domingo, 31 de maio de 2009
sexta-feira, 29 de maio de 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Carlos foi meu primeiro amor
Carlos morreu
Morreu velhinho
E eu o amo sem pensar nas rugas
E até achando bonito tantos anos impressos no rosto
Sem lembrar dos óculos
e os vestindo para ler seus poemas
Sem o ver grisalho
Mas o sabendo, branca neve
Carlos morreu velho,
ficou fraquinho
um franguinho miúdo
E eu o amo
com o amor que só se devota
aos poetas
Ficaria horas, dias, uma vida
Amando Carlos
Carlos foi meu primeiro amor
Se se chamasse Raimundo
Talvez não o fosse.
Carlos morreu
Morreu velhinho
E eu o amo sem pensar nas rugas
E até achando bonito tantos anos impressos no rosto
Sem lembrar dos óculos
e os vestindo para ler seus poemas
Sem o ver grisalho
Mas o sabendo, branca neve
Carlos morreu velho,
ficou fraquinho
um franguinho miúdo
E eu o amo
com o amor que só se devota
aos poetas
Ficaria horas, dias, uma vida
Amando Carlos
Carlos foi meu primeiro amor
Se se chamasse Raimundo
Talvez não o fosse.
terça-feira, 26 de maio de 2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Lembro
Com algum atraso
Me questiono o que descia no mar naquela noite
Aquele céu bem escuro e depois clarão
As mãos na areia
A noite bem cheia, sem lua
No inesperado
de uma voz que eu quase não conhecia
Mas que de mim sabia cada linha.
Me questiono o que descia no mar naquela noite
Aquele céu bem escuro e depois clarão
As mãos na areia
A noite bem cheia, sem lua
No inesperado
de uma voz que eu quase não conhecia
Mas que de mim sabia cada linha.
De cama
O corpo reclama
Incendeia
Dói
A boca fica vermelha, a bochecha fica vermelha,
os olhos querem fechar
Eu pulo da cama
Não gosto de remédio
Não gosto de cama
Mas o corpo manda
O corpo manda
deitar de novo
O corpo manda esperar mais um pouco
O corpo reclama
Eu me deito
Incendeia
Dói
A boca fica vermelha, a bochecha fica vermelha,
os olhos querem fechar
Eu pulo da cama
Não gosto de remédio
Não gosto de cama
Mas o corpo manda
O corpo manda
deitar de novo
O corpo manda esperar mais um pouco
O corpo reclama
Eu me deito
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Circo
Ele atende. Sai de perto das crianças. Agora é assunto de gente grande.
Vamos lá. Do ponto de vista subjetivo não posso opinar muito. Mas posso falar sobre o operacional... a logística. Disso eu entendo.
(...)
É como em um trapézio. Você está balançando, pêndulo, de um lado para o outro. Se você vai se jogar.... Ao menos arme a rede de segurança... ou então você vai cair no chão, e, parece que machuca.
O espetáculo das trapezistas, contorcionistas, equilibristas...
palhacinhas que fazem graça do que sentem...
Vamos lá. Do ponto de vista subjetivo não posso opinar muito. Mas posso falar sobre o operacional... a logística. Disso eu entendo.
(...)
É como em um trapézio. Você está balançando, pêndulo, de um lado para o outro. Se você vai se jogar.... Ao menos arme a rede de segurança... ou então você vai cair no chão, e, parece que machuca.
O espetáculo das trapezistas, contorcionistas, equilibristas...
palhacinhas que fazem graça do que sentem...
Olha o tamanho e a forma, escolhe
Apalpa e aperta
Enfia os dedos para sacar a semente
Lambuza as mãos
Lambe a colher, só para provar
Mexe mais um pouquinho
Sente os cheiros
As texturas
As cores
Acrescenta ingredientes novos e sal a gosto
Aumenta o fogo
Tem o ponto certo
Não para de mexer
Não para
Não para
se não embola
Apalpa e aperta
Enfia os dedos para sacar a semente
Lambuza as mãos
Lambe a colher, só para provar
Mexe mais um pouquinho
Sente os cheiros
As texturas
As cores
Acrescenta ingredientes novos e sal a gosto
Aumenta o fogo
Tem o ponto certo
Não para de mexer
Não para
Não para
se não embola
tangerina
Tangerina
é a inspiração do pacote de biscoito.
A gente leva na bolsa.
O semáfaro. O saquinho amarelo. O moço.
Seis por cinco freguesa. Dois leva. Vá com Deus.
Tangerina é cheia de gominhos,
de sorrisos,
um a um.
Tangerina boa é tangerina de sinaleira.
Aquela que a gente enfia o dedo e sente que
dá para ir um pouquinho mais fundo
Ai tira a casca,
faz até um compartimento para guardar as
sementes e não sujar o carro.
é a inspiração do pacote de biscoito.
A gente leva na bolsa.
O semáfaro. O saquinho amarelo. O moço.
Seis por cinco freguesa. Dois leva. Vá com Deus.
Tangerina é cheia de gominhos,
de sorrisos,
um a um.
Tangerina boa é tangerina de sinaleira.
Aquela que a gente enfia o dedo e sente que
dá para ir um pouquinho mais fundo
Ai tira a casca,
faz até um compartimento para guardar as
sementes e não sujar o carro.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Top Top
- Tá fazendo o que Milinha?
- Tô separando umas músicas, vô!
- Ahhhhhhhhh.... Nirvana... É bom? É do curso de meditação é?
TOP TOP - Topa?!
Feu Veiga e Emília Nunez - Flauer on the rocks!
Nosso set vai ser bem diversificado, levando em conta as referências que convergiram na estrada da Flauer e as pessoais também. Indo de clássicos do Rock como Nirvana, Janis Joplin, The Cure, Smashing Pumpkins, até a música brasileira com Mutantes, Tom Zé, Caetano, Mombojó. Passando pelas bandas com meninas como Elastica, Sleater Kinney, Butchies, Breeders, L7, até os nomes mais atuais como Cibelle, Kate Nash, Paris Combo, Aurevoir Simone, Pretty Girls Make Graves, Belle et Sebastian... E muitas cositas dançantes!
