por dia. O que acontece na vida para aprendermos tanto, tanta coisa... e sorrirmos menos?
Eu fiquei pensando em como queria ver-la rir. Dizer que queria não era suficiente?... Havia um certo cuidado naquela interdição e eu entendia, não concordava, não gostava, mas respeitava. Não com um respeito de filha assustada... mas com um respeito de irmã que cuida. Queria tanto ver-la sorrir e brincar enquanto ela não entende... enquanto seus pés e mãos são miúdos, enquanto seu cheiro ainda é tão inocente... enquanto ela ainda se torna gente... e é agora que a gente "se" aprende, eu e ela, como sermos irmãs. Mas eu espero. Eu respeito. Eu sinto muito nos colocarem no meio disso... mas eles são os pais. E apesar de ter idade de ser mãe dela... ela tem mãe, pai, vó, e também tem irmãos, três irmãos... e isso ninguém pode mudar, ninguém pode adiar, ninguém pode...
Estalo os dedos. Sorriso que talvez coincida. Energia, eu acredito... O agora está sempre pronto...
Aqui.
O agora está aqui.
Estala os dedos.
O agora está aqui, agora!
Aqui!
O agora está sempre pronto para se vivido.
E sorri, rindo, de como o tempo é tão avesso ao que não seja agora e como, porém, brinca de picula com os estalos de dedos e palavras.
Os bebes riem 4oo vezes por dia. O que acontece na vida para aprendermos tanto, tanta coisa... e sorrirmos menos?
Eu fiquei pensando em como queria ver-la rir. Dizer que queria não era suficiente?... Havia um certo cuidado naquela interdição e eu entendia, não concordava, não gostava, mas respeitava. Não com um respeito de filha assustada... mas com um respeito de irmã que cuida. Queria tanto ver-la sorrir e brincar enquanto ela não entende... enquanto seus pés e mãos são miúdos, enquanto seu cheiro ainda é tão inocente... enquanto ela ainda se torna gente... e é agora que a gente "se" aprende, eu e ela, como sermos irmãs. Mas eu espero. Eu respeito. Eu sinto muito nos colocarem no meio disso... mas eles são os pais. E apesar de ter idade de ser mãe dela... ela tem mãe, pai, vó, e também tem irmãos, três irmãos... e isso ninguém pode mudar, ninguém pode adiar, ninguém pode...
Estalo os dedos. Sorriso que talvez coincida. Energia, eu acredito... O agora está sempre pronto...
domingo, 17 de maio de 2009
Seu avô tem gênio
Eu ri porque sabia que ele ia voltar... Saiu xingando alto e voltou:
-Mila, você tá ficando mal da cabeça! Filmar o que? Filmar o que? Para que filmar aquilo lá...Isso é até humilhar. Filmar a casa de pedra no chão. Para que? Para que? Você vai lá desde pequena... você já sabe toda a história. Eu nasci lá...naquela casa que caiu... você já sabe toda história. Tem coisa que eu lembro... quando eu era pequeno gostava muito dos animais... isso eu lembro... com dois anos ia no curral brincar com os cabritinhos, eu lembro que botava o dedo na boquinha deles e eles chupavam, disso eu lembro. E com cinco anos já tinha responsabilidade, não era brincar não... Era trabalhar mesmo. Eu alimentava as galinhas e recolhia os ovos. Meu pai tinha muito filho e muito bicho. Tinha que arrumar um jeito de alimentar tanta gente e a gente trabalhava, plantava muito... aquela coisa de viver junto da natureza. Mas você já sabe tudo, ora. Já sabe tudo. Porra (com muito sotaque) para que filmar? Você tá ficando maluca!Colhianos o feno, hera, chama era em galego (coloca o sotoque e estufa o peito)... e no inverno os animais comiam porque era neve por todos os lados, não tinha como sair... era muita neve. E eles quem aqueciam a casa, não tinha luz... aquecedor... nada... A primeira vez que sair de Portocamba... passei 9 dias em Lisboa... na pensao de uma velhinha...
Foi andando e falando, um sorriso leve no rosto...
- Ai vô... tem tanta coisa para a gente filmar!
- Como filmar Mila?! Como filmar?
- A história vô!
- E como voce vai arrumar os animais? E a neve? Historia é o que a gente faz aqui e agora! Aqui e agora, Mila! Você é toda diferente... toda diferente... Olha... seu avô tem gênio, seu avô tem gênio, viu?
Saiu bradando!
Se eu tivesse uma câmera no olho... meu documentário já estava pronto!
Meia hora depois ele volta, entra no meu quarto, reclama da bagunça, me chama para comer sopa...
- Você está ficando alopradinha... ri.
- Porque vô?
- Olha ai... você é toda diferente...
Lembrar de onde veio... meu avô tem gênio...
-Mila, você tá ficando mal da cabeça! Filmar o que? Filmar o que? Para que filmar aquilo lá...Isso é até humilhar. Filmar a casa de pedra no chão. Para que? Para que? Você vai lá desde pequena... você já sabe toda a história. Eu nasci lá...naquela casa que caiu... você já sabe toda história. Tem coisa que eu lembro... quando eu era pequeno gostava muito dos animais... isso eu lembro... com dois anos ia no curral brincar com os cabritinhos, eu lembro que botava o dedo na boquinha deles e eles chupavam, disso eu lembro. E com cinco anos já tinha responsabilidade, não era brincar não... Era trabalhar mesmo. Eu alimentava as galinhas e recolhia os ovos. Meu pai tinha muito filho e muito bicho. Tinha que arrumar um jeito de alimentar tanta gente e a gente trabalhava, plantava muito... aquela coisa de viver junto da natureza. Mas você já sabe tudo, ora. Já sabe tudo. Porra (com muito sotaque) para que filmar? Você tá ficando maluca!Colhianos o feno, hera, chama era em galego (coloca o sotoque e estufa o peito)... e no inverno os animais comiam porque era neve por todos os lados, não tinha como sair... era muita neve. E eles quem aqueciam a casa, não tinha luz... aquecedor... nada... A primeira vez que sair de Portocamba... passei 9 dias em Lisboa... na pensao de uma velhinha...
Foi andando e falando, um sorriso leve no rosto...
- Ai vô... tem tanta coisa para a gente filmar!
- Como filmar Mila?! Como filmar?
- A história vô!
- E como voce vai arrumar os animais? E a neve? Historia é o que a gente faz aqui e agora! Aqui e agora, Mila! Você é toda diferente... toda diferente... Olha... seu avô tem gênio, seu avô tem gênio, viu?
Saiu bradando!
Se eu tivesse uma câmera no olho... meu documentário já estava pronto!
Meia hora depois ele volta, entra no meu quarto, reclama da bagunça, me chama para comer sopa...
- Você está ficando alopradinha... ri.
- Porque vô?
- Olha ai... você é toda diferente...
Lembrar de onde veio... meu avô tem gênio...
sábado, 16 de maio de 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Parece tao simples
O rosto certo, talvez
Ou o prazer de degustar as palavras
As linhas,
deixar a língua lamber cada letra antes de solta-las
Parece tão lindo
Atravessar a rua
Com o refrão nos pés
com a melodia nas mãos
com a voz dela na cabeça
É tão humano
é tão sorriso
é tão impossível, quase, de se alcançar
E ela faz ser quase nada pegar uma nota e por no lugar certo
Ela faz ser além de desejo
É num sorriso que ela canta as rosas
que ela canta o mel.
O rosto certo, talvez
Ou o prazer de degustar as palavras
As linhas,
deixar a língua lamber cada letra antes de solta-las
Parece tão lindo
Atravessar a rua
Com o refrão nos pés
com a melodia nas mãos
com a voz dela na cabeça
É tão humano
é tão sorriso
é tão impossível, quase, de se alcançar
E ela faz ser quase nada pegar uma nota e por no lugar certo
Ela faz ser além de desejo
É num sorriso que ela canta as rosas
que ela canta o mel.
As crianças de hoje tem muita foto da infância.
É. Tem demais.
Será que a memória vai ficar diferente, Silvia?
Não sei... Eu gosto de poder esquecer algumas coisas.
Eu gosto que as fotos fazem a gente lembrar.Vamos ter um filho?
Tipo experiencia de pesquisa...sabe?
Sei. Acho que não... Só acredito na vida como acidente.
É. Tem demais.
Será que a memória vai ficar diferente, Silvia?
Não sei... Eu gosto de poder esquecer algumas coisas.
Eu gosto que as fotos fazem a gente lembrar.Vamos ter um filho?
Tipo experiencia de pesquisa...sabe?
Sei. Acho que não... Só acredito na vida como acidente.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Tudo a parte
Quando Joana disse que agora queria ser só minha amiga eu estranhei. Amizade de homem e mulher é coisa tão delicada. Eu não aguentaria ver a boca de Joana falando bobagens carnudas sem me atrever a aproximar as respostas. Não necessariamente beija-la, mas quem sabe ficar bem perto, a segundos de distancia, para que ela, então, sussurrasse. Amigos.
E fomos nós, descendo as ruas, sem mãos dadas. Joana não divagava como de costume, respirava ofegante, parecia ansiosa.
Você é mesmo meu amigo?
Se você quer assim Joana, como você quiser eu sou...
Não era da minha vontade essas restrições do amor branco... mas se preferes...
Então, se posso confiar em você, não posso...
Se queres... o que quer dizer?
Você me acha bonita?
Não quis mentir. Singela. Bonita de capa de revista ela não era...
A mais bonita do mundo.
Você acha mesmo?
Não. Tinha Martinha que tinha um jeito de olhar... E tinha Luzia que parecia flutuar... e tinha... Amanda com aquela bunda e Gabriela com aquelas pernas...
Acho. A mais bonita do mundo.
Eu não acredito mais em nada... em nada.
Não entendia o que estava acontecendo ali... Olhava para o céu escuro, para os olhos turvos de Joana, olhava para o céu caindo, os olhos reflexos de Joana.
Vamos juntos, Joana, um dia passa.
Deram-se as mãos. Mas ali não era seguro.
E fomos nós, descendo as ruas, sem mãos dadas. Joana não divagava como de costume, respirava ofegante, parecia ansiosa.
Você é mesmo meu amigo?
Se você quer assim Joana, como você quiser eu sou...
Não era da minha vontade essas restrições do amor branco... mas se preferes...
Então, se posso confiar em você, não posso...
Se queres... o que quer dizer?
Você me acha bonita?
Não quis mentir. Singela. Bonita de capa de revista ela não era...
A mais bonita do mundo.
Você acha mesmo?
Não. Tinha Martinha que tinha um jeito de olhar... E tinha Luzia que parecia flutuar... e tinha... Amanda com aquela bunda e Gabriela com aquelas pernas...
Acho. A mais bonita do mundo.
Eu não acredito mais em nada... em nada.
Não entendia o que estava acontecendo ali... Olhava para o céu escuro, para os olhos turvos de Joana, olhava para o céu caindo, os olhos reflexos de Joana.
Vamos juntos, Joana, um dia passa.
Deram-se as mãos. Mas ali não era seguro.
Censura
A imaginação inventa a cena
As mãos se movimentam
Nenhum movimento
A imaginação é um mistério
A mulher não pode ser proibida
Vai onde quer, quando quer
Sem sinal aparente,
sem toques
sozinha
na sua frente.
