quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O rio corre
Chega no mar
Peixe de água salgada
não entra
Peixe de água doce não sai
O rio e o mar se misturam
E quem vive no meio?
Quem vai cantar agora?
Quem vai ninar nenem?
Quem vai ser muito grande
para ver sempre além?
Quem vai virar coberta
Proteger do monstro mal?
Quem deixar a fresta
da porta entreaberta...
Quem vai empacotar
o sonho bom?
Quem vai ser o herói?
Quem vai soprar a dor?
Quem vai ser o abraço
E a palavra que faltou?
Quem? Quem vai?
Bi bi biri bi bi
Fom fom forom fom fom
E lá vai na rua
E lá vai a sua
Ela vai toda nua
E lá vai o bloco
E já perde o foco
E só fica o vão
Desse passo grande
Dessa vida curta
Dessa história louca
Do samba canção
E lá vai o dom
Vai na esquina escura
Entregar as pernas
Para a carne dura
Ai, ai, aiiii
Ahhh... Lá vem a chuva
Gota molhada
No fim da tarde
O pote de ouro
E lá vaiiii
E morreu o touro
Lá vai o mouro
Ladrão de ruiva
Lá vem a loira
Caçando em vão
O seu violeiro
E o cancioneiro
No fim do mundo
Perde a canção
Ah lá vai
Bi bi biri bi bi
Bom bom borom bom bom
Fi firi fifi
From from frommmmmmmm
Where are you from?
depois de quase oitenta anos de sabedoria, se perde o conselho. Ele encara a cara parecida e pede arreigo. O outro molha de lágrimas o travesseiro. Pula da janela. Que dá no chão bem próximo. Não quebra a perna. Duro é não ter mais coração. E quanto vale? O dinheiro não tem preço... mas nele tudo cabe? E sua imensa cabeleira? Sadia é um nó.
De carne e osso. Vieram formigas buscar o doce. Pupilas inteiras, quase engraçadas. E veio o vento buscar a fada. De cor de cera, de lápis duro. Rolando imenso no papel branco. Doce, doce, doce. Chega enjoa. Come, come, come. Sua carne dura dilacera com os dentes. Moles. Caem todos no chão. Vem a fada do porão. Vem o barco do mar. Para que pensar?
Fez de conta.
E no fim?
Tudo feliz!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Pois é.
Hoje talvez eu chore.
Sossegue menina. Nem mais um piu.
Pois é.
Hoje talvez desague, quem sabe limpa.
Sossegue menina que isso passa.
Pois é.
Hoje talvez eu diga
o que fere essa garganta mal-dita
Sossegue menina
a vida é de surpresa
Pois é.
Hoje talvez...
Talvez amanhã
Um dia quem sabe
Eu perco o controle.
Pois é.


Hoje talvez eu chore.


Sossegue menina. Nem mais um piu.


Pois é.


Hoje talvez desague, quem sabe limpa.


Sossegue menina que isso passa.


Pois é.


Hoje talvez eu diga


o que fere essa garganta mal-dita


Sossegue menina


a vida é de surpresa


Pois é.


Hoje talvez...


Talvez amanhã


Um dia quem sabe


Eu perco o controle.
Pequenas jabuticabas saltando do contorno para olhos da máscara. Era uma criança. Havia de ser. Não sei como era. Mas nunca vi olhinhos tão vivos. Brilhavam.

- Mãe, isso é que é carnaval!
Seu nome derrete na boca e vira sorriso
é sem nome o que eu sinto

Recife - Três meninas

Três meninas em cima.
Três meninas em baixo.
Ao todo são seis.
Quase da mesma idade.
Quase parecidas.
Uma, em cima ,na calçada, dança.
Uma, em baixo,no asfalto, dança.
Para cada criança de cima
um adulto segurando o braço
Para cada criança de baixo
a responsabilidade de cuidar do isopor.
Mas são seis meninas tão lindas...
Duas com sono em cima
Duas bem sérias em baixo
Mas as outras duas dançam...
Dançam o frevo, inventam o passo
Sorri desengonçada a de cima,
enquanto a de baixo desmancha o asfalto...
e quando me vêem olhando ficam tímidas
depois exibidas
Ai, essas crianças...
quase parecidas
será que um dia se encontram?
Um dia se cruzam?
Um dia quem sabe...
mas de igual para igual
não só vendendo lata e dançando frevo
no Carnaval...
Espere.
1,2,3,4,5
Espere.
1,2,3,4,5
Espere.
1,2,3,4,5

Foi um furacão, foi?
Ficou tudo no chão, foi?
Ah... levanta daí, vai
Ah... para de fingir tanta calma
Deixa cair
deixa levar...
deixa ser o que o tempo não espera.
Tocar o improvável com a ponta dos dedos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

sibilado

valCarinho debaixo do queixo o faz miar
Miando, ele diz a dona que quer amor
Amando, ela responde que vai passar
Ronronando ele avisa que vai viver!
Erupção de silêncios.
O corpo absurdo, responde.
Tem um reloginho ai dentro, é isso?