FLAUER
A Flauer é uma banda de Salvador formada no final de 2003, cujas influências passam pelo rock e suas diversas vertentes e pela música brasileira sem, no entanto, obedecer a uma rigidez em qualquer desses estilos. Pronta para sacudir o esqueleto e usar toda a imaginação, a Flauer tem como proposta expressar as sensações despertadas pela vida cotidiana e os sentimentos transformando-os em música e para este propósito abusa da subjetividade das palavras e sons. Músicas em português, inglês e francês de autoria própria compõem o seu repertório atual, além de versões de músicas já consagradas, como A História de Lily Braum de Chico Buarque e Baby de Caetano Veloso. A amizade e os desejos em comum de Fernanda Veiga (vocalista) , Emília Núñez (guitarrista), Fernanda Félix (baixo), Mariana Drummond (bateria) foram os precursores do projeto inicial do que hoje é a Flauer, agora com Daniel Rebouças na guitarra e Lua Brasil no sintetizador. Pela banda passaram também Carol Petersen, Leonardo Mitchell e Marcelo Adam, todos na guitarra. "E se for dessa vez...", primeiro trabalho da banda, gravado e mixado no estúdio Casa das Máquinas por Tadeu Mascarenhas e fruto da parceria dos selos BigBross e MuvDiscos, foi lançado em 2006, contendo oito musicas próprias. E em 2007 foi gravado o primeiro clipe da banda com a música Você só mente, uma versão da letra de Noel Rosa, dirigido por Gustavo Seabra. Atualmente a banda está preparando seu novo Cd que estará disponível no segundo semestre de 2009.
Fernanda Veiga:
A Flauer foi sua primeira banda e uma ponte para estreitar a relação com a música. Tudo começou na adolescência, com influência de Alanis Morissette e em seguida de bandas de grunge como Pearl Jam, bandas de meninas como Sleater Kinney, Helium, Le Tigre e cantoras brasileiras como Elis Regina e Marisa Monte. Daí em diante o mundo da música foi se mostrando e a cada dia lhe desenhando novos caminhos e possibilidades. Hoje prefere ritmos mais leves e muita mistura, tem carinho especial por moças no vocal, sobretudo as de personalidade. Considera a mistura de ritmos um dos melhores adventos da música contemporânea. Seu instrumento é o canto, sua voz um soprano sem tanta técnica, mas com muita vontade. Atualmente na "vitrola" tocam: Cibelle, Kate Nash, Tom Zé, Bebel Gilberto, Tryo, Yael Naim, Nouvelle Vague, Ani di Franco, Novos Baianos, Mariene de Castro e Batatinha.
Emília Núñez:
Emília é guitarrista da Flauer. Tocou em outras bandas como Lucy in the Sky e Benjá. Acredita que música boa movimenta... seja o corpo, seja o sentimento, seja a imaginação e que o que vale mesmo é a sinceridade! Gosta de misturar música e poesia, música e imagens, música e chocolate... Acha que a criatividade não tem limites, que o "Faça você mesmo" é o grande mandamento das bandas alternativas e que no final se foi divertido valeu a pena! Se encanta com Chico e Andrew Bird. Dança com Strokes e Lenine. Gosta muito da tropicália e acha os Mutantes incríveis. Se emociona com Elis e Janis. Gosta da mistura. Gosta do inusitado e dos clássicos. Gosta de barulho, mas também de sutilezas. Na vitrola tem tocado: Jawbreaker, Foo Fighters, Dan Sartain,Tom e Vinicius, Pretty girls make graves, Au revoir Simone, Novos Baianos, Fiona Apple, Ra Ra Riot, Cidadão Instigado, Eddie, Rancid, Sleater Kinney e Hot Water Music.
- Tô separando umas músicas, vô!
- Ahhhhhhhhh.... Nirvana... É bom? É do curso de meditação é?
TOP TOP - Topa?!
Feu Veiga e Emília Nunez - Flauer on the rocks!
Nosso set vai ser bem diversificado, levando em conta as referências que convergiram na estrada da Flauer e as pessoais também. Indo de clássicos do Rock como Nirvana, Janis Joplin, The Cure, Smashing Pumpkins, até a música brasileira com Mutantes, Tom Zé, Caetano, Mombojó. Passando pelas bandas com meninas como Elastica, Sleater Kinney, Butchies, Breeders, L7, até os nomes mais atuais como Cibelle, Kate Nash, Paris Combo, Aurevoir Simone, Pretty Girls Make Graves, Belle et Sebastian... E muitas cositas dançantes!
FLAUER
A Flauer é uma banda de Salvador formada no final de 2003, cujas influências passam pelo rock e suas diversas vertentes e pela música brasileira sem, no entanto, obedecer a uma rigidez em qualquer desses estilos. Pronta para sacudir o esqueleto e usar toda a imaginação, a Flauer tem como proposta expressar as sensações despertadas pela vida cotidiana e os sentimentos transformando-os em música e para este propósito abusa da subjetividade das palavras e sons. Músicas em português, inglês e francês de autoria própria compõem o seu repertório atual, além de versões de músicas já consagradas, como A História de Lily Braum de Chico Buarque e Baby de Caetano Veloso. A amizade e os desejos em comum de Fernanda Veiga (vocalista) , Emília Núñez (guitarrista), Fernanda Félix (baixo), Mariana Drummond (bateria) foram os precursores do projeto inicial do que hoje é a Flauer, agora com Daniel Rebouças na guitarra e Lua Brasil no sintetizador. Pela banda passaram também Carol Petersen, Leonardo Mitchell e Marcelo Adam, todos na guitarra. "E se for dessa vez...", primeiro trabalho da banda, gravado e mixado no estúdio Casa das Máquinas por Tadeu Mascarenhas e fruto da parceria dos selos BigBross e MuvDiscos, foi lançado em 2006, contendo oito musicas próprias. E em 2007 foi gravado o primeiro clipe da banda com a música Você só mente, uma versão da letra de Noel Rosa, dirigido por Gustavo Seabra. Atualmente a banda está preparando seu novo Cd que estará disponível no segundo semestre de 2009.
Fernanda Veiga:
A Flauer foi sua primeira banda e uma ponte para estreitar a relação com a música. Tudo começou na adolescência, com influência de Alanis Morissette e em seguida de bandas de grunge como Pearl Jam, bandas de meninas como Sleater Kinney, Helium, Le Tigre e cantoras brasileiras como Elis Regina e Marisa Monte. Daí em diante o mundo da música foi se mostrando e a cada dia lhe desenhando novos caminhos e possibilidades. Hoje prefere ritmos mais leves e muita mistura, tem carinho especial por moças no vocal, sobretudo as de personalidade. Considera a mistura de ritmos um dos melhores adventos da música contemporânea. Seu instrumento é o canto, sua voz um soprano sem tanta técnica, mas com muita vontade. Atualmente na "vitrola" tocam: Cibelle, Kate Nash, Tom Zé, Bebel Gilberto, Tryo, Yael Naim, Nouvelle Vague, Ani di Franco, Novos Baianos, Mariene de Castro e Batatinha.
Emília Núñez:
Emília é guitarrista da Flauer. Tocou em outras bandas como Lucy in the Sky e Benjá. Acredita que música boa movimenta... seja o corpo, seja o sentimento, seja a imaginação e que o que vale mesmo é a sinceridade! Gosta de misturar música e poesia, música e imagens, música e chocolate... Acha que a criatividade não tem limites, que o "Faça você mesmo" é o grande mandamento das bandas alternativas e que no final se foi divertido valeu a pena! Se encanta com Chico e Andrew Bird. Dança com Strokes e Lenine. Gosta muito da tropicália e acha os Mutantes incríveis. Se emociona com Elis e Janis. Gosta da mistura. Gosta do inusitado e dos clássicos. Gosta de barulho, mas também de sutilezas. Na vitrola tem tocado: Jawbreaker, Foo Fighters, Dan Sartain,Tom e Vinicius, Pretty girls make graves, Au revoir Simone, Novos Baianos, Fiona Apple, Ra Ra Riot, Cidadão Instigado, Eddie, Rancid, Sleater Kinney e Hot Water Music.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Preciso de uma camera!
Tudo solto.
-Sara Fernandez Sotto (Sarita) - Professora - Regime de Franco - Religião - ABC, alguma coisa de geografia - Eu era bom mesmo em matemática - Era esforçado, era dedicado. Ela tinha nascido na Bahia (?!! Mundo mundo vasto mundo... se eu me chamasse Raimundo... haveria tantas coincidências???)
- 6 anos - Guerra Civil espanhola - 10 anos - 2 guerra mundial - Poucas festas nessa época. A gente sentia os reflexos da guerra. Como todo o mundo sentiu.
- 17 anos - Ferreiro - Fazia ferramentas para escavação - Na Ferrocarril.
- Não tinha rádio
- Pombo correio - Colocava a carta no pezinho do pombo, o pombo treinado!
- Jornal de Vigo
- A linha de trem foi construída na década de sessenta
- Plantavam batata, trigo - tudo que desse. dava muita coisa.
- Namoradas?! Sim... sim... tive algumas namoradas no pueblo.
- Laura ( a vó do meu amigo Julito!!! rs) foi minha namorada também. Mas o pessoal lá era moderno. Quando soube que eu ia para o Brasil disse que eu podia escrever uma carta, mas que não dava para ter nada sério.
- Teve uns amores. Nessa idade tem aquelas... (coloca a mão no peito). Aquela coisa que mexe mais...
- Teve uma em Campos Bezerro que mexia e que disse que queria namorar comigo. Jozefa (Lê Rozefa). Mas ela tinha namorado e o namorado mandou recado para eu não me aproximar, que ela era namorada dele. Ah... ela casou, teve filhos, netos, deve ter morrido já.
- Luiza e ___ (esqueci!) ... tiveram muitas. Tinha muitas garotas bonitas. E elas eram todas amigas.
- Mas o que eu gostava mesmo era de dançar! Eu dançava bem! Tinha o bolero, eu lembro bem, e a valsa e o passo doble e o começo do tango. Eu lembro bem! Dançava muito! Eram umas festas boas!
- E aqui no Brasil também. Era trabalho, trabalho. Mas eu cheguei com 20 anos... tinham aquelas festas, eu namorava também. Mas foi lá na Espanha que comecei a passar a linha (rs!)...
- Era bom!
O velho Benjamim é um homem bonito aos oitenta. Aos vinte... Sorri ao contar...
" Mas passa! O bom da vida é viver. Viver com alegria! Tem que ter uma ilusão... e otimismo... era muito frio no inverno e ninguém reclamava. A gente vivia aquela vida ali e era bom.
-Sara Fernandez Sotto (Sarita) - Professora - Regime de Franco - Religião - ABC, alguma coisa de geografia - Eu era bom mesmo em matemática - Era esforçado, era dedicado. Ela tinha nascido na Bahia (?!! Mundo mundo vasto mundo... se eu me chamasse Raimundo... haveria tantas coincidências???)
- 6 anos - Guerra Civil espanhola - 10 anos - 2 guerra mundial - Poucas festas nessa época. A gente sentia os reflexos da guerra. Como todo o mundo sentiu.
- 17 anos - Ferreiro - Fazia ferramentas para escavação - Na Ferrocarril.
- Não tinha rádio
- Pombo correio - Colocava a carta no pezinho do pombo, o pombo treinado!
- Jornal de Vigo
- A linha de trem foi construída na década de sessenta
- Plantavam batata, trigo - tudo que desse. dava muita coisa.
- Namoradas?! Sim... sim... tive algumas namoradas no pueblo.
- Laura ( a vó do meu amigo Julito!!! rs) foi minha namorada também. Mas o pessoal lá era moderno. Quando soube que eu ia para o Brasil disse que eu podia escrever uma carta, mas que não dava para ter nada sério.
- Teve uns amores. Nessa idade tem aquelas... (coloca a mão no peito). Aquela coisa que mexe mais...
- Teve uma em Campos Bezerro que mexia e que disse que queria namorar comigo. Jozefa (Lê Rozefa). Mas ela tinha namorado e o namorado mandou recado para eu não me aproximar, que ela era namorada dele. Ah... ela casou, teve filhos, netos, deve ter morrido já.
- Luiza e ___ (esqueci!) ... tiveram muitas. Tinha muitas garotas bonitas. E elas eram todas amigas.
- Mas o que eu gostava mesmo era de dançar! Eu dançava bem! Tinha o bolero, eu lembro bem, e a valsa e o passo doble e o começo do tango. Eu lembro bem! Dançava muito! Eram umas festas boas!
- E aqui no Brasil também. Era trabalho, trabalho. Mas eu cheguei com 20 anos... tinham aquelas festas, eu namorava também. Mas foi lá na Espanha que comecei a passar a linha (rs!)...
- Era bom!
O velho Benjamim é um homem bonito aos oitenta. Aos vinte... Sorri ao contar...
" Mas passa! O bom da vida é viver. Viver com alegria! Tem que ter uma ilusão... e otimismo... era muito frio no inverno e ninguém reclamava. A gente vivia aquela vida ali e era bom.
Roubou um pedaço da minha noite
Ou fui eu quem te dei o começo da minha manhã
num sorriso de quem faz sonho com o corpo?
O despertador não me faz cócegas
Me cubro, o corpo todo, para não amanhecer em baixo da coberta
A aula pode esperar, não sente sequer minha falta
Só a caderneta que lembra meu nome e marca um fê
Eu até sinto falta do professor de terno azul, cabelos cinzas...
E ele troca meu nome
Não sabe que a moça para quem ele ri na rampa, Inês
É a Emília da caderneta
Mas eu não te conto... e você não me reprova
Estamos combinados?
Ou fui eu quem te dei o começo da minha manhã
num sorriso de quem faz sonho com o corpo?
O despertador não me faz cócegas
Me cubro, o corpo todo, para não amanhecer em baixo da coberta
A aula pode esperar, não sente sequer minha falta
Só a caderneta que lembra meu nome e marca um fê
Eu até sinto falta do professor de terno azul, cabelos cinzas...
E ele troca meu nome
Não sabe que a moça para quem ele ri na rampa, Inês
É a Emília da caderneta
Mas eu não te conto... e você não me reprova
Estamos combinados?
A lenda de Abaeté (Verão 2)
Em breve.
Para lembrar:
- Dorival tem um filho com a lagoa
- O filho cresce, cresce
- Toda vez que ele fala a terra treme
- Cresce tanto que não cabe mais na lagoa, foge
- Oxum sai para procura-lo
- O encontra chorando defronte ao mar
- Yemanjá comovida com a dor do rapaz o transforma em uma pedra
- Oxum, para não morrer de saudades do filho implora que Yemanjá ao menos o deixe cantar
- Yemanjá concede o pedido
- A pedra ronca em Itapoã
Para lembrar:
- Dorival tem um filho com a lagoa
- O filho cresce, cresce
- Toda vez que ele fala a terra treme
- Cresce tanto que não cabe mais na lagoa, foge
- Oxum sai para procura-lo
- O encontra chorando defronte ao mar
- Yemanjá comovida com a dor do rapaz o transforma em uma pedra
- Oxum, para não morrer de saudades do filho implora que Yemanjá ao menos o deixe cantar
- Yemanjá concede o pedido
- A pedra ronca em Itapoã
A lenda do abaeté (versão1)
"No abaeté tem uma lagoa escura."
Dorival corria nas areias alvas que faziam moldura para lagoa de Itapoã. Descia rolando nas terras brancas e caia na agua gelada, alma da chuva e dos rios , se arrepiando todo.
Olhava as lavadeiras, moças bonitas e coloridas, roupas limpas, braços fortes... se apaixonou.
Eis que um dia, correu a notícia que Maricotinha, sua pequena, tinha sido levada pela lagoa, engolida pelo redemoinho e puxada para bem fundo das águas escuras.
Desesperado Dorival correu até o terreiro e ajoelhou-se defronte Mãe Menininha implorando que lhe ajudasse a recuperar Maricotinha.
- Oxum. Peça para Oxum devolver sua amada.
No sábado, dia de Oxum, de peito liso e calça branca,capoeira, gritou alto, ressonando por toda Salvador: Erieiê ô ! Erieiê ô ! Erieiê ô !
Se jogou nas águas pretas e afundou, afundou. A Lua namorava a lagoa, deu sorte. Já no fundo, perto da areia que não se toca, nem com os pés, viu flutuando Maricotinha.
Com as flores amarelas, os espelhos e a champagne clamou para Oxum que deixasse levar de volta sua amada.
Oxum, porém, pediu algo a mais em troca.
Nove meses depois Dorival se jogou nas águas com seu primogénito no colo.
- Eis ele, Oxum. Me devolveu a amada e prometera que cuidaria do parto e o fez. É um menino bem grande e é seu.
Oxum pegou o infante no colo, sorriu e decretou.
- És homem honrado. A partir de hoje a lagoa se chama Abaeté. Toma teu filho de volta. Em troca quero que fundes uma festa, que me tragam oferendas e que leve a Bahia na voz, que será mais forte que trovão.
Dorival emocionado voltou e cumpriu todas as promessas.
*Abaeté em tupi é homem honrado.
Dorival corria nas areias alvas que faziam moldura para lagoa de Itapoã. Descia rolando nas terras brancas e caia na agua gelada, alma da chuva e dos rios , se arrepiando todo.
Olhava as lavadeiras, moças bonitas e coloridas, roupas limpas, braços fortes... se apaixonou.
Eis que um dia, correu a notícia que Maricotinha, sua pequena, tinha sido levada pela lagoa, engolida pelo redemoinho e puxada para bem fundo das águas escuras.
Desesperado Dorival correu até o terreiro e ajoelhou-se defronte Mãe Menininha implorando que lhe ajudasse a recuperar Maricotinha.
- Oxum. Peça para Oxum devolver sua amada.