As mãos se movimentam
Nenhum movimento
A imaginação é um mistério
A mulher não pode ser proibida
Vai onde quer, quando quer
Sem sinal aparente,
sem toques
sozinha
na sua frente.
terça-feira, 12 de maio de 2009
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Eu esqueço tudo III
Divido a casa com um homem de 80 anos. Na verdade ele carinhosamente me cede um lugar no seu ninho. Passarinho determinado esse. Ninho grande. Podiam aproveitar melhor. A gente fez tanta festinha aqui... tanta coisa... Mudei de quarto. Vim para o mesmo andar que ele. Milinha, você pode ir para o quarto dos armários novos. Eu gosto do quarto onde ouço o barulho dele regando as plantas. Digo que vou me mudar e continuo no quarto de duas camas. Era o quarto de quinquilharia da minha avó. Dividimos a mesa também e desde que não tenho mais ido a faculdade a noite comemos juntos e ele sempre reclama comigo, manda comer mais, comer tudo, tudo, é a maior satisfação que ele tem, me alimentar. Mas Milinha, Salmão não é bicho, é bicho morto. Ele mesmo ri dos argumentos mas respeita que eu não coma mais bichos. Mas briga e briga feio se eu não comer sopa, aimpim, inhame, fruta pão, cuzcuz... tá amarelinha. Não esquece de nada. Absolutamente de nada. Queria saber ser dona de casa para cuidar dele. Ai, meu Deus... que castigo é ficar sem Margarete. E como vai ser em Portocamba Milinha? O que você vai comer? E você sabe cozinhar? Ai meu Deus, Ai meu Deus... Estava no sofá, seis da manhã. Ele com a mão no peito, tanta dor e só saiam grunhidos. Minha Margarete, meu amor, minha mulher. Foi a cena mais comovente que já vi, talvez. Como dói ter um pedaço seu arrancado. A gente volta para casa sem um pedaço, Mila. Disse minha avó quando voltamos do enterro de meu vô José. As lágrimas vêm fácil quando falo dos meus avós, Lua me disse. É verdade.
Eu tenho esquecido tudo, Milinha. Ai, tô ficando perereca. Tô ficando esquecido.
Pela primeira vez levei a sério. Estamos ficando íntimos de sopa...
Esquecendo o que vô?
E ele me disse envergonhado, corando, sem saber para onde olhar. Disse resumido:
- De escovar os dentes.
Me fitou, desafiando... agora acredita?
- De tomar os remédios.
Convencida?
Eu lembrei das minhas amigas que esquecem de tomar a pílula toda semana. Quase perguntei qual o horário que ele esquecia dos dentes... conheço muita gente que esquece...
Mas só ouvi. Disse para ele que acreditava. Eu sei que o senhor está envelhecendo, eu pensei em dizer e não disse.
Ele me mostrou as pernas. Acho que a trombose está voltando, filha. Eu mostrei meus joelhos ralados do futebol.
E você? Vai ser advogada mesmo?
Vou não, vô.
E por que perde tanto tempo nisso?
E eu não sei responder... tava ganhando tempo, vô, talvez.
Ele ri, me mostra todos os defeitos da casa... não esquece nenhum... a infiltração, o cupim, a pintura, a agua da piscina... Essa casa até que está muito boa. Vamos ajudar a Iza colocar o telhado? Vamos vô. Eu dei cinquenta reais de um som que eu vendi. É, eu vou ajudar ela. Ela me disse mas não pediu nada... Mas eu não esqueci.
Eu tenho esquecido tudo, Milinha. Ai, tô ficando perereca. Tô ficando esquecido.
Pela primeira vez levei a sério. Estamos ficando íntimos de sopa...
Esquecendo o que vô?
E ele me disse envergonhado, corando, sem saber para onde olhar. Disse resumido:
- De escovar os dentes.
Me fitou, desafiando... agora acredita?
- De tomar os remédios.
Convencida?
Eu lembrei das minhas amigas que esquecem de tomar a pílula toda semana. Quase perguntei qual o horário que ele esquecia dos dentes... conheço muita gente que esquece...
Mas só ouvi. Disse para ele que acreditava. Eu sei que o senhor está envelhecendo, eu pensei em dizer e não disse.
Ele me mostrou as pernas. Acho que a trombose está voltando, filha. Eu mostrei meus joelhos ralados do futebol.
E você? Vai ser advogada mesmo?
Vou não, vô.
E por que perde tanto tempo nisso?
E eu não sei responder... tava ganhando tempo, vô, talvez.
Ele ri, me mostra todos os defeitos da casa... não esquece nenhum... a infiltração, o cupim, a pintura, a agua da piscina... Essa casa até que está muito boa. Vamos ajudar a Iza colocar o telhado? Vamos vô. Eu dei cinquenta reais de um som que eu vendi. É, eu vou ajudar ela. Ela me disse mas não pediu nada... Mas eu não esqueci.
Da colheita
Chuva temporã
Cai fora de época
e alimenta o porvir
Chuva serodia
Se cai na hora certa
Dá fruto bom
São duas chuvas
para uma só colheita.
Cai fora de época
e alimenta o porvir
Chuva serodia
Se cai na hora certa
Dá fruto bom
São duas chuvas
para uma só colheita.
Lidar
Tudo que lhe der
será sincero
E saberei lhe dar
no tempo certo
Lidar com isso
eu aprendo
Como aprendo a escrever
suas palavras
e o seu tempo
na minha têmpora.
será sincero
E saberei lhe dar
no tempo certo
Lidar com isso
eu aprendo
Como aprendo a escrever
suas palavras
e o seu tempo
na minha têmpora.
Sobre navegar
Eu te navego
Você me navega
E da viagem, fazemos porto seguro.
Ventos vem, ventos passam
Ventos vem, vem sempre,
Mas é a vela, somente a vela,
quem comanda a viagem?
Navego
sem destino
sem pressa
Um dia chega,
um dia chegamos...
Navegar não é exato...
Mas é preciso.
Você me navega
E da viagem, fazemos porto seguro.
Ventos vem, ventos passam
Ventos vem, vem sempre,
Mas é a vela, somente a vela,
quem comanda a viagem?
Navego
sem destino
sem pressa
Um dia chega,
um dia chegamos...
Navegar não é exato...
Mas é preciso.
.
Já começou com um ponto final.
Depois escreveu as palavras e apagou.
Tentou ser reticente.
Tentou achar uma vírgula.
Mas já começou como um ponto final.
Vira minha página, me vira do avesso da palavra,
faz de mim uma letra, uma sopa, um joguinho
E vai, no mesmo ponto, no mesmo barco
No mesmo encanto em que partiu.
E não deixou a minha parte...
Só o ponto de quem me parte.
Depois escreveu as palavras e apagou.
Tentou ser reticente.
Tentou achar uma vírgula.
Mas já começou como um ponto final.
Vira minha página, me vira do avesso da palavra,
faz de mim uma letra, uma sopa, um joguinho
E vai, no mesmo ponto, no mesmo barco
No mesmo encanto em que partiu.
E não deixou a minha parte...
Só o ponto de quem me parte.
Ao vento
Algumas coisas obrigatoriamente deveriam voltar.
Não é só palavra ao vento...
A flecha lançada....
A ofensa proferida...
Tudo que não volta...
e o que dá certeza
e o que sustenta
onde está o que quer voltar?
Não é só palavra ao vento...
A flecha lançada....
A ofensa proferida...
Tudo que não volta...
e o que dá certeza
e o que sustenta
onde está o que quer voltar?
Maravilha
Se ele é meu pai, você é minha irmã branca, preta.
Ele me acenava, rindo aquele riso solto e me pedindo vinte conto.
Sabe como é, Maravilha, a conta de luz tá um estouro, te pago no fim do mês. É que seu pai tá viajando à séculos... Po**a, opa, desculpe, pelo amor de Deus me desculpe, mas a gente nem tem mais com quem contar... Vinte conto!
Meu filho foi baleado, irmã. Vim te contar, sei lá, deu na telha te contar. Tava vendo o baba, na praia, atiraram nele irmã. Vim te contar... tô meio sem chão, sabe? E você sempre fala com a gente, não tem besteira. Ora, Maravilha, vocês que sempre falam comigo, não tem besteira... Ele me acenava de longe. E seu filho? Já tá andando! Valeu por perguntar, preta! Na força!
Irmã, tô pele e osso. Tô doente. Tô doente, irmã. Eles querem me matar, irmã. Eu não sei o que fazer irmã. Ou arrumo seiscentos contos ou eu morro irmã. A Boca é quente. Meus filhos já não tão em casa. Não passa nada, não sobra ninguém. Tô tremendo. Tem um dia que não uso, tem um dia, eu vou me internar, eu juro que vou. Arrumaram uma clínica de crente para mim. Eu vicio em Deus mas largo o crack, te prometo. Vim contar porque não sei mais a quem falar. São quase quinze anos, quase quinze anos... eu confio em vocês. Pele e osso, barriga para dentro. Abaixa essa blusa Maravilha. Acalma, rapaz. Acalma.
A vida é real. A vida as vezes é muito ruim.
Mas vai ficar bem Maravilha, vai ficar na força.
Ele me acenava, rindo aquele riso solto e me pedindo vinte conto.
Sabe como é, Maravilha, a conta de luz tá um estouro, te pago no fim do mês. É que seu pai tá viajando à séculos... Po**a, opa, desculpe, pelo amor de Deus me desculpe, mas a gente nem tem mais com quem contar... Vinte conto!
Meu filho foi baleado, irmã. Vim te contar, sei lá, deu na telha te contar. Tava vendo o baba, na praia, atiraram nele irmã. Vim te contar... tô meio sem chão, sabe? E você sempre fala com a gente, não tem besteira. Ora, Maravilha, vocês que sempre falam comigo, não tem besteira... Ele me acenava de longe. E seu filho? Já tá andando! Valeu por perguntar, preta! Na força!
Irmã, tô pele e osso. Tô doente. Tô doente, irmã. Eles querem me matar, irmã. Eu não sei o que fazer irmã. Ou arrumo seiscentos contos ou eu morro irmã. A Boca é quente. Meus filhos já não tão em casa. Não passa nada, não sobra ninguém. Tô tremendo. Tem um dia que não uso, tem um dia, eu vou me internar, eu juro que vou. Arrumaram uma clínica de crente para mim. Eu vicio em Deus mas largo o crack, te prometo. Vim contar porque não sei mais a quem falar. São quase quinze anos, quase quinze anos... eu confio em vocês. Pele e osso, barriga para dentro. Abaixa essa blusa Maravilha. Acalma, rapaz. Acalma.
A vida é real. A vida as vezes é muito ruim.
Mas vai ficar bem Maravilha, vai ficar na força.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Ao meu companheiro de montanha russa
Se despencarem as ilusões, todas, uma a uma...
Se tudo que disseram parecer frágil, muito frágil, quase pó
Se tudo parecer ao avesso, se tudo parecer desconserto
Se for desonesto, se for mentira
Se o herói virar bandido
E a mocinha se perder...
Se tudo isso acontecer...
Se for assim como te digo...
Me dá um pouquinho do seu abrigo
Que eu faço o mesmo
E a gente segue junto
Porque você, só você
é capaz de me fazer ver
Só você sabe o que eu estou sentindo.
Mas eu te digo,
Como te diria há 22 anos,
ou como eu dizia até antes de aprender a falar...
E como eu te digo hoje e te direi sempre
A gente segue junto
E você é o elo mais forte que eu tenho
Você é o maior e mais bonito
Você e só você
sabe o que eu estou sentindo...
Mas tenha calma...
A vida é de surpresas
A vida não é linha reta
A linha não quer ser prevista
Ela se inventa
Abre os braços que a descida maior chegou...
Dá frio na barriga...
mas a gente segue junto para depois rir de tudo.
Se tudo que disseram parecer frágil, muito frágil, quase pó
Se tudo parecer ao avesso, se tudo parecer desconserto
Se for desonesto, se for mentira
Se o herói virar bandido
E a mocinha se perder...
Se tudo isso acontecer...
Se for assim como te digo...
Me dá um pouquinho do seu abrigo
Que eu faço o mesmo
E a gente segue junto
Porque você, só você
é capaz de me fazer ver
Só você sabe o que eu estou sentindo.
Mas eu te digo,
Como te diria há 22 anos,
ou como eu dizia até antes de aprender a falar...
E como eu te digo hoje e te direi sempre
A gente segue junto
E você é o elo mais forte que eu tenho
Você é o maior e mais bonito
Você e só você
sabe o que eu estou sentindo...
Mas tenha calma...
A vida é de surpresas
A vida não é linha reta
A linha não quer ser prevista
Ela se inventa
Abre os braços que a descida maior chegou...
Dá frio na barriga...
mas a gente segue junto para depois rir de tudo.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
terça-feira, 28 de abril de 2009
Em que país?
Onde eu te busco?
Ficou preso onde?
Cabia na mala, não cabia?
Excesso de passagens...
Eu vejo você falar o que está ouvindo
Isso me dá um aperto
Me faz lembrar o quanto era atenta ao que voce dizia
Mas como não fazia sentido naqueles dias...
Aquelas coisas de sofrer...
porque era tudo
simples
e simplesmente
bom
Tudo que eu sempre me convencia
que o que você me dizia era mentira
A vida era sempre e apenas ...
Mas experiencia é mesmo correr perigo.
Onde eu te busco?
Ficou preso onde?
Cabia na mala, não cabia?
Excesso de passagens...
Eu vejo você falar o que está ouvindo
Isso me dá um aperto
Me faz lembrar o quanto era atenta ao que voce dizia
Mas como não fazia sentido naqueles dias...
Aquelas coisas de sofrer...
porque era tudo
simples
e simplesmente
bom
Tudo que eu sempre me convencia
que o que você me dizia era mentira
A vida era sempre e apenas ...
Mas experiencia é mesmo correr perigo.
Vai para onde você quiser... a vida já está branda nesse seu peito? A vida nunca escorre de você, menina. Fazer de mim cartas amassadas...uma lembrança angustiada, abafada... fazer de nós uma desculpa para todos seus erros... não faz da vida um passo em falso... Não serve mais...Amor de verdade teima, né? Amor de verdade não existe e só? Se você acreditasse nisso não me faria sentir que é tão bom querer, desejar e depois faltar... Você me olha e diz que só existe uma chance para o amor... Amor não é romance de prateleira...é daqueles que corre na mão de tantos mas um para e olha... vê datado, vê as linhas e sonha. A gente escolhe ou é escolhido pelo livro?
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Abriu a bolsa.
As armas todas na mesa.
Só vou abrir o coração se você me pedir, olhava, amolando a faca.
Só vou....
Abriu a caixa
As cartas na mesa
Só te entrego o jogo se você me pedir, olhava, embaralhando.
Só vou...
Abriu o boca
As palavras sempre prudentes
Só te digo a verdade se você me pedir, olhava, dor de garganta
Só vou...
Abriu os olhos
Ali não tinha controle
O coração aberto, o jogo acabado e a verdade explicita
Não vou.
As armas todas na mesa.
Só vou abrir o coração se você me pedir, olhava, amolando a faca.
Só vou....
Abriu a caixa
As cartas na mesa
Só te entrego o jogo se você me pedir, olhava, embaralhando.
Só vou...
Abriu o boca
As palavras sempre prudentes
Só te digo a verdade se você me pedir, olhava, dor de garganta
Só vou...
Abriu os olhos
Ali não tinha controle
O coração aberto, o jogo acabado e a verdade explicita
Não vou.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Bula de remédio
Estamos mais interessados:
na doença
nos efeitos colaterais
na cura
ou em passar o tempo?
na doença
nos efeitos colaterais
na cura
ou em passar o tempo?
segunda-feira, 20 de abril de 2009
domingo, 19 de abril de 2009
1929
Hans Specht
tinha um imenso bigode em 1929
Grande mesmo
Enorme
A pele lisa
O cabelo curto,
uma boina preta
Gravata
Terno
Olhando ao longe
Imaginava assim ainda olhar
em 2009?
Hans Specht
Hans
Specht
Foi descoberto em uma caixa
Dentro de um livro de Munch
Datado de 1983
Os anos são moinhos
E a vida se repete
1983
Uma jovem de 20 anos,
tenta reproduzir o retrato
Hoje
O retrato me olha da escrivaninha
Eu me divirto imaginando o que Erna
pensava daquele bigode...
tinha um imenso bigode em 1929
Grande mesmo
Enorme
A pele lisa
O cabelo curto,
uma boina preta
Gravata
Terno
Olhando ao longe
Imaginava assim ainda olhar
em 2009?
Hans Specht
Hans
Specht
Foi descoberto em uma caixa
Dentro de um livro de Munch
Datado de 1983
Os anos são moinhos
E a vida se repete
1983
Uma jovem de 20 anos,
tenta reproduzir o retrato
Hoje
O retrato me olha da escrivaninha
Eu me divirto imaginando o que Erna
pensava daquele bigode...
O quarto dos fundos, da parte de cima da casa. Há tanto fechado. Cheiro de solvente. Porque ela gostava tanto de pintar ali se tinha uma varanda enorme inteira e mais outra, proa de navio para ver estrelas...
É como se sua parte sincera, aquela que misturava a tinta e fazia cores, aquela que queria simplesmente despejar, bonita ou feia, deixar fluir, parir os sentimentos todos em borrões... Aquela que não se preocupava com os sermãos, com o dizer repreensivo dos olhos... Aquela que era ela, talvez... Só existia naquele quarto pequeno, escuro, empoeirado... Assim para nossos olhos. Não para os dela. Via naquele quartinho talvez o seu porão, a sua possibilidade... talvez não conseguisse expandir demais. Talvez para transbordar tinha que se sentir contida. Tinha que se sentir ?
Porque voce não vai para a varanda? Está tossindo tanto. Esse lugar é abafado. Muda para o quarto com janelas, então.
Nunca parou de pintar. Só não era muito boa quando retocavam seus quadros ou quando tentava repetir modelos. Quando se deixava produzia arte. Para cada um de seu sangue, como se prevesse, deixou uma tela antes de fechar o quarto.
Acho a chave. Penso sinceramente em entrar e lembrar como é pintar. Mas a minha alma é de varandas...
É como se sua parte sincera, aquela que misturava a tinta e fazia cores, aquela que queria simplesmente despejar, bonita ou feia, deixar fluir, parir os sentimentos todos em borrões... Aquela que não se preocupava com os sermãos, com o dizer repreensivo dos olhos... Aquela que era ela, talvez... Só existia naquele quarto pequeno, escuro, empoeirado... Assim para nossos olhos. Não para os dela. Via naquele quartinho talvez o seu porão, a sua possibilidade... talvez não conseguisse expandir demais. Talvez para transbordar tinha que se sentir contida. Tinha que se sentir ?
Porque voce não vai para a varanda? Está tossindo tanto. Esse lugar é abafado. Muda para o quarto com janelas, então.
Nunca parou de pintar. Só não era muito boa quando retocavam seus quadros ou quando tentava repetir modelos. Quando se deixava produzia arte. Para cada um de seu sangue, como se prevesse, deixou uma tela antes de fechar o quarto.
Acho a chave. Penso sinceramente em entrar e lembrar como é pintar. Mas a minha alma é de varandas...
sábado, 18 de abril de 2009
sexta-feira, 17 de abril de 2009
A sala é grande e aberta. Chão de madeira. Poderia, perfeitamente, ser um tablado para seus rodopios. Era muito pouco utilizada. Lembro de minha avó deitada no sofá amarelo próximo a janela de persianas brancas uma semana antes de morrer. Queria aprender a dançar, queria aprender a pintar, queria aprender eternamente. Fazia tanta coisa de retalho. A maior e única herança que quis de fato receber foi uma blusa toda colorida, toda de fuxico, que ela colocou um laço azul bem forte para ajustar. Cada fuxico daquele, o que guarda? O que ela pensou ao passar cada linha? As pessoas morrem e a gente inventa tanta coisa... talvez para se sentir mais vivo, não sei... talvez por amor. Deitada, não lembro onde estavam as mãos, suponho que repousando sob os fartos seios, travesseiro de neto, eu brincava, ou sobre a face evitando que a luz incomodasse seus olhos que era irremediavelmente azuis. Lembro quando ganhou um imenso bouquet de rosas e a fotografei nesse mesmo sofá. No dia achei que nenhuma foto tinha ficado boa... Hoje admiro o retrato. Ela não precisa virar um mistério para mim. Amava minha avó. Primeiro como uma criança ama uma mãe. Depois como um aprendiz ama uma professora. Você sempre escolhe o caminho mais difícil, filha. Eu ria e tentava entender. Ela era católica. Mas era mesmo muito próxima da natureza. O perdão, oferecer a outra face... aprendi com ela. A imagem que as filhas tem de minha avó parece tão frágil, tão submissa... não é a imagem que eu tenho dela. Morreu de repente. Eu admito que não achava que ela morreria tão cedo. Leucemia. Auto-imune. Talvez minhas tias e minha mãe tenham razão sobre a dor de minha vó. Guardar tanto... o sangue confunde. Tinha paz nesse sangue branco? Me contou uma vez que caiu no meio da rua. Eu nunca acreditava e me zangava quando ela dizia que ia morrer. O olho roxo. Aquela imagem última dela. Como soa infantil. A minha avó morreu feia, ferida. Isso me incomodou profundamente. A morte deixou de ser romântica. Deixou de ser a morte sutil, jovem, quase encorajadora.
Mas continuou sendo parte da vida.
Queria terminar o livro e deitei no sofá amarelo. O céu está cinza, o dia abafado. Vai chover. Faltam trinta páginas. Porque o autor guardou o melhor para o final? A vida me viveu. Odeio esse discurso. As vezes o cometo. Aprendi com minha mãe. Ela aprendeu com minha avó? A vida das resignações. Dos sacrifícios. Da mansidão.
Durmo profundamente no sofá. Estou dormindo mais do que o normal. Estou triste mas não tanto quanto minha vó na semana anterior a sua morte. Eu não vou morrer semana que vem e não tenho medo de morrer. Nem medo de não viver. Nem de envelhecer. Tenho medo, só e temporariamente, de ficar de cabeça para baixo. Minha mãe levanta a pele do rosto. Deve ter uns 35 anos. Se olha frente ao espelho e anseia pela juventude. Tem tanta juventude. Quase não tem rugas aos 46. Não é mais como aquela armação de óculos, como aquele vestido preto das velhas de Portocamba ... mas ficou míope.quinta-feira, 16 de abril de 2009
Boa viagem
Você não teve medo de se afogar? Pular sozinho naquela piscina... tão escuro. Lanterna debaixo da agua. Tá... eu finjo que acredito. Os pulmões nascem colados e a gente chora quando descola. Quanto tempo você consegue ficar debaixo da agua? Sempre fiquei mais tempo que voce, eu acho... Brincar na piscina imensa de ir e voltar sem respirar... até que iamos longe. Respira fundo, vai... eu sei que não é fácil entender... mas a gente não é parte nessa travessia... Nos encontramos em qualquer lavoura espanhola, quem sabe? A vontade de devolver tudo isso... e dizer que o que vale, o que vale mesmo... talvez não tenham sido eles os únicos professores... Acredite em mim... são só pessoas... mas é difícil mesmo deixar cair.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Saudade é nome de cidade...
Melancolia é uma de suas esquina
mais movimentadas
e desejo um beco escuro
que se bem habitado é beco de festa
No país dos sem pátria
perdeu o uniforme...
Para onde ir, casa sozinha:
Perdeu a possibilidade de tocar as fotos
Perdeu a intimidade de não ser encontrado
Prevê uma chuva
Dorme em paz,
em sonhos silenciosos
Aliviado com a possibilidade de ficar sozinho
Sente o corpo inundando para fora.
Melancolia é uma de suas esquina
mais movimentadas
e desejo um beco escuro
que se bem habitado é beco de festa
No país dos sem pátria
perdeu o uniforme...
Para onde ir, casa sozinha:
Perdeu a possibilidade de tocar as fotos
Perdeu a intimidade de não ser encontrado
Prevê uma chuva
Dorme em paz,
em sonhos silenciosos
Aliviado com a possibilidade de ficar sozinho
Sente o corpo inundando para fora.
Me permita falar de mim
Corpo
Estica, estica, estica,
contrai, relaxa.
Dói onde?
Dói onde você mais precisa...
Dói o joelho, doí a parte de trás da perna,
dói o peito.
Você abre bem o peito...
Tem dificuldade de colocar o rabinho entre as pernas
E de ficar de cabeça para baixo...
De cabeça para baixo...
É como uma catapora
Aquele remédio roxo
Eu gostava da bacia com aquele cheiro étereo
A pressão ocilava mas eu sempre acordada....
Bater o cotovelo na porta
Eu corria até a cama
Pálida, colocava a cabeça entre as pernas, para baixo.
Nunca consegui dar estrelinha
Não tenho muita consciencia corporal
E inconsciencia corporal?
Maior talvez...
Derrubo tudo.
Volta ao mundo
Medo de ficar de cabeça para baixo?
Medo não existe.
Imagino como será parir,
acho que deve ser a sensação de fazer a maior Ioga da vida
Um, dois
Mocotó largo
Eu forço o pescoço
a tireóide sente?
A tireóide explode?
Borboleta no meio da garganta
é uma gravata ou é um indicio de nó, ou de desejo?
A borboleta e o japones
Eu nunca mais fiz os exames
Eles estavam se acustumando mais um com o outro
Auto-imune
Nao cheguei a ter medo de morrer
Mas de perder o controle
Tem um pincel de colorir mundo?
Passa no meu nariz.
Melancolia é o nome da boca do meu violão
A estilista tem o nome da minha irmã
Eu abro o sorriso inteiro
Ela é minha também
O tanto quanto eu sou dela
E isso me deixa feliz
Estica, estica, estica,
contrai, relaxa.
Dói onde?
Dói onde você mais precisa...
Dói o joelho, doí a parte de trás da perna,
dói o peito.
Você abre bem o peito...
Tem dificuldade de colocar o rabinho entre as pernas
E de ficar de cabeça para baixo...
De cabeça para baixo...
É como uma catapora
Aquele remédio roxo
Eu gostava da bacia com aquele cheiro étereo
A pressão ocilava mas eu sempre acordada....
Bater o cotovelo na porta
Eu corria até a cama
Pálida, colocava a cabeça entre as pernas, para baixo.
Nunca consegui dar estrelinha
Não tenho muita consciencia corporal
E inconsciencia corporal?
Maior talvez...
Derrubo tudo.
Volta ao mundo
Medo de ficar de cabeça para baixo?
Medo não existe.
Imagino como será parir,
acho que deve ser a sensação de fazer a maior Ioga da vida
Um, dois
Mocotó largo
Eu forço o pescoço
a tireóide sente?
A tireóide explode?
Borboleta no meio da garganta
é uma gravata ou é um indicio de nó, ou de desejo?
A borboleta e o japones
Eu nunca mais fiz os exames
Eles estavam se acustumando mais um com o outro
Auto-imune
Nao cheguei a ter medo de morrer
Mas de perder o controle
Tem um pincel de colorir mundo?
Passa no meu nariz.
Melancolia é o nome da boca do meu violão
A estilista tem o nome da minha irmã
Eu abro o sorriso inteiro
Ela é minha também
O tanto quanto eu sou dela
E isso me deixa feliz
O corpo
O corpo
O corpo
O corpo
O corpo
O corpo lhe dá uma leve impressão?
Impressão do que?
Impressão de continuidade.
O corpo acaba?
Quem nos liga ao mundo?
Ora, ora...
O mundo respira o mesmo ar que eu!
O mundo bebe a mesma água que eu!
O mundo come, come, come, come
banquete.
O corpo cresce.
Que pedaço do mundo é só seu?
O que você habita é também o que você divide.
Você cresce, pequeno zigoto.
Você cresce, cresce, cresce,
árvore de mil galhos, de dois braços
O outro entra no seu corpo.
E você deixa
E você deita
E você goza
E você levanta e você olha
Outro corpo, nu na cama
O espaço do prazer é do mundo
Somos todos juntos
Gozemos nossa estranha condição de sermos interligados
Você conhece o mundo inteiro...
Salve, salve a hora de ser
O corpo
O corpo
O corpo
O corpo
O corpo lhe dá uma leve impressão?
Impressão do que?
Impressão de continuidade.
O corpo acaba?
Quem nos liga ao mundo?
Ora, ora...
O mundo respira o mesmo ar que eu!
O mundo bebe a mesma água que eu!
O mundo come, come, come, come
banquete.
O corpo cresce.
Que pedaço do mundo é só seu?
O que você habita é também o que você divide.
Você cresce, pequeno zigoto.
Você cresce, cresce, cresce,
árvore de mil galhos, de dois braços
O outro entra no seu corpo.
E você deixa
E você deita
E você goza
E você levanta e você olha
Outro corpo, nu na cama
O espaço do prazer é do mundo
Somos todos juntos
Gozemos nossa estranha condição de sermos interligados
Você conhece o mundo inteiro...
Salve, salve a hora de ser
Carta II
Querida,
É preciso muita paz para escrever essas linhas e isso só possivel depois do distanciamento quase involuntario que nos propusemos. Ouvi rumores que você vem no verão e permita decepciona-la mas fiquei deveras preocupado com essa possibilidade.
As cerejas continuam doces. Mas, talvez, não tenha mais espaço na casa.
Deve se perguntar se estou falando sério ou se a senilidade passou dos meus cabelos brancos... Admito que minhas articulações também doem e as ladeiras não são mais fáceis para mim. Subir ao cruzeiro é quase um suplicio... sorte de Cristo que morreu jovem...
Mas como não ter mais espaço... voce pergunta... e a promessa de vir quando quisesse? E são anos que não respira ar puro e
É preciso muita paz para escrever essas linhas e isso só possivel depois do distanciamento quase involuntario que nos propusemos. Ouvi rumores que você vem no verão e permita decepciona-la mas fiquei deveras preocupado com essa possibilidade.
As cerejas continuam doces. Mas, talvez, não tenha mais espaço na casa.
Deve se perguntar se estou falando sério ou se a senilidade passou dos meus cabelos brancos... Admito que minhas articulações também doem e as ladeiras não são mais fáceis para mim. Subir ao cruzeiro é quase um suplicio... sorte de Cristo que morreu jovem...
Mas como não ter mais espaço... voce pergunta... e a promessa de vir quando quisesse? E são anos que não respira ar puro e
terça-feira, 14 de abril de 2009
Contexto
Os olhos dela se acenderam. Desviaram, mas eram clarão. Os olhos dela abriam um caminho imenso e o destino era um abismo no qual teria coragem te bater asas. É que quando abro a boca são milhares de borboletas. Mas quando sinto as pernas elas estão quase soterrando em L'Aquila, abreviando o chão de tremores, vendo em cima um universo de terra. Ela achou que não iria. E agora o que fazer com as mãos? E fora do contexto, o que fazer com a realidade que não se encontra?
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Carlos, meu bem.
Preciso de poesia
Umidecer lenços com versos
E aplica-los sob a testa
Preciso de grandes doses
Doses imensas de sonho
Auto medicar-me com palavras
Umidecer lenços com versos
E aplica-los sob a testa
Preciso de grandes doses
Doses imensas de sonho
Auto medicar-me com palavras
Forte febre
Preciso de poesia
Umidecer lenços com versos
E aplica-los sob a testa
Preciso de grandes doses
Doses imensas de sonho
Auto medicar-me com imagens
Palvras-doutoras, me digam
Como acabar com esse frio na barriga
Com esse suar das mãos
Com esse não reconhecer-se repentino
Com esse estado quase frívolo
Com esse incendiar do coração.
Umidecer lenços com versos
E aplica-los sob a testa
Preciso de grandes doses
Doses imensas de sonho
Auto medicar-me com imagens
Palvras-doutoras, me digam
Como acabar com esse frio na barriga
Com esse suar das mãos
Com esse não reconhecer-se repentino
Com esse estado quase frívolo
Com esse incendiar do coração.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Faça bons sonhos
Em francês eles sabem que a fábrica de sonhos é nossa.
E quando eu sonho - desejos - saltam em filme
Se escondem, se mostram, fantasiam.
Quando os olhos fecham
O mundo é mais fluído, denso-leve
É agua ... que é símbolo do inconsciente
Que completa frase
Que permite
Que sente
E quando eu sonho - desejos - saltam em filme
Se escondem, se mostram, fantasiam.
Quando os olhos fecham
O mundo é mais fluído, denso-leve
É agua ... que é símbolo do inconsciente
Que completa frase
Que permite
Que sente
Da transexualidade e do nome
Maria era João.
Maria deve ser chamada para sempre de João?
Mas agora Maria é Maria!
Dos pés a cabeça mulher.
E João?
Quem era João não sofre mais!
Deve ser feito um atestado de óbito de João?
Ora, meu bom Juiz...
João foi só engano!
Maria foi sempre Maria.
Só o nome que colocaram errado...
Só o sexo que veio trocado...
É que quando a gente nasce a gente ainda não sabe como é...
E se aos dezoito eu posso mudar de nome
eu, você e quem quiser...
Ora... se João quisesse ser José ele podia...
Então por que não ser de uma vez por todas...
toda e somente Maria?
E se meus argumentos não lhe convencem...
Sei que em situação vexatória todos podem trocar de nome
sem limite de tempo e espaço...
sempre e em qualquer ocasião...
Agora... me diga maior vexame
do que uma mulher tão bonita...
ter o nome de João?!
Maria deve ser chamada para sempre de João?
Mas agora Maria é Maria!
Dos pés a cabeça mulher.
E João?
Quem era João não sofre mais!
Deve ser feito um atestado de óbito de João?
Ora, meu bom Juiz...
João foi só engano!
Maria foi sempre Maria.
Só o nome que colocaram errado...
Só o sexo que veio trocado...
É que quando a gente nasce a gente ainda não sabe como é...
E se aos dezoito eu posso mudar de nome
eu, você e quem quiser...
Ora... se João quisesse ser José ele podia...
Então por que não ser de uma vez por todas...
toda e somente Maria?
E se meus argumentos não lhe convencem...
Sei que em situação vexatória todos podem trocar de nome
sem limite de tempo e espaço...
sempre e em qualquer ocasião...
Agora... me diga maior vexame
do que uma mulher tão bonita...
ter o nome de João?!
domingo, 5 de abril de 2009
Cena.
Pega a bolsa
amarra a sandália
segura a chave
Nunca iria embora
Queria um abraço
mas não sabe bem pedir essas coisas.
Desamarra a sandália.
Devolve a bolsa.
Senta ao lado.
Fala bobagens.
Fala bobagens.
Muitas bobagens.
Ouve a razão.
Sabe seus deslizes.
Chega mais perto.
Não mais duvida de si.
Abraça, abraça, abraça
Coisas que não precisa saber pedir...
Pega a bolsa
amarra a sandália
segura a chave
Nunca iria embora
Queria um abraço
mas não sabe bem pedir essas coisas.
Desamarra a sandália.
Devolve a bolsa.
Senta ao lado.
Fala bobagens.
Fala bobagens.
Muitas bobagens.
Ouve a razão.
Sabe seus deslizes.
Chega mais perto.
Não mais duvida de si.
Abraça, abraça, abraça
Coisas que não precisa saber pedir...
Conheço olhos de cachorros
De gatos
Mas nunca me detive assim por tanto tempo
nos olhos de outro animal
que não fosse homem
Li um livro em que o cachorro
tinha um olhar quase superior
Era um livro desses de fantasia
O cachorro guardava um homem dentro de si
Hoje vi os olhos de um cavalo
Como são expressivos
quase melancólicos
enormes, cílios enormes
Que mistérios guarda um cavalo
Para ter tamanhos olhos?
De gatos
Mas nunca me detive assim por tanto tempo
nos olhos de outro animal
que não fosse homem
Li um livro em que o cachorro
tinha um olhar quase superior
Era um livro desses de fantasia
O cachorro guardava um homem dentro de si
Hoje vi os olhos de um cavalo
Como são expressivos
quase melancólicos
enormes, cílios enormes
Que mistérios guarda um cavalo
Para ter tamanhos olhos?
A mulher que a gente ama
Sempre que já não nos ama
Ganha o nome de puta.
Se a colocarmos no lugar de santa
É que amor há muito tempo já não existe.
Pensamos que não
Que é uma ofensa
Quase repudio.
Mas respeitamos as putas, é verdade
É uma reverência quase infantil.
Aquelas que são donas da lasciva
Aquelas que nunca serão nossas
Quem pensa que não, não sabe do que estou falando.
As putas sabem dar-se sem tanto apego
As putas nos amam mais que as santas
porque nos amam com desejo.
É o amor de uma puta que o homem
abandonada procura.
E isso diz a sua amada...
Como um homem abandonado sofre...
As putas até nos dão medo.
Mas se a mulher que não te ama
Seja santa ou puta quer ir embora
Deixa, meu amigo...
Mulher não fica bem triste.
Seja puta ou seja santa
Só é sua quando quer.
Sempre que já não nos ama
Ganha o nome de puta.
Se a colocarmos no lugar de santa
É que amor há muito tempo já não existe.
Pensamos que não
Que é uma ofensa
Quase repudio.
Mas respeitamos as putas, é verdade
É uma reverência quase infantil.
Aquelas que são donas da lasciva
Aquelas que nunca serão nossas
Quem pensa que não, não sabe do que estou falando.
As putas sabem dar-se sem tanto apego
As putas nos amam mais que as santas
porque nos amam com desejo.
É o amor de uma puta que o homem
abandonada procura.
E isso diz a sua amada...
Como um homem abandonado sofre...
As putas até nos dão medo.
Mas se a mulher que não te ama
Seja santa ou puta quer ir embora
Deixa, meu amigo...
Mulher não fica bem triste.
Seja puta ou seja santa
Só é sua quando quer.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
quarta-feira, 1 de abril de 2009
foto
agora a gente finge que não foi bom
a gente inventa uma desculpa
a gente cresce e se movimenta
a gente deixa de ser aquela imagem estática
do que podia ter sido perfeito
a gente deixa de ser perfeito
a gente deixa de se coisificar
eu e voce numa foto
a foto no porta-retrato
um eterno que descança
em alguma gaveta.
em algum lugar inventado.
em algum lugar onde dorme um sono pesado.
sem sonhos...
agora a gente finge que não foi bom
a gente inventa uma desculpa
a gente cresce e se movimenta
a gente deixa de ser aquela imagem estática
do que podia ter sido perfeito
a gente deixa de ser perfeito
a gente deixa de se coisificar
eu e voce numa foto
a foto no porta-retrato
um eterno que descança
em alguma gaveta.
em algum lugar inventado.
em algum lugar onde dorme um sono pesado.
sem sonhos...
terça-feira, 31 de março de 2009
Moleton
Tem braços.
Tem abraços.
Tem quentinho.
Tem cinema.
Tem cores.
Dança comigo?
Puxo pela manga,
rodopio.
Ouvimos músicas no carro.
Choramos nostalgicos pela cidade.
Doce companheiro que me acompanha no banco ao lado...
Tem abraços.
Tem quentinho.
Tem cinema.
Tem cores.
Dança comigo?
Puxo pela manga,
rodopio.
Ouvimos músicas no carro.
Choramos nostalgicos pela cidade.
Doce companheiro que me acompanha no banco ao lado...
Oitavo andar
Salvador está quente. Novidade. Salvador é quente. Mas eu vi no jornal, a moça bonita do tempo dizendo que esse mês só choveu dezesete por cento do previsto.
Dezesete por cento do previsto.
Chamo o elevador. Demora.
Divago. O elevador é um cubículo sustentado por cabos e que sobe alto, alto, bem alto. Tem limite de peso e tem que fazer revisão. As vezes sonho com o elevador da Disney e acordo dando risada. Félix brincava comigo porque eu sempre saia rindo nas fotos de montanha russa. Nunca mais andei de montanha russa. Fui na Rússia e lá não vi nenhuma montanha russa. Muitas russas com curvas. Que nem o Rio de Janeiro, as montanhas e as mulatas? Nem tanto. Curvas frias. Deslizar como um bronzeador, deslizar como verglas... Agora tive a brilhante idéia de adicionar minhas fotos sorridentes ao currículo de guia da Disney. Coloquei meu currículo para ser guia na Disney. Mas acho que a crise vai abalar o mercado de pacotes de turismo e a possibilidade de me chamarem é pequena. Desde que comecei no trabalho novo não fui nas reuniões. Talvez um grande sorriso em uma montanha russa fosse um forte argumento de convencimento. Talvez não. Quando eu tinha quatorze anos...
O elevador enfim chega e o dia começa a brincar de "surrealidade". Adoro quando isso acontece.
Pois bem... o elevador é um cubículo com limite de peso. Afastado oito andares do chão e seguro por cabos. Quantas de mim são necessárias se subirmos uma no ombro da outra para alcançar o oitavo andar? Muitas suponho. A torre eiffel é equivalente a 190 e meia "Emílias". Uau. No Brasil é crime clonar. Minha professora acha um absurdo. Crime impossível, ela diz. Para que prever??! Ela não acredita em ficção, suponho. Meu outro professor quer um celular com modulador de hábitos para que não toque no meio da aula. Conheço quem pode fazer isso. O professor diz que vai patentear a idéia e antes que o faça eu sugiro que coloque no silencioso.
O elevador chega e abro a porta em um susto. Está quase todo tomado por um homem imenso, gordo, de bermudas e blusa, de tenis e cheio de livros na mão.
Eu entro, tentando desviar da sua barriga, que, sem exagero, alcançava a porta. Aperto o "G"'.
O elevador dá aquele tranquinho e eu penso : Merda... E se ficar preso? Como eu vou respirar? Imagino que o homem imenso, que agora descubro que é professor de inglês, que morava em Nova Iorque mas que ama Salvador e que não é obeso mórbido... só inacreditavelmente gordo... imagino se ele tem medo de elevador. Toco uma música de elevador na cabeça e puxo qualquer assunto. O elevador não para. Ufa. Ele pergunta onde eu aprendi inglês. Eu digo, Nossa... voce sabia que só choveu dezesete por cento do previsto esse mês? Conversa de elevador. Ele me deseja boa sorte com a Disney e o elevador nunca passa do chão.
Dezesete por cento do previsto.
Chamo o elevador. Demora.
Divago. O elevador é um cubículo sustentado por cabos e que sobe alto, alto, bem alto. Tem limite de peso e tem que fazer revisão. As vezes sonho com o elevador da Disney e acordo dando risada. Félix brincava comigo porque eu sempre saia rindo nas fotos de montanha russa. Nunca mais andei de montanha russa. Fui na Rússia e lá não vi nenhuma montanha russa. Muitas russas com curvas. Que nem o Rio de Janeiro, as montanhas e as mulatas? Nem tanto. Curvas frias. Deslizar como um bronzeador, deslizar como verglas... Agora tive a brilhante idéia de adicionar minhas fotos sorridentes ao currículo de guia da Disney. Coloquei meu currículo para ser guia na Disney. Mas acho que a crise vai abalar o mercado de pacotes de turismo e a possibilidade de me chamarem é pequena. Desde que comecei no trabalho novo não fui nas reuniões. Talvez um grande sorriso em uma montanha russa fosse um forte argumento de convencimento. Talvez não. Quando eu tinha quatorze anos...
O elevador enfim chega e o dia começa a brincar de "surrealidade". Adoro quando isso acontece.
Pois bem... o elevador é um cubículo com limite de peso. Afastado oito andares do chão e seguro por cabos. Quantas de mim são necessárias se subirmos uma no ombro da outra para alcançar o oitavo andar? Muitas suponho. A torre eiffel é equivalente a 190 e meia "Emílias". Uau. No Brasil é crime clonar. Minha professora acha um absurdo. Crime impossível, ela diz. Para que prever??! Ela não acredita em ficção, suponho. Meu outro professor quer um celular com modulador de hábitos para que não toque no meio da aula. Conheço quem pode fazer isso. O professor diz que vai patentear a idéia e antes que o faça eu sugiro que coloque no silencioso.
O elevador chega e abro a porta em um susto. Está quase todo tomado por um homem imenso, gordo, de bermudas e blusa, de tenis e cheio de livros na mão.
Eu entro, tentando desviar da sua barriga, que, sem exagero, alcançava a porta. Aperto o "G"'.
O elevador dá aquele tranquinho e eu penso : Merda... E se ficar preso? Como eu vou respirar? Imagino que o homem imenso, que agora descubro que é professor de inglês, que morava em Nova Iorque mas que ama Salvador e que não é obeso mórbido... só inacreditavelmente gordo... imagino se ele tem medo de elevador. Toco uma música de elevador na cabeça e puxo qualquer assunto. O elevador não para. Ufa. Ele pergunta onde eu aprendi inglês. Eu digo, Nossa... voce sabia que só choveu dezesete por cento do previsto esse mês? Conversa de elevador. Ele me deseja boa sorte com a Disney e o elevador nunca passa do chão.
É que eu esqueço tudo II
Faz mais de um ano que estive no Barbalho e conheci João. Deve ter crescido. Deve estar alguns centímetros mais alto e já deve estar lendo sem soletrar.
Iza me entrega a lista do supermercado para eu corrigir.
Leio e decifro. Batata está certinho. Tem palavras que fazem mais sentido. Para ela ainda é difícil entender o "agá", o "rê" no meio das letras, o "chhhh do ch" e tantos outros que não pareçam com batata, casa, gato, panela. Sílabas assim fazem sentido para ela. Eu corrijo as palavras sem perguntar o que significam porque sei mais ou menos o que está faltando na dispensa. Não, Mila... era cenoura e não cebola. Ela senta do meu lado e reescrevemos a lista.
Mila, sabe o que é?
O que Iza?
Eu tô com um problema sério de "falta de esquecimento". Eu esqueço tudo. É falta de vitamina, é? Deve ser. Eu vou marcar um médico.
Mas esquece tudo o que Izinha?
Tudo ué... não sei mais escrever nada...
Iza estava na quarta série quando fui morar com meus avós. Mal sabia escrever o nome e tinha aulas de inglês. Eu e minha vó decidimos que ensinaríamos o mistério das palavras para Iza. Minha vó morreu e Iza sente falta da companhia diária dela. Meu avô também. Meu avô faz o mercado com a lista de Iza, que eu corrijo. Antes era com a lista de minha avó. Já tentei convence-lo que deixasse eu fazer o mercado... mas ele não abre mão. As vezes o faço companhia mas normalmente quando isso acontece o prejuízo é grande. Nós dois ficamos tentando adivinhar o que Dudu gosta... e o carrinho sai duas vezes mais cheio de coisas que nem ele nem eu podemos comer.
Iza fica parada na cabeceira da mesa. Sei que está sofrendo. Voltou para alfabetização. Eu quero ser professora do colégio que ela estuda. E quero ser professora no Barbalho também. Assim que me formar eu vou ser professora, também.
Iza come bem. Não é falta de vitamina. Tem anemia falciforme, mas toma todos os remédios e os médicos dizem que está bem. Só precisa emagrecer.
Pergunto se ela tem feito os deveres de casa. Ela começa outro assunto. Pergunto se ela tem feito os deveres de casa... Ela me olha um pouco envergonhada. Iza não é preguiçosa. Ela mantém em ordem uma casa enorme. Ela faz sopa, ela conversa, ela ouve rádio, ela é animada. Ela enche um pouco aquela casa enorme que sente falta de sua dona. Ela preenche um pouco o coração de meu avô que sente falta de uma companhia. Minha avó dizia que Iza era uma benção. Minha avó as vezes dizia que ia morrer e eu não acreditava. Eu acredito que Iza é uma benção. Mesmo quando ela faz algumas trapalhadas.
Penso no que poderia dizer para Iza...
Iza... tem livros de receita aqui em casa?
Ela balança a cabeça afirmativamente.
Olha só... eu vou comprar gingobiloba. Lembra que minha vó tomava gingobiloba para esses problemas de memória?
Pois bem... eu compro a gingobiloba e em troca você faz umas receitas novas para mim. Sem carne. Muita batata, cenoura, chuchu, verduras, alface. Mas além disso... quero que você copie as melhores receitas para mim, certo? Vou comprar um caderninho e você olha no livro, copia e a gente vai tirando suas dúvidas. Topa?
Ela me olha desconfiada.
Oh Mila... você não gosta da minha comida não é?
Oxe Iza! Gosto sim! Gosto tanto que quero que você escreva as receitas para mim!
Ela ri, acho que entende e complementa:
Mas e a "falta de esquecimento.... será que essa gingobiloba cura mesmo?
Iza me entrega a lista do supermercado para eu corrigir.
Leio e decifro. Batata está certinho. Tem palavras que fazem mais sentido. Para ela ainda é difícil entender o "agá", o "rê" no meio das letras, o "chhhh do ch" e tantos outros que não pareçam com batata, casa, gato, panela. Sílabas assim fazem sentido para ela. Eu corrijo as palavras sem perguntar o que significam porque sei mais ou menos o que está faltando na dispensa. Não, Mila... era cenoura e não cebola. Ela senta do meu lado e reescrevemos a lista.
Mila, sabe o que é?
O que Iza?
Eu tô com um problema sério de "falta de esquecimento". Eu esqueço tudo. É falta de vitamina, é? Deve ser. Eu vou marcar um médico.
Mas esquece tudo o que Izinha?
Tudo ué... não sei mais escrever nada...
Iza estava na quarta série quando fui morar com meus avós. Mal sabia escrever o nome e tinha aulas de inglês. Eu e minha vó decidimos que ensinaríamos o mistério das palavras para Iza. Minha vó morreu e Iza sente falta da companhia diária dela. Meu avô também. Meu avô faz o mercado com a lista de Iza, que eu corrijo. Antes era com a lista de minha avó. Já tentei convence-lo que deixasse eu fazer o mercado... mas ele não abre mão. As vezes o faço companhia mas normalmente quando isso acontece o prejuízo é grande. Nós dois ficamos tentando adivinhar o que Dudu gosta... e o carrinho sai duas vezes mais cheio de coisas que nem ele nem eu podemos comer.
Iza fica parada na cabeceira da mesa. Sei que está sofrendo. Voltou para alfabetização. Eu quero ser professora do colégio que ela estuda. E quero ser professora no Barbalho também. Assim que me formar eu vou ser professora, também.
Iza come bem. Não é falta de vitamina. Tem anemia falciforme, mas toma todos os remédios e os médicos dizem que está bem. Só precisa emagrecer.
Pergunto se ela tem feito os deveres de casa. Ela começa outro assunto. Pergunto se ela tem feito os deveres de casa... Ela me olha um pouco envergonhada. Iza não é preguiçosa. Ela mantém em ordem uma casa enorme. Ela faz sopa, ela conversa, ela ouve rádio, ela é animada. Ela enche um pouco aquela casa enorme que sente falta de sua dona. Ela preenche um pouco o coração de meu avô que sente falta de uma companhia. Minha avó dizia que Iza era uma benção. Minha avó as vezes dizia que ia morrer e eu não acreditava. Eu acredito que Iza é uma benção. Mesmo quando ela faz algumas trapalhadas.
Penso no que poderia dizer para Iza...
Iza... tem livros de receita aqui em casa?
Ela balança a cabeça afirmativamente.
Olha só... eu vou comprar gingobiloba. Lembra que minha vó tomava gingobiloba para esses problemas de memória?
Pois bem... eu compro a gingobiloba e em troca você faz umas receitas novas para mim. Sem carne. Muita batata, cenoura, chuchu, verduras, alface. Mas além disso... quero que você copie as melhores receitas para mim, certo? Vou comprar um caderninho e você olha no livro, copia e a gente vai tirando suas dúvidas. Topa?
Ela me olha desconfiada.
Oh Mila... você não gosta da minha comida não é?
Oxe Iza! Gosto sim! Gosto tanto que quero que você escreva as receitas para mim!
Ela ri, acho que entende e complementa:
Mas e a "falta de esquecimento.... será que essa gingobiloba cura mesmo?
sábado, 28 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
Cedo. Não tão cedo. Já é claro. Vinte minutos de latim. Os cachorros passeiam pela faculdade de São Lázaro e participam da aula. No alto da colina, no prédio azul, eu coloco o rabo entre as pernas e ouço a conjugação da língua morta. De repente me parece interessante. Penso na língua de quem aprende latim... como faz cócegas essas terminações quase nunca óbvias.
terça-feira, 24 de março de 2009
Faça uma música
Já não sabe, é bem verdade, o que exatamente quis dizer naquela tarde. Mas o que importa? Palavra gosta mesmo é de encontrar o vento. Não gosta muito de saliva. E se ela proibiu o voo... que conviva agora com essas infelizes que só queriam mesmo era ganhar o mundo. Mas palavra contrariada é quase um monstro que se multiplica por segundo. Vira pensamento, vira contração, vira contra senso. Eu sinto a palavra descendo na veia, saindo pelos olhos, transpirando na pele. A palavra é engraçada quando se escreve... mas já não é bem palavra... só se dita em voz alta... caso o contrário ainda se sente presa.
segunda-feira, 23 de março de 2009
O não dito
Eu não entendia o que a música queria dizer:
"O amor manchou. Desandou a maioneses."
Até que entendi e dei adeus a ingenuidade.
"O amor manchou. Desandou a maioneses."
Até que entendi e dei adeus a ingenuidade.
sábado, 21 de março de 2009
Semana passada ela esteve aqui. Estava quase igual. Trazia nas mãos uma velha carta que falava de um forasteiro, cerejas e coisas sem fim. Ela estava quase igual, exceto pelo fato que parecia pela primeira vez sentir medo. Me olhou com olhos fundos. Olhos de quem quer algum tipo de consolo mas que sabe que não pode ser assim tão a mostra. Ela então inventa um assunto e me pede uma xícara de chá. Eu digo, vamos, sente. Ela passa as mãos nos joelhos e finalmente as pousa na mesa. Um colher de açúcar. Desde quando bebe café? Da última vez ainda era muito nova para o café. Eu então bebo o seu chá. Desde quando tinha esse sorriso vazio no rosto? Ela então desata a falar qualquer bobagem e eu me distraio ouvindo a música de fundo que já quase não existe nela. É só um sopro, me parece. Talvez invente um ritmo, quem sabe, para ela dançar no muro...
Me deixa passar a mão nos seus extremos
nas pontas do seu cabelo
nos dedos dos seus pés
Me deixe correr a mão no seu maior segredo
com as pontas dos meus dedos
vasculhar a contra-mão das suas maneiras
Me deite contra o chão
vestigem de grama molhada
vestigem de final de março
Lentamente me deixe
Finalmente me invente
e estejamos, os dois,
enfim rentes.
nas pontas do seu cabelo
nos dedos dos seus pés
Me deixe correr a mão no seu maior segredo
com as pontas dos meus dedos
vasculhar a contra-mão das suas maneiras
Me deite contra o chão
vestigem de grama molhada
vestigem de final de março
Lentamente me deixe
Finalmente me invente
e estejamos, os dois,
enfim rentes.
segunda-feira, 16 de março de 2009
sexta-feira, 13 de março de 2009
Modernidade
Felicidade tarja preta
passo.
não tomo remédio nem para dor de cabeça
quanto mais para tristeza...
passo.
não tomo remédio nem para dor de cabeça
quanto mais para tristeza...
quinta-feira, 12 de março de 2009
de um diálogo que jamais acontecerá
Olá. Vim buscar suas ilusões.
Seja bem-vindo. Estão todas ali naquele saco.
Muito obrigado.
Disponha.
Mas bem... sobrou uma... posso ficar?
Fique a vontade.
Afogando cartas de madrugada.
Seja bem-vindo. Estão todas ali naquele saco.
Muito obrigado.
Disponha.
Mas bem... sobrou uma... posso ficar?
Fique a vontade.
Afogando cartas de madrugada.
de um diálogo que jamais acontecerá
Olá. Vim buscar suas ilusões.
Seja bem-vindo. Estão todas ali naquele saco.
Muito obrigado.
Disponha.
Mas bem... sobrou uma... posso ficar?
Fique a vontade.
Afogando cartas de madrugada.
Seja bem-vindo. Estão todas ali naquele saco.
Muito obrigado.
Disponha.
Mas bem... sobrou uma... posso ficar?
Fique a vontade.
