domingo, 19 de abril de 2009

O quarto dos fundos, da parte de cima da casa. Há tanto fechado. Cheiro de solvente. Porque ela gostava tanto de pintar ali se tinha uma varanda enorme inteira e mais outra, proa de navio para ver estrelas...
É como se sua parte sincera, aquela que misturava a tinta e fazia cores, aquela que queria simplesmente despejar, bonita ou feia, deixar fluir, parir os sentimentos todos em borrões... Aquela que não se preocupava com os sermãos, com o dizer repreensivo dos olhos... Aquela que era ela, talvez... Só existia naquele quarto pequeno, escuro, empoeirado... Assim para nossos olhos. Não para os dela. Via naquele quartinho talvez o seu porão, a sua possibilidade... talvez não conseguisse expandir demais. Talvez para transbordar tinha que se sentir contida. Tinha que se sentir ?
Porque voce não vai para a varanda? Está tossindo tanto. Esse lugar é abafado. Muda para o quarto com janelas, então.
Nunca parou de pintar. Só não era muito boa quando retocavam seus quadros ou quando tentava repetir modelos. Quando se deixava produzia arte. Para cada um de seu sangue, como se prevesse, deixou uma tela antes de fechar o quarto.

Acho a chave. Penso sinceramente em entrar e lembrar como é pintar. Mas a minha alma é de varandas...

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