terça-feira, 31 de março de 2009

Oitavo andar

Salvador está quente. Novidade. Salvador é quente. Mas eu vi no jornal, a moça bonita do tempo dizendo que esse mês só choveu dezesete por cento do previsto.
Dezesete por cento do previsto.
Chamo o elevador. Demora.
Divago. O elevador é um cubículo sustentado por cabos e que sobe alto, alto, bem alto. Tem limite de peso e tem que fazer revisão. As vezes sonho com o elevador da Disney e acordo dando risada. Félix brincava comigo porque eu sempre saia rindo nas fotos de montanha russa. Nunca mais andei de montanha russa. Fui na Rússia e lá não vi nenhuma montanha russa. Muitas russas com curvas. Que nem o Rio de Janeiro, as montanhas e as mulatas? Nem tanto. Curvas frias. Deslizar como um bronzeador, deslizar como verglas... Agora tive a brilhante idéia de adicionar minhas fotos sorridentes ao currículo de guia da Disney. Coloquei meu currículo para ser guia na Disney. Mas acho que a crise vai abalar o mercado de pacotes de turismo e a possibilidade de me chamarem é pequena. Desde que comecei no trabalho novo não fui nas reuniões. Talvez um grande sorriso em uma montanha russa fosse um forte argumento de convencimento. Talvez não. Quando eu tinha quatorze anos...
O elevador enfim chega e o dia começa a brincar de "surrealidade". Adoro quando isso acontece.
Pois bem... o elevador é um cubículo com limite de peso. Afastado oito andares do chão e seguro por cabos. Quantas de mim são necessárias se subirmos uma no ombro da outra para alcançar o oitavo andar? Muitas suponho. A torre eiffel é equivalente a 190 e meia "Emílias". Uau. No Brasil é crime clonar. Minha professora acha um absurdo. Crime impossível, ela diz. Para que prever??! Ela não acredita em ficção, suponho. Meu outro professor quer um celular com modulador de hábitos para que não toque no meio da aula. Conheço quem pode fazer isso. O professor diz que vai patentear a idéia e antes que o faça eu sugiro que coloque no silencioso.
O elevador chega e abro a porta em um susto. Está quase todo tomado por um homem imenso, gordo, de bermudas e blusa, de tenis e cheio de livros na mão.
Eu entro, tentando desviar da sua barriga, que, sem exagero, alcançava a porta. Aperto o "G"'.
O elevador dá aquele tranquinho e eu penso : Merda... E se ficar preso? Como eu vou respirar? Imagino que o homem imenso, que agora descubro que é professor de inglês, que morava em Nova Iorque mas que ama Salvador e que não é obeso mórbido... só inacreditavelmente gordo... imagino se ele tem medo de elevador. Toco uma música de elevador na cabeça e puxo qualquer assunto. O elevador não para. Ufa. Ele pergunta onde eu aprendi inglês. Eu digo, Nossa... voce sabia que só choveu dezesete por cento do previsto esse mês? Conversa de elevador. Ele me deseja boa sorte com a Disney e o elevador nunca passa do chão.

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