Afogando cartas de madrugada.
brincava de subir em árvore
de correr na grama
de deitar no galho
e almoçar o mundo
Brincava de esconder
de brigar para não prender
e de fugir batendo na mão
(liberdade era tão fácil!)
enterrar passarinho caído do ninho
e para não morrer de desgosto
chorar a morte alheia
escrevendo piruetas no céu
de acender estrela
brincava de fantasma
de sereia
de jardim
brincava de boneca
de invadir
brincava, as vezes
até de sumir
mas brincava, principalmente
de não ter fim
de correr na grama
de deitar no galho
e almoçar o mundo
Brincava de esconder
de brigar para não prender
e de fugir batendo na mão
(liberdade era tão fácil!)
enterrar passarinho caído do ninho
e para não morrer de desgosto
chorar a morte alheia
escrevendo piruetas no céu
de acender estrela
brincava de fantasma
de sereia
de jardim
brincava de boneca
de invadir
brincava, as vezes
até de sumir
mas brincava, principalmente
de não ter fim
quarta-feira, 11 de março de 2009
Percebe que está ficando velha quando começa a inventar histórias sobre o passado porque na verdade simplesmente já não lembra mais se estava mesmo lá...
as vezes até duvidamos que vivemos mesmo a vida toda!
É que é muita vida que acontece em cada minuto.
E muita vida que se distancia no ultimo suspiro...
as vezes até duvidamos que vivemos mesmo a vida toda!
É que é muita vida que acontece em cada minuto.
E muita vida que se distancia no ultimo suspiro...
quarta-feira, 4 de março de 2009
terça-feira, 3 de março de 2009
Brigaram no recreio.
Murilo tocava a ponta da orelha de Lucas com um lápis. Lucas batia no lápis como se fosse um abelha e olhava para trás como se o amigo fosse invisível.
O amigo-abelha repetia todo o movimento.
A professora não entendia o desconforto de Lucas e voltava a olhar para frente.
Lucas enfim pegou o lápis e quebrou em dois. Fez um pouco de soada.
Segurou as partes bem forte nas mão pequeninas, tirou o apontador do estojo e fez a ponta. Dois lápis prontos devolveu para o amigo que aos poucos ganhava forma... como se desenhasse os contornos dele com aquele lápis. A raiva passou e o sino soou. Voltaram para casa.
Murilo tocava a ponta da orelha de Lucas com um lápis. Lucas batia no lápis como se fosse um abelha e olhava para trás como se o amigo fosse invisível.
O amigo-abelha repetia todo o movimento.
A professora não entendia o desconforto de Lucas e voltava a olhar para frente.
Lucas enfim pegou o lápis e quebrou em dois. Fez um pouco de soada.
Segurou as partes bem forte nas mão pequeninas, tirou o apontador do estojo e fez a ponta. Dois lápis prontos devolveu para o amigo que aos poucos ganhava forma... como se desenhasse os contornos dele com aquele lápis. A raiva passou e o sino soou. Voltaram para casa.
Uma ou duas canções preferidas guardadas na manga para impressionar. O nome de um artista desses que ninguém conhece para fingir que sabia alguma coisa incrível. Mas era tão sem importancia aquilo tudo de impressionar quando uniam as bocas. E ela mal sabia beijar.
No que você está pensando?
Ela saia correndo com os olhos, desviava e mudava de assunto.
Ele não sabia se era mistério ou se ela era mesmo estranha.
Era só uma música que não sai da cabeça.
No que você está pensando?
Ela saia correndo com os olhos, desviava e mudava de assunto.
Ele não sabia se era mistério ou se ela era mesmo estranha.
Era só uma música que não sai da cabeça.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Quem vai cantar agora?
Quem vai ninar nenem?
Quem vai ser muito grande
para ver sempre além?
Quem vai virar coberta
Proteger do monstro mal?
Quem deixar a fresta
da porta entreaberta...
Quem vai empacotar
o sonho bom?
Quem vai ser o herói?
Quem vai soprar a dor?
Quem vai ser o abraço
E a palavra que faltou?
Quem? Quem vai?
Quem vai ninar nenem?
Quem vai ser muito grande
para ver sempre além?
Quem vai virar coberta
Proteger do monstro mal?
Quem deixar a fresta
da porta entreaberta...
Quem vai empacotar
o sonho bom?
Quem vai ser o herói?
Quem vai soprar a dor?
Quem vai ser o abraço
E a palavra que faltou?
Quem? Quem vai?
Bi bi biri bi bi
Fom fom forom fom fom
E lá vai na rua
E lá vai a sua
Ela vai toda nua
E lá vai o bloco
E já perde o foco
E só fica o vão
Desse passo grande
Dessa vida curta
Dessa história louca
Do samba canção
E lá vai o dom
Vai na esquina escura
Entregar as pernas
Para a carne dura
Ai, ai, aiiii
Ahhh... Lá vem a chuva
Gota molhada
No fim da tarde
O pote de ouro
E lá vaiiii
E morreu o touro
Lá vai o mouro
Ladrão de ruiva
Lá vem a loira
Caçando em vão
O seu violeiro
E o cancioneiro
No fim do mundo
Perde a canção
Ah lá vai
Bi bi biri bi bi
Bom bom borom bom bom
Fi firi fifi
From from frommmmmmmm
Where are you from?
Fom fom forom fom fom
E lá vai na rua
E lá vai a sua
Ela vai toda nua
E lá vai o bloco
E já perde o foco
E só fica o vão
Desse passo grande
Dessa vida curta
Dessa história louca
Do samba canção
E lá vai o dom
Vai na esquina escura
Entregar as pernas
Para a carne dura
Ai, ai, aiiii
Ahhh... Lá vem a chuva
Gota molhada
No fim da tarde
O pote de ouro
E lá vaiiii
E morreu o touro
Lá vai o mouro
Ladrão de ruiva
Lá vem a loira
Caçando em vão
O seu violeiro
E o cancioneiro
No fim do mundo
Perde a canção
Ah lá vai
Bi bi biri bi bi
Bom bom borom bom bom
Fi firi fifi
From from frommmmmmmm
Where are you from?
depois de quase oitenta anos de sabedoria, se perde o conselho. Ele encara a cara parecida e pede arreigo. O outro molha de lágrimas o travesseiro. Pula da janela. Que dá no chão bem próximo. Não quebra a perna. Duro é não ter mais coração. E quanto vale? O dinheiro não tem preço... mas nele tudo cabe? E sua imensa cabeleira? Sadia é um nó.
De carne e osso. Vieram formigas buscar o doce. Pupilas inteiras, quase engraçadas. E veio o vento buscar a fada. De cor de cera, de lápis duro. Rolando imenso no papel branco. Doce, doce, doce. Chega enjoa. Come, come, come. Sua carne dura dilacera com os dentes. Moles. Caem todos no chão. Vem a fada do porão. Vem o barco do mar. Para que pensar?
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Pois é.
Hoje talvez eu chore.
Sossegue menina. Nem mais um piu.
Pois é.
Hoje talvez desague, quem sabe limpa.
Sossegue menina que isso passa.
Pois é.
Hoje talvez eu diga
o que fere essa garganta mal-dita
Sossegue menina
a vida é de surpresa
Pois é.
Hoje talvez...
Talvez amanhã
Um dia quem sabe
Eu perco o controle.
Hoje talvez eu chore.
Sossegue menina. Nem mais um piu.
Pois é.
Hoje talvez desague, quem sabe limpa.
Sossegue menina que isso passa.
Pois é.
Hoje talvez eu diga
o que fere essa garganta mal-dita
Sossegue menina
a vida é de surpresa
Pois é.
Hoje talvez...
Talvez amanhã
Um dia quem sabe
Eu perco o controle.
Pois é.
Hoje talvez eu chore.
Sossegue menina. Nem mais um piu.
Pois é.
Hoje talvez desague, quem sabe limpa.
Sossegue menina que isso passa.
Pois é.
Hoje talvez eu diga
o que fere essa garganta mal-dita
Sossegue menina
a vida é de surpresa
Pois é.
Hoje talvez...
Talvez amanhã
Um dia quem sabe
Eu perco o controle.
Recife - Três meninas
Três meninas em cima.
Três meninas em baixo.
Ao todo são seis.
Quase da mesma idade.
Quase parecidas.
Uma, em cima ,na calçada, dança.
Uma, em baixo,no asfalto, dança.
Para cada criança de cima
um adulto segurando o braço
Para cada criança de baixo
a responsabilidade de cuidar do isopor.
Mas são seis meninas tão lindas...
Duas com sono em cima
Duas bem sérias em baixo
Mas as outras duas dançam...
Dançam o frevo, inventam o passo
Sorri desengonçada a de cima,
enquanto a de baixo desmancha o asfalto...
e quando me vêem olhando ficam tímidas
depois exibidas
Ai, essas crianças...
quase parecidas
será que um dia se encontram?
Um dia se cruzam?
Um dia quem sabe...
mas de igual para igual
não só vendendo lata e dançando frevo
no Carnaval...
Três meninas em baixo.
Ao todo são seis.
Quase da mesma idade.
Quase parecidas.
Uma, em cima ,na calçada, dança.
Uma, em baixo,no asfalto, dança.
Para cada criança de cima
um adulto segurando o braço
Para cada criança de baixo
a responsabilidade de cuidar do isopor.
Mas são seis meninas tão lindas...
Duas com sono em cima
Duas bem sérias em baixo
Mas as outras duas dançam...
Dançam o frevo, inventam o passo
Sorri desengonçada a de cima,
enquanto a de baixo desmancha o asfalto...
e quando me vêem olhando ficam tímidas
depois exibidas
Ai, essas crianças...
quase parecidas
será que um dia se encontram?
Um dia se cruzam?
Um dia quem sabe...
mas de igual para igual
não só vendendo lata e dançando frevo
no Carnaval...
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
sibilado
valCarinho debaixo do queixo o faz miar
Miando, ele diz a dona que quer amor
Amando, ela responde que vai passar
Ronronando ele avisa que vai viver!
Miando, ele diz a dona que quer amor
Amando, ela responde que vai passar
Ronronando ele avisa que vai viver!
Habbeas corpus
Daqui para ali
de ali para acolá
pelo papel imenso
corre a caneta rápida e
em cada linha livre que escrevo
peticiono o seu direito de poder até andar...
daqui para acolá são longas linhas.
de ali para acolá
pelo papel imenso
corre a caneta rápida e
em cada linha livre que escrevo
peticiono o seu direito de poder até andar...
daqui para acolá são longas linhas.
Mutação constitucional
. O Direito, ninguém se iluda, vive no tempo, de mãos dadas com o tempo. Dança e rodopia com o tempo. Talvez seja até um romance...
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Descansam entre duas páginas em francês
Quando um dia eu souber todas essas palavras...
Em cima, fazendo peso para que elas sequem
um livro de direito penal bem gordo
E ainda mais em cima,
para que elas não queiram fugir (duvido que queiram entre tantas palavras bonitas)
um livro sobre os Beatles, maior do mundo, para não faltar assunto
Era uma vez, outro dia,
uma rosa que morou nesse mesmo lugar.
Quando um dia eu souber todas essas palavras...
Em cima, fazendo peso para que elas sequem
um livro de direito penal bem gordo
E ainda mais em cima,
para que elas não queiram fugir (duvido que queiram entre tantas palavras bonitas)
um livro sobre os Beatles, maior do mundo, para não faltar assunto
Era uma vez, outro dia,
uma rosa que morou nesse mesmo lugar.
Para onde ela olha com olhos tão tristes?
O macarrão ficou fora do ponto?
Mas todo mundo está com a barriga tão cheia
e aquela cara de sono depois da janta...
Ela quase não tocou na comida
Não gosto muito de comer quando cozinho...
Será que é para não saber o quanto é boa
Não está salgada a comida
Será que quis chorar mas teve medo de estragar o tempero
Para onde olha tão triste e de barriga vazia
Porque tira os pratos com um movimento tão distante
E porque afasta o bolo assim tão de repente
Porque não quebra os copos e vira a mesa?
O macarrão ficou fora do ponto?
Mas todo mundo está com a barriga tão cheia
e aquela cara de sono depois da janta...
Ela quase não tocou na comida
Não gosto muito de comer quando cozinho...
Será que é para não saber o quanto é boa
Não está salgada a comida
Será que quis chorar mas teve medo de estragar o tempero
Para onde olha tão triste e de barriga vazia
Porque tira os pratos com um movimento tão distante
E porque afasta o bolo assim tão de repente
Porque não quebra os copos e vira a mesa?
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Só sobre alegria
Eram miudinhas aquelas flores vermelhas
Mas faziam um bouquet enorme
(em mimiatura).
E se as olhasse bem de perto
descobria que cada florzinha tinha história:
Da formiga fugitiva pelas pétalas
Até da gota de água hesitante fazendo-lhe cócegas.
Verde, vermelho, cada haste subia tranquila
Pareciam um catavento!
A namorada, ainda boba e de pijama
ao pensar em brincar com seu bonito presente
Sorriu pensativa...
Bem me quer, bem me quer
E que as flores durmam inteiras!
Mas faziam um bouquet enorme
(em mimiatura).
E se as olhasse bem de perto
descobria que cada florzinha tinha história:
Da formiga fugitiva pelas pétalas
Até da gota de água hesitante fazendo-lhe cócegas.
Verde, vermelho, cada haste subia tranquila
Pareciam um catavento!
A namorada, ainda boba e de pijama
ao pensar em brincar com seu bonito presente
Sorriu pensativa...
Bem me quer, bem me quer
E que as flores durmam inteiras!
Maus poemas
Os poemas sairam de casa com o endereço errado
Bateram na porta da realeza
que rasgou cada verso, papel de seda
E copiou o desenho do sorriso que remetia
Ateando fogo a qualquer resposta
Os versos eram para outro
Eram para os que passavam discretos as três da tarde
Mas mudaram o rumo e foram dormir as seis
Assim que decidiram ter cinco filhos
um deles chines.
Os outros que fossem do destino.
Bateram na porta da realeza
que rasgou cada verso, papel de seda
E copiou o desenho do sorriso que remetia
Ateando fogo a qualquer resposta
Os versos eram para outro
Eram para os que passavam discretos as três da tarde
Mas mudaram o rumo e foram dormir as seis
Assim que decidiram ter cinco filhos
um deles chines.
Os outros que fossem do destino.
A) prenda-me
Mais um espanto que vem de sangue, vermelho e branco, que rosa hostil.
E vai levando a encomenda, vi (ver) morrendo não é escolha.
De um em um passaram-se anos, de mão em mão, aceno, adeus.
26 jardins, todos plantados de súbito, mas daqueles que vieram só um não tinha nome.
Que olhos eram aqueles do desconhecido? Não me parecia engano, era uma dor de conhecer.
Mais um espanto que vem de sangue, vermelho e branco, que rosa hostil.
E vai levando a encomenda, vi (ver) morrendo não é escolha.
De um em um passaram-se anos, de mão em mão, aceno, adeus.
26 jardins, todos plantados de súbito, mas daqueles que vieram só um não tinha nome.
Que olhos eram aqueles do desconhecido? Não me parecia engano, era uma dor de conhecer.
A) prenda-me
Mais um espanto que vem de sangue, vermelho e branco, que rosa hostil.
E vai levando a encomenda, (vi) (ver) morrendo não é escolha.
De um em um passaram-se anos, de mão em mão, aceno, adeus.
26 jardins, todos plantados de súbito e daqueles que vieram só um não tinha nome.
Mas que olhos eram aqueles? Não me parecia engano, era uma dor de conhecer.
O meu nome sou eu. E é asssim que me apresento.Ontem de manhãzinha quando acordei achei que não existia e flutuei. Sensação doce, mas sempre algum intruso vem e lembra : Olha, você existe. Acordo sem jeito, saindo de sonho, caindo no dia. Olho por olho amanheco, bocejo o recuperar do cançaso, mais um último esticar de descanço. Acordar... Dormir é mais quieto.
Múltiplos
O meu nome sou eu?
Quando acordei não vi passar o furacão, só a tv ligada em uma notícia antiga.
Foi um passarinho que me trouxe no bico um ovo de avestruz e me contou, assim em um pio, que o o dia seria longo, talvez o maior dia que já amanheceu no calendário de dias.
Como o tempo é um limite, peguei uma tesoura e cortei a fita promiscua que separava a minha necessidade de correr da minha obrigação de ficar. E o movimento se multiplicou em dois e em um ir-voltar corri horas duplas, que também freei.
O meu nome sou eu?
Quando acordei não vi passar o furacão, só a tv ligada em uma notícia antiga.
Foi um passarinho que me trouxe no bico um ovo de avestruz e me contou, assim em um pio, que o o dia seria longo, talvez o maior dia que já amanheceu no calendário de dias.
Como o tempo é um limite, peguei uma tesoura e cortei a fita promiscua que separava a minha necessidade de correr da minha obrigação de ficar. E o movimento se multiplicou em dois e em um ir-voltar corri horas duplas, que também freei.
Carta
Querida,
As cerejas aqui estão doces. Estou saindo muito para passear. A vida na vila continua como você a conheceu, aquela calmaria... de manhã cedo é ainda escuro, depois vem aquela névoa que embranquece todo o horizonte e esconde o topo da montanha, bem na frente da janela da sala de jantar. Aquela onde eu escondia os chocolates e jogávamos brisca a noite.
E a noite só vem bem tarde, continua, quase quando já temos sono, bem na hora de tomar uma sopa, jogar baralho e deitar para dormir. Nos domingos tem a missa, o padre ainda coloca todas as crianças no altar para distrai-las, a missa continua breve, a igreja de pedra fria. No final levo umas flores para sua vó. Sinto saudades da rede na varanda, do calor e das conversas, do mais aqui me basta. Devo admitir que preparar-me para uma vida assim não estava nos meus planos, mas como você bem sabe sou homem de coragem e tudo que quero é organizar as coisas muito bem antes de ir e aqui me parece um bom lugar para amenizar despedidas.
Semana passada, porém, aconteceu algo que me deixou meio perplexo. E te conto por que sei que você é a única que entenderia. Chegou um forasteiro, seguindo o caminho de Santiago de Compostela . Eu estava no cruzeiro, era de tardezinha e eu tinha ido de bicicleta, tentando passar o tempo. Até ri lembrando que quando vínhamos passear, quando você era bem pequena, ficava imaginando encontrar um urso filhotinho para levar para casa... e eu sempre te pegava no colo, te punha de cabeça para baixo e falava que era mais fácil achar um javali! Você saia correndo, rindo... mas ficava sempre perto dos nossos olhos com medo do javali aparecer! Funcionou por algum tempo, lembra?! Até você decidir que medo não existia. Já tem tantos anos isso! Uns 15? 16? Mas voltando ao assunto, para não me alongar muito nessa carta. Apareceu um forasteiro na vila e o encontrei lá no cruzeiro. Ele tinha uma aparência suja, embora de olhar muito carinhoso. Já estava perto de anoitecer e me perguntou se havia algum lugar onde podia se hospedar antes da noite cair. Eu não ri, porque não riu para estranhos, mas disse que podia dormir no palheiro, que era o lugar mais confortável que encontraria naquelas redondezas. Ele não entendeu que estava brincando e aceitou minha sugestão. Descemos juntos a rua de pedra, ele voltando o caminho que tinha avançado e eu empurrando a bicicleta. Não trocamos uma só palavra, mas ele ganhou minha simpatia. Já não sabia mais para onde leva-lo, já não existem palheiros aqui como antigamente. Então o trouxe para casa. E é isso, querida, que preciso contar-te, o forasteiro ficou. Já tem dois dias que vem dormir. Passa a tarde inteira no rio gelado e volta quando escurece trazendo as garrafas cheias de agua da fonte, cerejas, que como disse, estão muito doces e sempre uma nova história. Me perguntou se podia ficar uns dias, que estava cansado, que me pagava bem... e eu não pude negar... aceitei.... não sei, mas acho que por detrás daquela barba suja... é seu tio.
Não conte para os outros... as vezes o coração quer acreditar. Sei que não passo perigo, então fique tranquila e mande beijos para os seus e para os meus também.
As cerejas aqui estão doces. Estou saindo muito para passear. A vida na vila continua como você a conheceu, aquela calmaria... de manhã cedo é ainda escuro, depois vem aquela névoa que embranquece todo o horizonte e esconde o topo da montanha, bem na frente da janela da sala de jantar. Aquela onde eu escondia os chocolates e jogávamos brisca a noite.
E a noite só vem bem tarde, continua, quase quando já temos sono, bem na hora de tomar uma sopa, jogar baralho e deitar para dormir. Nos domingos tem a missa, o padre ainda coloca todas as crianças no altar para distrai-las, a missa continua breve, a igreja de pedra fria. No final levo umas flores para sua vó. Sinto saudades da rede na varanda, do calor e das conversas, do mais aqui me basta. Devo admitir que preparar-me para uma vida assim não estava nos meus planos, mas como você bem sabe sou homem de coragem e tudo que quero é organizar as coisas muito bem antes de ir e aqui me parece um bom lugar para amenizar despedidas.
Semana passada, porém, aconteceu algo que me deixou meio perplexo. E te conto por que sei que você é a única que entenderia. Chegou um forasteiro, seguindo o caminho de Santiago de Compostela . Eu estava no cruzeiro, era de tardezinha e eu tinha ido de bicicleta, tentando passar o tempo. Até ri lembrando que quando vínhamos passear, quando você era bem pequena, ficava imaginando encontrar um urso filhotinho para levar para casa... e eu sempre te pegava no colo, te punha de cabeça para baixo e falava que era mais fácil achar um javali! Você saia correndo, rindo... mas ficava sempre perto dos nossos olhos com medo do javali aparecer! Funcionou por algum tempo, lembra?! Até você decidir que medo não existia. Já tem tantos anos isso! Uns 15? 16? Mas voltando ao assunto, para não me alongar muito nessa carta. Apareceu um forasteiro na vila e o encontrei lá no cruzeiro. Ele tinha uma aparência suja, embora de olhar muito carinhoso. Já estava perto de anoitecer e me perguntou se havia algum lugar onde podia se hospedar antes da noite cair. Eu não ri, porque não riu para estranhos, mas disse que podia dormir no palheiro, que era o lugar mais confortável que encontraria naquelas redondezas. Ele não entendeu que estava brincando e aceitou minha sugestão. Descemos juntos a rua de pedra, ele voltando o caminho que tinha avançado e eu empurrando a bicicleta. Não trocamos uma só palavra, mas ele ganhou minha simpatia. Já não sabia mais para onde leva-lo, já não existem palheiros aqui como antigamente. Então o trouxe para casa. E é isso, querida, que preciso contar-te, o forasteiro ficou. Já tem dois dias que vem dormir. Passa a tarde inteira no rio gelado e volta quando escurece trazendo as garrafas cheias de agua da fonte, cerejas, que como disse, estão muito doces e sempre uma nova história. Me perguntou se podia ficar uns dias, que estava cansado, que me pagava bem... e eu não pude negar... aceitei.... não sei, mas acho que por detrás daquela barba suja... é seu tio.
Não conte para os outros... as vezes o coração quer acreditar. Sei que não passo perigo, então fique tranquila e mande beijos para os seus e para os meus também.
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