E quando acelera lá fora?

As horas passam lentas mas parece que é em bloco.

De repente anoitece e amanha ainda é longe.

Minha coluna vira corda jogada de navio.

Mas em algum lugar minha mente repousa.

Habbeas corpus

Daqui para ali
de ali para acolá
pelo papel imenso
corre a caneta rápida e
em cada linha livre que escrevo
peticiono o seu direito de poder até andar...
daqui para acolá são longas linhas.

Mutação constitucional

. O Direito, ninguém se iluda, vive no tempo, de mãos dadas com o tempo. Dança e rodopia com o tempo. Talvez seja até um romance...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A condição de mulher não se entrega.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A cidade é grande e o coraçao é pequeno.
Um mundo no meio.
Tece a teia da aranha, menina.
Tece a teia da aranha, menina.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Descansam entre duas páginas em francês
Quando um dia eu souber todas essas palavras...
Em cima, fazendo peso para que elas sequem
um livro de direito penal bem gordo
E ainda mais em cima,
para que elas não queiram fugir (duvido que queiram entre tantas palavras bonitas)
um livro sobre os Beatles, maior do mundo, para não faltar assunto
Era uma vez, outro dia,
uma rosa que morou nesse mesmo lugar.
Para onde ela olha com olhos tão tristes?
O macarrão ficou fora do ponto?
Mas todo mundo está com a barriga tão cheia
e aquela cara de sono depois da janta...
Ela quase não tocou na comida
Não gosto muito de comer quando cozinho...
Será que é para não saber o quanto é boa
Não está salgada a comida
Será que quis chorar mas teve medo de estragar o tempero
Para onde olha tão triste e de barriga vazia
Porque tira os pratos com um movimento tão distante
E porque afasta o bolo assim tão de repente
Porque não quebra os copos e vira a mesa?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Só sobre alegria

Eram miudinhas aquelas flores vermelhas
Mas faziam um bouquet enorme
(em mimiatura).
E se as olhasse bem de perto
descobria que cada florzinha tinha história:
Da formiga fugitiva pelas pétalas
Até da gota de água hesitante fazendo-lhe cócegas.
Verde, vermelho, cada haste subia tranquila
Pareciam um catavento!
A namorada, ainda boba e de pijama
ao pensar em brincar com seu bonito presente
Sorriu pensativa...
Bem me quer, bem me quer
E que as flores durmam inteiras!
Se as palavras tivessem gosto gritaria: NUVEM! Até que o gosto de algodão doce dissolvesse no céu da boca e molhasse a minha lingua... ai eu diria seu nome.
é engraçado poder falar de tudo no meio do dia.
mas não riu. só coca-cola faz cosquinhas no céu da boca.

Maus poemas

Os poemas sairam de casa com o endereço errado
Bateram na porta da realeza
que rasgou cada verso, papel de seda
E copiou o desenho do sorriso que remetia
Ateando fogo a qualquer resposta
Os versos eram para outro
Eram para os que passavam discretos as três da tarde
Mas mudaram o rumo e foram dormir as seis
Assim que decidiram ter cinco filhos
um deles chines.
Os outros que fossem do destino.
A) prenda-me

Mais um espanto que vem de sangue, vermelho e branco, que rosa hostil.
E vai levando a encomenda, vi (ver) morrendo não é escolha.
De um em um passaram-se anos, de mão em mão, aceno, adeus.
26 jardins, todos plantados de súbito, mas daqueles que vieram só um não tinha nome.
Que olhos eram aqueles do desconhecido? Não me parecia engano, era uma dor de conhecer.
A) prenda-me





Mais um espanto que vem de sangue, vermelho e branco, que rosa hostil.


E vai levando a encomenda, (vi) (ver) morrendo não é escolha.


De um em um passaram-se anos, de mão em mão, aceno, adeus.


26 jardins, todos plantados de súbito e daqueles que vieram só um não tinha nome.


Mas que olhos eram aqueles? Não me parecia engano, era uma dor de conhecer.
O meu nome sou eu. E é asssim que me apresento.Ontem de manhãzinha quando acordei achei que não existia e flutuei. Sensação doce, mas sempre algum intruso vem e lembra : Olha, você existe. Acordo sem jeito, saindo de sonho, caindo no dia. Olho por olho amanheco, bocejo o recuperar do cançaso, mais um último esticar de descanço. Acordar... Dormir é mais quieto.
Múltiplos

O meu nome sou eu?

Quando acordei não vi passar o furacão, só a tv ligada em uma notícia antiga.
Foi um passarinho que me trouxe no bico um ovo de avestruz e me contou, assim em um pio, que o o dia seria longo, talvez o maior dia que já amanheceu no calendário de dias.
Como o tempo é um limite, peguei uma tesoura e cortei a fita promiscua que separava a minha necessidade de correr da minha obrigação de ficar. E o movimento se multiplicou em dois e em um ir-voltar corri horas duplas, que também freei.

Carta

Querida,

As cerejas aqui estão doces. Estou saindo muito para passear. A vida na vila continua como você a conheceu, aquela calmaria... de manhã cedo é ainda escuro, depois vem aquela névoa que embranquece todo o horizonte e esconde o topo da montanha, bem na frente da janela da sala de jantar. Aquela onde eu escondia os chocolates e jogávamos brisca a noite.
E a noite só vem bem tarde, continua, quase quando já temos sono, bem na hora de tomar uma sopa, jogar baralho e deitar para dormir. Nos domingos tem a missa, o padre ainda coloca todas as crianças no altar para distrai-las, a missa continua breve, a igreja de pedra fria. No final levo umas flores para sua . Sinto saudades da rede na varanda, do calor e das conversas, do mais aqui me basta. Devo admitir que preparar-me para uma vida assim não estava nos meus planos, mas como você bem sabe sou homem de coragem e tudo que quero é organizar as coisas muito bem antes de ir e aqui me parece um bom lugar para amenizar despedidas.
Semana passada, porém, aconteceu algo que me deixou meio perplexo. E te conto por que sei que você é a única que entenderia. Chegou um forasteiro, seguindo o caminho de Santiago de Compostela . Eu estava no cruzeiro, era de tardezinha e eu tinha ido de bicicleta, tentando passar o tempo. Até ri lembrando que quando vínhamos passear, quando você era bem pequena, ficava imaginando encontrar um urso filhotinho para levar para casa... e eu sempre te pegava no colo, te punha de cabeça para baixo e falava que era mais fácil achar um javali! Você saia correndo, rindo... mas ficava sempre perto dos nossos olhos com medo do javali aparecer! Funcionou por algum tempo, lembra?! Até você decidir que medo não existia. Já tem tantos anos isso! Uns 15? 16? Mas voltando ao assunto, para não me alongar muito nessa carta. Apareceu um forasteiro na vila e o encontrei lá no cruzeiro. Ele tinha uma aparência suja, embora de olhar muito carinhoso. Já estava perto de anoitecer e me perguntou se havia algum lugar onde podia se hospedar antes da noite cair. Eu não ri, porque não riu para estranhos, mas disse que podia dormir no palheiro, que era o lugar mais confortável que encontraria naquelas redondezas. Ele não entendeu que estava brincando e aceitou minha sugestão. Descemos juntos a rua de pedra, ele voltando o caminho que tinha avançado e eu empurrando a bicicleta. Não trocamos uma só palavra, mas ele ganhou minha simpatia. Já não sabia mais para onde leva-lo, já não existem palheiros aqui como antigamente. Então o trouxe para casa. E é isso, querida, que preciso contar-te, o forasteiro ficou. Já tem dois dias que vem dormir. Passa a tarde inteira no rio gelado e volta quando escurece trazendo as garrafas cheias de agua da fonte, cerejas, que como disse, estão muito doces e sempre uma nova história. Me perguntou se podia ficar uns dias, que estava cansado, que me pagava bem... e eu não pude negar... aceitei.... não sei, mas acho que por detrás daquela barba suja... é seu tio.
Não conte para os outros... as vezes o coração quer acreditar. Sei que não passo perigo, então fique tranquila e mande beijos para os seus e para os meus também.
Poucas notas


Nas mãos cabem linhas
Onde prevêem toda a vida
Contada e inventada
Riscada e profunda.
Com as mãos nascem gestos
Onde cabem sentimentos
Acenos, símbolos
Saudosos.

Gotas

Querer o meu querer


Querer querer


Mas sem desejo


Saber o que querer


Saber querer


Mas sem desejo




E ela chove


A menina da chuva


E ela molha


A menina na chuva


E ela chora


A menina é a chuva




O certo, perto


O futuro é seu


O longe, incerto


O futuro é de Deus




E ela chove


A menina da chuva


E se dissolve


A menina é a chuva


E ela passa


A menina na chuva




O olhar distante...


O destino é a chuva.

Gotas

Querer o meu querer
Querer querer
Mas sem desejo
Saber o que querer
Saber querer
Mas sem desejo

E ela chove
A menina da chuva
E ela molha
A menina na chuva
E ela chora
A menina é a chuva

O certo, perto
O futuro é seu
O longe, incerto
O futuro é de Deus

E ela chove
A menina da chuva
E se dissolve
A menina é a chuva
E ela passa
A menina na chuva

O olhar distante...
O destino é a chuva.
Só mora mainha e eu.


Soraia tinha alguma coisa que me lembrava alguém que eu não lembrava quem era.Ela não esperou eu pedir que sentasse... puxou a cadeira. Arrumada, de maquiagem, cabelos presos, parecia mais bonita do que na foto. Menos pálida, talvez.

-Bem... isso aqui é mais uma conversa do que uma entrevista. Fala um pouquinho de você.
- Meu nome é Soraia, mas mainha queria que fosse Sereia. Mas ai não podia, sabe...
Olhei desacreditada.
- Pois então, meu nome é Soraia, sabe? Mas podia ter sido Sereia... e talvez não tivesse mudado muita coisa... talvez tivesse....
Pisquei.
- E se tivesse mudado talvez eu tivesse uma estrela menos miserável, sabe? Talvez fosse uma estrela do mar e tivesse mais perto das minhas mãos... até podia virar enfeite.
Só mora mainha e eu.





Soraia tinha alguma coisa que me lembrava alguém que eu não lembrava quem era.Ela não esperou eu pedir que sentasse... puxou a cadeira. Arrumada, de maquiagem, cabelos presos, parecia mais bonita do que na foto. Menos pálida, talvez.




-Bem... isso aqui é mais uma conversa do que uma entrevista. Fala um pouquinho de você.


- Meu nome é Soraia, mas mainha queria que fosse Sereia. Mas ai não podia, sabe...


Olhei desacreditada.


- Pois então, meu nome é Soraia, sabe? Mas podia ter sido Sereia... e talvez não tivesse mudado muita coisa... talvez tivesse....


Pisquei.


- E se tivesse mudado talvez eu tivesse uma estrela menos miserável, sabe? Talvez fosse uma estrela do mar e tivesse mais perto das minhas mãos... até podia virar enfeite.

Eu esqueço tudo

Conheci uma garota que era do Barbalho... uma garota do barulho..."


Conheci o Barbalho. Só conhecia o Barbalho de música, não exatamente o Barbalho, mas a garota do Barbalho e mais ainda seu namorado. Mas não, agora era o Barbalho mesmo que me acolhia e eu chegava tímida.O Barbalho é tão calmo. Parece interior. Tem casinhas, tem muro baixo, tem árvore. Ao menos esse era o Barbalho que eu senti ao chegar na porta da escolinha. O chão de paralelepipedos, o som dos passarinhos, algumas crianças bem pequenas brincando na rua, sozinhas, olhos adultos bem de longe. Fazia sol... meu Barbalho é ensolarado.
Sentei no fundo da sala e sem muito êxito tentei passar desapercebida. Mas não deu. A professora me apresentou e os meninos ficaram me olhando, até que uma gordinha de tranças no cabelo e que não parava de sorrir, quebrou o silêncio:- Do sítio do pica pau amarelo??!!!Ufa! Tornou-se mais fácil estar ali sem intimida-los e sem ficar intimidada por eles.Sorri para ela e uma vez ou outra me chegavam sorrisos e olhares estranhados... até que se acustumaram com minha presença. Uma menina da outra turma, mais velha, perguntou pra professora se eu seria sua professora no ano que vem. Sorri, explicando que não era professora. E ela me indagou o que eu estava fazendo ali então... Aprendendo! Com a professora? Não... com vocês. Ela riu e na hora de ir embora me disse: Tchau aluna!
Turma de alfabetização. Seis, sete anos. Fui conhecer João, seis anos. Sujeito da minha pesquisa para um trabalho de psicologia do desenvolvimento.Garoto simpático. Solto. De gestos amplos, criança mesmo, que gosta de jogar bola, brincar de pega-pega e esconde-esconde e de fazer dever de casa. A mãe dizia que era preguiçoso, que não gostava de estudar. A professora dizia que não tinha muito apoio em casa pros estudos, que era um pouco preguiçoso na aula também. Ele me disse que a coisa que mais gostava de fazer era dever de casa, que gostava de brincar também, "mas menos". Só que dos 10 deveres, fazia... uns quatro!"É que eu esqueço tudo". Tudo o que João?? Lia bem, se atrapalhava sempre com o A em nomes próprios... justo... parecia mesmo um C! Menino esperto, líder nas brincadeiras, bom de bola... comia o lanche dos colegas, sempre as meninas ofereciam biscoito recheado... ai ele deixava o lanche de casa pra depois!
Veio o intervalo e fui surpreendida por João, curioso, olhando pra mim.Eu ainda não ia entrevista-lo e não o fiz... mas conversamos.

- Advogado de tropa de elite? É?
-É. Eu vi o filme com meu pai! Quero ser advogado de tropa de elite.
-Hmm... e como é advogado de tropa de elite, o que que ele faz?
-Ele tem uma bazuca e mata as pessoas!
-E você que matar as pessoas com uma bazuca?
-Ah. É bom porque tem dinheiro!
-Ah... quer dizer que é bom porque tem dinheiro... mas será que não é ruim matar alguém não?
-Não sei!
- E advogado só? Não precisa de bazuca, nem matar ninguém.
-Ahhhh... sei lá.
Conversamos mais um tanto de coisa... Essa semana fui entrevista-lo. O Barbalho ensolarado.

-E então João... O que você quer serquando crescer mesmo?
- Não quero ser advogado de tropa de elite mais não.
-É? Porque?
-Quero lutar judô e ganhar um monte de medalhas.

Sai do Barbalho, questões... e me perdi tentando voltar pra casa. Quando foram mesmo as Olimpiadas? Segunda estarei lá de novo... e o que João vai ser quando crescer?
Sua boca de dentes morde minha imaginação mas nem sente. No copo cabe pouco. Transborda, muito café pra mim. Me bebe. Não come, só. Me entregue solidão, mas não me queira. Balança caminho que não chega. Balança tempo que é dono sem ter.
Rema
na maré crescente
de uma lua ausente
mas sobram estrelas
Afunda
Em um mar tão fundo
Onde começa o mundo
e termina o tempo
Sem horinzante,
balançam
o mar e as certezas
Rema


na maré crescente


de uma lua ausente


mas sobram estrelas


Afunda


Em um mar tão fundo


Onde começa o mundo


e termina o tempo


Sem horinzante,


balançam


o mar e as certezas

Leitura labial

Lentamente se movem
Bailarinas doces
Lentamente se formam
Espetaculos leves
Em movimentos,
a descobertada beleza e da dor
E sem restrições....
O baile começa
Minha avó

Os olhos de Margarete eram sempre mareados.
É que de tão azuis, pareciam inundados.
Mas há quem diga que era vida.
Há quem diga que era o mar e o céu que deles transbordavam.
Aquela menina tem um jeito de se mover que é sutil.
É leve ao mesmo tempo que marca.
Chega na cintura e dá uma volta.
Desconcerta esses machos cheirando cio.
Aquela menina tem uma cor e um olhar desses que chegam,
que encaram e pedem ser ter vergonha.
Dizem no fundo que essa é a graça.
Sente a música de um jeito sacana.
A verdade é que sabe que quando dança...
Envolva-me na sutileza dessas pernas e(fême)r(as)
Nega o verbo.
Nega a carne.
É como sentir saudade antes do tempo.
E lá se tem tempo para saudade?
E tem validade essa senhora?
E se eu passasse a vida inteira na sua saia...
Tu gritava: Saias!
E multiplicava minha presença?!
Existe tempo de saudade?
A saudade chegou assim que você fechou a porta
E a gente dançou
Como eu e você a um segundo de ir.