No sábado, dia de Oxum, de peito liso e calça branca,capoeira, gritou alto, ressonando por toda Salvador: Erieiê ô ! Erieiê ô ! Erieiê ô !
Se jogou nas águas pretas e afundou, afundou. A Lua namorava a lagoa, deu sorte. Já no fundo, perto da areia que não se toca, nem com os pés, viu flutuando Maricotinha.
Com as flores amarelas, os espelhos e a champagne clamou para Oxum que deixasse levar de volta sua amada.
Oxum, porém, pediu algo a mais em troca.
Nove meses depois Dorival se jogou nas águas com seu primogénito no colo.
- Eis ele, Oxum. Me devolveu a amada e prometera que cuidaria do parto e o fez. É um menino bem grande e é seu.
Oxum pegou o infante no colo, sorriu e decretou.
- És homem honrado. A partir de hoje a lagoa se chama Abaeté. Toma teu filho de volta. Em troca quero que fundes uma festa, que me tragam oferendas e que leve a Bahia na voz, que será mais forte que trovão.
Dorival emocionado voltou e cumpriu todas as promessas.
*Abaeté em tupi é homem honrado.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Neutra
- Eu acho que fui neutra demais.
- Você é a medida certa...não sufoca a palavra, porém. Não sufoca o sentimento.
- Você é a medida certa...não sufoca a palavra, porém. Não sufoca o sentimento.
Respirar
Estala os dedos.
Aqui.
O agora está aqui.
Estala os dedos.
O agora está aqui, agora!
Aqui!
E sorri, rindo, de como o tempo é
Respirar
Estala os dedos.
Aqui.
O agora está aqui.
Estala os dedos.
O agora está aqui, agora!
Aqui!
O agora está sempre pronto para se vivido.
E sorri, rindo, de como o tempo é tão avesso ao que não seja agora e como, porém, brinca de picula com os estalos de dedos e palavras.
Os bebes riem 4oo vezes por dia. O que acontece na vida para aprendermos tanto, tanta coisa... e sorrirmos menos?
Eu fiquei pensando em como queria ver-la rir. Dizer que queria não era suficiente?... Havia um certo cuidado naquela interdição e eu entendia, não concordava, não gostava, mas respeitava. Não com um respeito de filha assustada... mas com um respeito de irmã que cuida. Queria tanto ver-la sorrir e brincar enquanto ela não entende... enquanto seus pés e mãos são miúdos, enquanto seu cheiro ainda é tão inocente... enquanto ela ainda se torna gente... e é agora que a gente "se" aprende, eu e ela, como sermos irmãs. Mas eu espero. Eu respeito. Eu sinto muito nos colocarem no meio disso... mas eles são os pais. E apesar de ter idade de ser mãe dela... ela tem mãe, pai, vó, e também tem irmãos, três irmãos... e isso ninguém pode mudar, ninguém pode adiar, ninguém pode...
Estalo os dedos. Sorriso que talvez coincida. Energia, eu acredito... O agora está sempre pronto...
Aqui.
O agora está aqui.
Estala os dedos.
O agora está aqui, agora!
Aqui!
O agora está sempre pronto para se vivido.
E sorri, rindo, de como o tempo é tão avesso ao que não seja agora e como, porém, brinca de picula com os estalos de dedos e palavras.
Os bebes riem 4oo vezes por dia. O que acontece na vida para aprendermos tanto, tanta coisa... e sorrirmos menos?
Eu fiquei pensando em como queria ver-la rir. Dizer que queria não era suficiente?... Havia um certo cuidado naquela interdição e eu entendia, não concordava, não gostava, mas respeitava. Não com um respeito de filha assustada... mas com um respeito de irmã que cuida. Queria tanto ver-la sorrir e brincar enquanto ela não entende... enquanto seus pés e mãos são miúdos, enquanto seu cheiro ainda é tão inocente... enquanto ela ainda se torna gente... e é agora que a gente "se" aprende, eu e ela, como sermos irmãs. Mas eu espero. Eu respeito. Eu sinto muito nos colocarem no meio disso... mas eles são os pais. E apesar de ter idade de ser mãe dela... ela tem mãe, pai, vó, e também tem irmãos, três irmãos... e isso ninguém pode mudar, ninguém pode adiar, ninguém pode...
Estalo os dedos. Sorriso que talvez coincida. Energia, eu acredito... O agora está sempre pronto...
domingo, 17 de maio de 2009
Seu avô tem gênio
Eu ri porque sabia que ele ia voltar... Saiu xingando alto e voltou:
-Mila, você tá ficando mal da cabeça! Filmar o que? Filmar o que? Para que filmar aquilo lá...Isso é até humilhar. Filmar a casa de pedra no chão. Para que? Para que? Você vai lá desde pequena... você já sabe toda a história. Eu nasci lá...naquela casa que caiu... você já sabe toda história. Tem coisa que eu lembro... quando eu era pequeno gostava muito dos animais... isso eu lembro... com dois anos ia no curral brincar com os cabritinhos, eu lembro que botava o dedo na boquinha deles e eles chupavam, disso eu lembro. E com cinco anos já tinha responsabilidade, não era brincar não... Era trabalhar mesmo. Eu alimentava as galinhas e recolhia os ovos. Meu pai tinha muito filho e muito bicho. Tinha que arrumar um jeito de alimentar tanta gente e a gente trabalhava, plantava muito... aquela coisa de viver junto da natureza. Mas você já sabe tudo, ora. Já sabe tudo. Porra (com muito sotaque) para que filmar? Você tá ficando maluca!Colhianos o feno, hera, chama era em galego (coloca o sotoque e estufa o peito)... e no inverno os animais comiam porque era neve por todos os lados, não tinha como sair... era muita neve. E eles quem aqueciam a casa, não tinha luz... aquecedor... nada... A primeira vez que sair de Portocamba... passei 9 dias em Lisboa... na pensao de uma velhinha...
Foi andando e falando, um sorriso leve no rosto...
- Ai vô... tem tanta coisa para a gente filmar!
- Como filmar Mila?! Como filmar?
- A história vô!
- E como voce vai arrumar os animais? E a neve? Historia é o que a gente faz aqui e agora! Aqui e agora, Mila! Você é toda diferente... toda diferente... Olha... seu avô tem gênio, seu avô tem gênio, viu?
Saiu bradando!
Se eu tivesse uma câmera no olho... meu documentário já estava pronto!
Meia hora depois ele volta, entra no meu quarto, reclama da bagunça, me chama para comer sopa...
- Você está ficando alopradinha... ri.
- Porque vô?
- Olha ai... você é toda diferente...
Lembrar de onde veio... meu avô tem gênio...
-Mila, você tá ficando mal da cabeça! Filmar o que? Filmar o que? Para que filmar aquilo lá...Isso é até humilhar. Filmar a casa de pedra no chão. Para que? Para que? Você vai lá desde pequena... você já sabe toda a história. Eu nasci lá...naquela casa que caiu... você já sabe toda história. Tem coisa que eu lembro... quando eu era pequeno gostava muito dos animais... isso eu lembro... com dois anos ia no curral brincar com os cabritinhos, eu lembro que botava o dedo na boquinha deles e eles chupavam, disso eu lembro. E com cinco anos já tinha responsabilidade, não era brincar não... Era trabalhar mesmo. Eu alimentava as galinhas e recolhia os ovos. Meu pai tinha muito filho e muito bicho. Tinha que arrumar um jeito de alimentar tanta gente e a gente trabalhava, plantava muito... aquela coisa de viver junto da natureza. Mas você já sabe tudo, ora. Já sabe tudo. Porra (com muito sotaque) para que filmar? Você tá ficando maluca!Colhianos o feno, hera, chama era em galego (coloca o sotoque e estufa o peito)... e no inverno os animais comiam porque era neve por todos os lados, não tinha como sair... era muita neve. E eles quem aqueciam a casa, não tinha luz... aquecedor... nada... A primeira vez que sair de Portocamba... passei 9 dias em Lisboa... na pensao de uma velhinha...
Foi andando e falando, um sorriso leve no rosto...
- Ai vô... tem tanta coisa para a gente filmar!
- Como filmar Mila?! Como filmar?
- A história vô!
- E como voce vai arrumar os animais? E a neve? Historia é o que a gente faz aqui e agora! Aqui e agora, Mila! Você é toda diferente... toda diferente... Olha... seu avô tem gênio, seu avô tem gênio, viu?
Saiu bradando!
Se eu tivesse uma câmera no olho... meu documentário já estava pronto!
Meia hora depois ele volta, entra no meu quarto, reclama da bagunça, me chama para comer sopa...
- Você está ficando alopradinha... ri.
- Porque vô?
- Olha ai... você é toda diferente...
Lembrar de onde veio... meu avô tem gênio...
sábado, 16 de maio de 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Parece tao simples
O rosto certo, talvez
Ou o prazer de degustar as palavras
As linhas,
deixar a língua lamber cada letra antes de solta-las
Parece tão lindo
Atravessar a rua
Com o refrão nos pés
com a melodia nas mãos
com a voz dela na cabeça
É tão humano
é tão sorriso
é tão impossível, quase, de se alcançar
E ela faz ser quase nada pegar uma nota e por no lugar certo
Ela faz ser além de desejo
É num sorriso que ela canta as rosas
que ela canta o mel.
O rosto certo, talvez
Ou o prazer de degustar as palavras
As linhas,
deixar a língua lamber cada letra antes de solta-las
Parece tão lindo
Atravessar a rua
Com o refrão nos pés
com a melodia nas mãos
com a voz dela na cabeça
É tão humano
é tão sorriso
é tão impossível, quase, de se alcançar
E ela faz ser quase nada pegar uma nota e por no lugar certo
Ela faz ser além de desejo
É num sorriso que ela canta as rosas
que ela canta o mel.
As crianças de hoje tem muita foto da infância.
É. Tem demais.
Será que a memória vai ficar diferente, Silvia?
Não sei... Eu gosto de poder esquecer algumas coisas.
Eu gosto que as fotos fazem a gente lembrar.Vamos ter um filho?
Tipo experiencia de pesquisa...sabe?
Sei. Acho que não... Só acredito na vida como acidente.
É. Tem demais.
Será que a memória vai ficar diferente, Silvia?
Não sei... Eu gosto de poder esquecer algumas coisas.
Eu gosto que as fotos fazem a gente lembrar.Vamos ter um filho?
Tipo experiencia de pesquisa...sabe?
Sei. Acho que não... Só acredito na vida como acidente.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Tudo a parte
Quando Joana disse que agora queria ser só minha amiga eu estranhei. Amizade de homem e mulher é coisa tão delicada. Eu não aguentaria ver a boca de Joana falando bobagens carnudas sem me atrever a aproximar as respostas. Não necessariamente beija-la, mas quem sabe ficar bem perto, a segundos de distancia, para que ela, então, sussurrasse. Amigos.
E fomos nós, descendo as ruas, sem mãos dadas. Joana não divagava como de costume, respirava ofegante, parecia ansiosa.
Você é mesmo meu amigo?
Se você quer assim Joana, como você quiser eu sou...
Não era da minha vontade essas restrições do amor branco... mas se preferes...
Então, se posso confiar em você, não posso...
Se queres... o que quer dizer?
Você me acha bonita?
Não quis mentir. Singela. Bonita de capa de revista ela não era...
A mais bonita do mundo.
Você acha mesmo?
Não. Tinha Martinha que tinha um jeito de olhar... E tinha Luzia que parecia flutuar... e tinha... Amanda com aquela bunda e Gabriela com aquelas pernas...
Acho. A mais bonita do mundo.
Eu não acredito mais em nada... em nada.
Não entendia o que estava acontecendo ali... Olhava para o céu escuro, para os olhos turvos de Joana, olhava para o céu caindo, os olhos reflexos de Joana.
Vamos juntos, Joana, um dia passa.
Deram-se as mãos. Mas ali não era seguro.
E fomos nós, descendo as ruas, sem mãos dadas. Joana não divagava como de costume, respirava ofegante, parecia ansiosa.
Você é mesmo meu amigo?
Se você quer assim Joana, como você quiser eu sou...
Não era da minha vontade essas restrições do amor branco... mas se preferes...
Então, se posso confiar em você, não posso...
Se queres... o que quer dizer?
Você me acha bonita?
Não quis mentir. Singela. Bonita de capa de revista ela não era...
A mais bonita do mundo.
Você acha mesmo?
Não. Tinha Martinha que tinha um jeito de olhar... E tinha Luzia que parecia flutuar... e tinha... Amanda com aquela bunda e Gabriela com aquelas pernas...
Acho. A mais bonita do mundo.
Eu não acredito mais em nada... em nada.
Não entendia o que estava acontecendo ali... Olhava para o céu escuro, para os olhos turvos de Joana, olhava para o céu caindo, os olhos reflexos de Joana.
Vamos juntos, Joana, um dia passa.
Deram-se as mãos. Mas ali não era seguro.
Censura
A imaginação inventa a cena
As mãos se movimentam
Nenhum movimento
A imaginação é um mistério
A mulher não pode ser proibida
Vai onde quer, quando quer
Sem sinal aparente,
sem toques
sozinha
na sua frente.
As mãos se movimentam
Nenhum movimento
A imaginação é um mistério
A mulher não pode ser proibida
Vai onde quer, quando quer
Sem sinal aparente,
sem toques
sozinha
na sua frente.
terça-feira, 12 de maio de 2009
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Eu esqueço tudo III
Divido a casa com um homem de 80 anos. Na verdade ele carinhosamente me cede um lugar no seu ninho. Passarinho determinado esse. Ninho grande. Podiam aproveitar melhor. A gente fez tanta festinha aqui... tanta coisa... Mudei de quarto. Vim para o mesmo andar que ele. Milinha, você pode ir para o quarto dos armários novos. Eu gosto do quarto onde ouço o barulho dele regando as plantas. Digo que vou me mudar e continuo no quarto de duas camas. Era o quarto de quinquilharia da minha avó. Dividimos a mesa também e desde que não tenho mais ido a faculdade a noite comemos juntos e ele sempre reclama comigo, manda comer mais, comer tudo, tudo, é a maior satisfação que ele tem, me alimentar. Mas Milinha, Salmão não é bicho, é bicho morto. Ele mesmo ri dos argumentos mas respeita que eu não coma mais bichos. Mas briga e briga feio se eu não comer sopa, aimpim, inhame, fruta pão, cuzcuz... tá amarelinha. Não esquece de nada. Absolutamente de nada. Queria saber ser dona de casa para cuidar dele. Ai, meu Deus... que castigo é ficar sem Margarete. E como vai ser em Portocamba Milinha? O que você vai comer? E você sabe cozinhar? Ai meu Deus, Ai meu Deus... Estava no sofá, seis da manhã. Ele com a mão no peito, tanta dor e só saiam grunhidos. Minha Margarete, meu amor, minha mulher. Foi a cena mais comovente que já vi, talvez. Como dói ter um pedaço seu arrancado. A gente volta para casa sem um pedaço, Mila. Disse minha avó quando voltamos do enterro de meu vô José. As lágrimas vêm fácil quando falo dos meus avós, Lua me disse. É verdade.
Eu tenho esquecido tudo, Milinha. Ai, tô ficando perereca. Tô ficando esquecido.
Pela primeira vez levei a sério. Estamos ficando íntimos de sopa...
Esquecendo o que vô?
E ele me disse envergonhado, corando, sem saber para onde olhar. Disse resumido:
- De escovar os dentes.
Me fitou, desafiando... agora acredita?
- De tomar os remédios.
Convencida?
Eu lembrei das minhas amigas que esquecem de tomar a pílula toda semana. Quase perguntei qual o horário que ele esquecia dos dentes... conheço muita gente que esquece...
Mas só ouvi. Disse para ele que acreditava. Eu sei que o senhor está envelhecendo, eu pensei em dizer e não disse.
Ele me mostrou as pernas. Acho que a trombose está voltando, filha. Eu mostrei meus joelhos ralados do futebol.
E você? Vai ser advogada mesmo?
Vou não, vô.
E por que perde tanto tempo nisso?
E eu não sei responder... tava ganhando tempo, vô, talvez.
Ele ri, me mostra todos os defeitos da casa... não esquece nenhum... a infiltração, o cupim, a pintura, a agua da piscina... Essa casa até que está muito boa. Vamos ajudar a Iza colocar o telhado? Vamos vô. Eu dei cinquenta reais de um som que eu vendi. É, eu vou ajudar ela. Ela me disse mas não pediu nada... Mas eu não esqueci.
Eu tenho esquecido tudo, Milinha. Ai, tô ficando perereca. Tô ficando esquecido.
Pela primeira vez levei a sério. Estamos ficando íntimos de sopa...
Esquecendo o que vô?
E ele me disse envergonhado, corando, sem saber para onde olhar. Disse resumido:
- De escovar os dentes.
Me fitou, desafiando... agora acredita?
- De tomar os remédios.
Convencida?
Eu lembrei das minhas amigas que esquecem de tomar a pílula toda semana. Quase perguntei qual o horário que ele esquecia dos dentes... conheço muita gente que esquece...
Mas só ouvi. Disse para ele que acreditava. Eu sei que o senhor está envelhecendo, eu pensei em dizer e não disse.
Ele me mostrou as pernas. Acho que a trombose está voltando, filha. Eu mostrei meus joelhos ralados do futebol.
E você? Vai ser advogada mesmo?
Vou não, vô.
E por que perde tanto tempo nisso?
E eu não sei responder... tava ganhando tempo, vô, talvez.
Ele ri, me mostra todos os defeitos da casa... não esquece nenhum... a infiltração, o cupim, a pintura, a agua da piscina... Essa casa até que está muito boa. Vamos ajudar a Iza colocar o telhado? Vamos vô. Eu dei cinquenta reais de um som que eu vendi. É, eu vou ajudar ela. Ela me disse mas não pediu nada... Mas eu não esqueci.
Da colheita
Chuva temporã
Cai fora de época
e alimenta o porvir
Chuva serodia
Se cai na hora certa
Dá fruto bom
São duas chuvas
para uma só colheita.
Cai fora de época
e alimenta o porvir
Chuva serodia
Se cai na hora certa
Dá fruto bom
São duas chuvas
para uma só colheita.
Lidar
Tudo que lhe der
será sincero
E saberei lhe dar
no tempo certo
Lidar com isso
eu aprendo
Como aprendo a escrever
suas palavras
e o seu tempo
na minha têmpora.
será sincero
E saberei lhe dar
no tempo certo
Lidar com isso
eu aprendo
Como aprendo a escrever
suas palavras
e o seu tempo
na minha têmpora.
Sobre navegar
Eu te navego
Você me navega
E da viagem, fazemos porto seguro.
Ventos vem, ventos passam
Ventos vem, vem sempre,
Mas é a vela, somente a vela,
quem comanda a viagem?
Navego
sem destino
sem pressa
Um dia chega,
um dia chegamos...
Navegar não é exato...
Mas é preciso.
Você me navega
E da viagem, fazemos porto seguro.
Ventos vem, ventos passam
Ventos vem, vem sempre,
Mas é a vela, somente a vela,
quem comanda a viagem?
Navego
sem destino
sem pressa
Um dia chega,
um dia chegamos...
Navegar não é exato...
Mas é preciso.
.
Já começou com um ponto final.
Depois escreveu as palavras e apagou.
Tentou ser reticente.
Tentou achar uma vírgula.
Mas já começou como um ponto final.
Vira minha página, me vira do avesso da palavra,
faz de mim uma letra, uma sopa, um joguinho
E vai, no mesmo ponto, no mesmo barco
No mesmo encanto em que partiu.
E não deixou a minha parte...
Só o ponto de quem me parte.
Depois escreveu as palavras e apagou.
Tentou ser reticente.
Tentou achar uma vírgula.
Mas já começou como um ponto final.
Vira minha página, me vira do avesso da palavra,
faz de mim uma letra, uma sopa, um joguinho
E vai, no mesmo ponto, no mesmo barco
No mesmo encanto em que partiu.
E não deixou a minha parte...
Só o ponto de quem me parte.
Ao vento
Algumas coisas obrigatoriamente deveriam voltar.
Não é só palavra ao vento...
A flecha lançada....
A ofensa proferida...
Tudo que não volta...
e o que dá certeza
e o que sustenta
onde está o que quer voltar?
Não é só palavra ao vento...
A flecha lançada....
A ofensa proferida...
Tudo que não volta...
e o que dá certeza
e o que sustenta
onde está o que quer voltar?
Maravilha
Se ele é meu pai, você é minha irmã branca, preta.
Ele me acenava, rindo aquele riso solto e me pedindo vinte conto.
Sabe como é, Maravilha, a conta de luz tá um estouro, te pago no fim do mês. É que seu pai tá viajando à séculos... Po**a, opa, desculpe, pelo amor de Deus me desculpe, mas a gente nem tem mais com quem contar... Vinte conto!
Meu filho foi baleado, irmã. Vim te contar, sei lá, deu na telha te contar. Tava vendo o baba, na praia, atiraram nele irmã. Vim te contar... tô meio sem chão, sabe? E você sempre fala com a gente, não tem besteira. Ora, Maravilha, vocês que sempre falam comigo, não tem besteira... Ele me acenava de longe. E seu filho? Já tá andando! Valeu por perguntar, preta! Na força!
Irmã, tô pele e osso. Tô doente. Tô doente, irmã. Eles querem me matar, irmã. Eu não sei o que fazer irmã. Ou arrumo seiscentos contos ou eu morro irmã. A Boca é quente. Meus filhos já não tão em casa. Não passa nada, não sobra ninguém. Tô tremendo. Tem um dia que não uso, tem um dia, eu vou me internar, eu juro que vou. Arrumaram uma clínica de crente para mim. Eu vicio em Deus mas largo o crack, te prometo. Vim contar porque não sei mais a quem falar. São quase quinze anos, quase quinze anos... eu confio em vocês. Pele e osso, barriga para dentro. Abaixa essa blusa Maravilha. Acalma, rapaz. Acalma.
A vida é real. A vida as vezes é muito ruim.
Mas vai ficar bem Maravilha, vai ficar na força.
Ele me acenava, rindo aquele riso solto e me pedindo vinte conto.
Sabe como é, Maravilha, a conta de luz tá um estouro, te pago no fim do mês. É que seu pai tá viajando à séculos... Po**a, opa, desculpe, pelo amor de Deus me desculpe, mas a gente nem tem mais com quem contar... Vinte conto!
Meu filho foi baleado, irmã. Vim te contar, sei lá, deu na telha te contar. Tava vendo o baba, na praia, atiraram nele irmã. Vim te contar... tô meio sem chão, sabe? E você sempre fala com a gente, não tem besteira. Ora, Maravilha, vocês que sempre falam comigo, não tem besteira... Ele me acenava de longe. E seu filho? Já tá andando! Valeu por perguntar, preta! Na força!
Irmã, tô pele e osso. Tô doente. Tô doente, irmã. Eles querem me matar, irmã. Eu não sei o que fazer irmã. Ou arrumo seiscentos contos ou eu morro irmã. A Boca é quente. Meus filhos já não tão em casa. Não passa nada, não sobra ninguém. Tô tremendo. Tem um dia que não uso, tem um dia, eu vou me internar, eu juro que vou. Arrumaram uma clínica de crente para mim. Eu vicio em Deus mas largo o crack, te prometo. Vim contar porque não sei mais a quem falar. São quase quinze anos, quase quinze anos... eu confio em vocês. Pele e osso, barriga para dentro. Abaixa essa blusa Maravilha. Acalma, rapaz. Acalma.
A vida é real. A vida as vezes é muito ruim.
Mas vai ficar bem Maravilha, vai ficar na força.
Assinar:
Postagens (Atom)