sexta-feira, 8 de maio de 2009

Maravilha

Se ele é meu pai, você é minha irmã branca, preta.
Ele me acenava, rindo aquele riso solto e me pedindo vinte conto.
Sabe como é, Maravilha, a conta de luz tá um estouro, te pago no fim do mês. É que seu pai tá viajando à séculos... Po**a, opa, desculpe, pelo amor de Deus me desculpe, mas a gente nem tem mais com quem contar... Vinte conto!
Meu filho foi baleado, irmã. Vim te contar, sei lá, deu na telha te contar. Tava vendo o baba, na praia, atiraram nele irmã. Vim te contar... meio sem chão, sabe? E você sempre fala com a gente, não tem besteira. Ora, Maravilha, vocês que sempre falam comigo, não tem besteira... Ele me acenava de longe. E seu filho? Já tá andando! Valeu por perguntar, preta! Na força!
Irmã, pele e osso. doente. doente, irmã. Eles querem me matar, irmã. Eu não sei o que fazer irmã. Ou arrumo seiscentos contos ou eu morro irmã. A Boca é quente. Meus filhos já não tão em casa. Não passa nada, não sobra ninguém. tremendo. Tem um dia que não uso, tem um dia, eu vou me internar, eu juro que vou. Arrumaram uma clínica de crente para mim. Eu vicio em Deus mas largo o crack, te prometo. Vim contar porque não sei mais a quem falar. São quase quinze anos, quase quinze anos... eu confio em vocês. Pele e osso, barriga para dentro. Abaixa essa blusa Maravilha. Acalma, rapaz. Acalma.

A vida é real. A vida as vezes é muito ruim.
Mas vai ficar bem Maravilha, vai ficar na força.

2 comentários: